cap (1) -2

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As partes íntimas também ficaram enormes; ela adorou a idéia! Se entregava a nós, como seria


de esperar, mas gostava mesmo era de transar com ele.


Ah, Ellen, a mulher que colocávamos num pedestal, a pura e imaculada Ellen; ah,


Ellen, a impoluta! Rebotalho nojento.


Gorrister esbofeteou-a. Caiu bruscamente no chão, erguendo logo os olhos para o


pobre Benny enlouquecido, e desatou a chorar. Era a sua grande arma de defesa. Já


estávamos acostumados, há setenta e cinco anos, com aquilo. Gorrister deu-lhe um


pontapé no lombo.


Foi então que se ouviu o ruído. Primeiro de leve. Metade som e metade luz,


qualquer coisa começou a brilhar nos olhos de Benny e a pulsar, cada vez mais forte, com


sonoridade imperceptível que foi se tornando ensurdecedora e ofuscante à medida que a


luz/som acelerava o ritmo. A dor devia ser muito grande e intensificada pelo aumento da


claridade e pelo volume crescente do ruído, pois Benny se pôs a uivar feito bicho. A


princípio baixinho, com a luz ainda fraca e o ruído abafado, depois mais alto, à proporção


que encolhia os ombros: arqueou as costas, como se quisesse se livrar de tudo aquilo.


Cruzou as mãos no peito, igual a um esquilo. Entortou a cabeça de lado. O focinho triste


de macaco se contorceu de angústia. De repente, quando o ruído que lhe saía pelos olhos


ficou mais forte, começou a gritar. Aos berros, sem parar. Tapei as orelhas com as mãos,


mas não adiantou, pois continuava escutando. A dor que ele sentia me provocava arrepios


semelhantes aos de uma folha de estanho rangendo nos dentes.


E Benny se pôs repentinamente de pé, na beira da saliência, com um movimento


tão brusco que parecia ter virado fantoche. Os olhos agora lançavam dois grandes raios


luminosos. O som crescia de intensidade, cada vez mais, numa escala inacreditável. Por fim


caiu de ponta-cabeça, indo bater com estrondo no piso metálico. Sacudiu o corpo todo em


contrações espasmódicas, enquanto os raios luminosos giravam em torno, sem parar, e o


barulho aumentava, em verdadeira espiral sonora, até ultrapassar o limite normal de


audição.


Depois a luz foi enfraquecendo aos poucos, retraindo-se para o recesso do crânio, o


som diminuiu e Benny continuou ali deitado, chorando de maneira confrangedora.


Os olhos lembravam dois nacos de geléia flácida e úmida, parecida com pus. AM


tinha deixado ele cego. Gorrister, Nimdok e eu... nos viramos para outro lado. Mas não


sem antes ver a expressão de alívio no rosto apaixonado, preocupado, de Ellen.

eu não tenho boca e preciso gritar Onde histórias criam vida. Descubra agora