Pain

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26 de janeiro, 2023

Aziraphale decidiu ir falar com Crowley, eles precisariam ter alguma comunicação antes de contracenarem juntos. O procurou por todo o teatro mas não o achou, talvez ele não estivesse por lá ainda. Então o loiro somente se sentou em um canto qualquer e quando abriu a mochila, seu estômago roncou, estava doze horas sem comer. Pegou um pacote de biscoito que estava esquecido ali e abriu. O observou por alguns minutos, respirou fundo e finalmente abriu o pacote, comeu um dos biscoitos mastigando calmamente .

Aquela cena o lembrou de seu tempo de adolescência, onde ficava em um canto do colégio sozinho esperando por algum milagre alguém falar com ele, lembrou-se de como reclamavam de seu peso e sentiu lágrimas desejando escorrer de seus olhos. Ele odiava seu corpo mais do que tudo e faria de tudo para ser diferente mas parecia que quanto mais tentasse o mudar, pior ficava. 

Se lembrou do quão comportado era, remoendo a culpa de nunca ter feito alguma besteira. Desejava voltar no tempo para talvez responder os valentões, beijar a pessoa que gostava, mentir, sair escondido e queria ter a oportunidade de ser impuro pelo menos uma vez na vida. O garoto nunca havia experimentado uma droga, nem uma bebida e sexo era algo que nunca chegou nem perto de ser cometido. 

Todos o chamam de anjo, de puro, mas isso o incomoda porque ele gostaria de ser o garoto um garoto com as maldades da vida e não um homem ingênuo. Queria fazer coisas de adolescente, queria ser vulgar, queria beber até seu fígado doer e queria cometer erros como todos faziam, como Crowley fazia. Oh Crowley, o garoto perfeito em sua visão, ele tinha um corpo perfeito, uma atuação perfeita e acima de tudo tinha feito muitas frivolidades em sua vida. Diferente dele que era sem graça e era tão organizado que se irritava consigo mesmo. 

Os biscoitos que estavam em seu estômago começaram a querer voltar quando o loiro começou a pensar demais, então suspirou fundo, bebeu água e tentou dissipar os pensamentos de sua cabeça, o que era quase impossível. Sentia que os anos de sua vida haviam sido perdidos e se sentia morto por dentro. 

Quando começou a suar frio, olhou para cima e viu uma figura conhecida passando por lá, então se levantou rapidamente e correu atrás do ruivo, que andava muito mais rápido que ele.

— Crowley!— O chamou, com a mão estendida 

— Hm?— Se virou, com os braços cruzados.

O ruivo não estava em um dia bom e não estava afim de falar com ninguém.

— Bem, eu estava pensando em marcar um dia para a gente ensaiar, sabe? Os diretores são muito exigentes e...— antes de terminar sua frase, foi interrompido.

— Tanto faz, me procura depois 'ta legal?— respondeu rudemente e se virou de costas para o loiro e o deixou ali.

Ele o deixou ali, sozinho... como todos haviam feito em sua vida. 

Aziraphale ficou paralisado por um tempo com a mão indo estendida e a voltando para o lado de seu corpo lentamente, palavras não conseguiam ser pronunciadas de sua boca enquanto observava o garoto se distanciar no corredor vazio. 

Crowley não estava no seu melhor dia, ele estava de ressaca e teria uma aula em que ele não fazia a menor questão, sua cabeça estava explodindo, qualquer barulho que passa em seu ouvido soaria como se estivesse num megafone e ele queria o mínimo de contato com qualquer pessoa. 

Assim que chegara na sala, se colocou no canto mais escondido do chão e escondeu sua cabeça entre os joelhos esperando que a ardência em sua cabeça passasse. Depois de alguns minutos sentiu uma mão acariciando seu braço.

𝐁𝐞𝐡𝐢𝐧𝐝 𝐭𝐡𝐞 𝐝𝐫𝐚𝐦𝐚 || 𝐀𝐳𝐢𝐫𝐚𝐜𝐫𝐨𝐰Onde histórias criam vida. Descubra agora