Abril, 9
Sábado
2011
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Acordei no susto, a vista meio escurecida por ter levantado metade do corpo rapidamente. Respirei fundo passando uma das mãos no rosto, a outra mão apoiando o corpo meio sentada.
— Eu não apanho desde os 18 anos, que horas são? — Questionei em meio ao bocejo.
Odette continuou parada com a almofada que me bateu em mãos, o rosto mais enrugado graças a careta direcionada a mim.
— Eu bati na porta três vezes até lembrar da chave reserva e mesmo assim te chamei cinco vezes antes de te bater! Vamos, você prometeu que iria comigo cedo se eu fizesse o bendito chessecake.
Chequei o relógio na parede bocejando e arregalei os olhos com a hora.
— Acho que o mercado nem abriu! Que diabos, são nove da manhã!
— O galo canta mais cedo que isso, vamos lá, levante esse bunda gorda do sofá. — Odette revirou os olhos, bufei e ela me ameaçou novamente com a almofada. — Quinze minutos, vou fazer um café pra você.
— Odette, você é o tumulto da minha vida. — Joguei a coberta pro lado e fiquei de pé. — As vezes me arrependo de ter te dado a chave.
Enquanto eu me aprontava o som de coisas batendo na cozinha ocupava minha mente. Droga, não são nem meio dia!
Odette Cavendish, a senhora de 1.55 que tem uma personalidade terrível que coloca uma pitada de juízo em minha vida. Faz exatamente três meses que eu me mudei, todos os dias depois do trabalho eu me encontrava jogada em seu sofá acariciando um gato gorducho ouvindo histórias sobre uma juventude maluca. Odette incrivelmente lembrava a minha mãe e isso fez com que nós duas nos aproximasse de forma diferente, aos finais de semana geralmente quando não saio pra beber com Tyler e alguns colegas de trabalho eu estou aprendendo culinária italiana com ela.
Ela ter uma chave no apartamento não foi por acaso, certo dia cheguei tão bêbada a ponto de não encontrar minhas chaves e bati na porta dela que me bateu um pouco antes de me deixar dormir no quarto antigo de seu neto.
Por um algum motivo se tornou um costume a ponto de eu dormir lá todas as vezes que volto alcoolizada, então no dia seguinte ela vem até o meu quarto pra pegar uma muda de roupa e jogar na cama pra quando eu acordar de ressacas terríveis.
Odette disse certo dia que sempre quis que seu neto voltasse a morar com ela, mas ele está servindo no Irã tem doze anos e é um capitão respeitado. Ela se orgulha muito e mesmo que a comunicação com ele não seja das melhores ela diz que ele é o melhor neto do mundo.
No quarto dele tem dois porta retratos, um com seus pais que infelizmente faleceram, seu pai em combate no Iraque e sua mãe de um acidente de carro, e um com Odette. Ele ainda criança, um gordinho de olhos azuis e um sorriso de atentado, eu disse isso a ela mas levei alguns tapas por isso.
Voltei pra sala pronta com um vestido soltinho preto, o cabelo preso em rabo de cavalo, brincos que eu ganhei de Natal da namorada de Henry e uma sandália baixinha. Tive alguns embates com o espelho antes mas nada além do comum, meu peso não ajuda muito agora e eu culpo Odette por isso.
— Gostei disso, nunca te vejo vestida assim...Decente — Elogiou com um sorriso zombeteiro, me passando a xícara de café com a estampa de "parabéns titia" graças a George e Carla.
— Vestido comprido costuma me deixar maior, aliás eu te culpo por isso. — Comecei depois de um gole no café preto quente.
— O que eu tenho a ver com isso?
— Se eu não fosse sua neta provisória não estaria engordando tanto, como mais do que eu comeria morando sozinha. — Finjo estar reclamando só pra ver seus olhos azuis se estreitando.
— É verdade, eu mal cozinho!— Está querendo me dizer que sua preguiça em sobreviver sozinha tem algo a ver com o fato de você comer tutto a dispensa da minha casa, Violet Denver?
Odette não tinha freios na língua, e eu a amava por isso, adorava provocá-la o suficiente para misturar seu italiano com o inglês.
— Ei! Sobreviveria muito bem se a senhora não fosse uma vovó maluca que gosta de me encher de comida. — Rebati e tive que desviar de um pano de louça que ela tentou acertar em mim.
— 75 anos de vida e você vem me atormentar como se eu tivesse paciência, vamos, você vai carregar todas as minhas compras pela escada quando voltarmos. — Castigou fazendo gestos pra que eu me apressasse com o café.
— Não pode me castigar, já tenho 32 anos!
Odette continuou resmungando enquanto eu segurava o riso, quase engasgando com o resto do café por isso.
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Poeira ao Vento
FanfictionCom um emprego estável, um apartamento razoável numa cidade há quatro horas de carro de sua família, Violet Denver só tinha um objetivo: se divertir. Infelizmente as coisas nunca são como planejamos.