🌬️ Só por um momento 🌬️

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2011

Julho, 30

Sábado

**

— Tem certeza? — Tyler pergunta pela quarta vez desde que entramos na fila do Bakery Williams, desacreditado que vim até o outro lado da cidade atrás do bolo favorito de Odette.

— Sim, eu tenho certeza que é aqui, ela me disse várias vezes quando conversamos sobre doces. — Afirmo ajeitando a saia rosa que insisti em colocar mesmo sabendo que teria que descer ela o tempo todo. — Chamei os netos dela com os maridos, bom as três netas já que o neto eu não faço a mínima ideia de como contatar e não é como se ele parasse a guerra apenas pra vir vê-la.

— Nunca vi uma relação como essa, você é praticamente a família mais próxima dela. — Divagou olhando a decoração rosa da confeitaria.

Sorri com isso, bem, sabia que muitos dos parentes dela já haviam falecido ou moram muito longe pra se importarem de passar um tempo com ela. Pra quem vem de uma família que se une bastante é uma blasfêmia, nunca poderia deixar alguém tanto tempo longe.

— Mamãe me mataria se eu não ligasse pelo menos três vezes na semana, e eu ligo cinco. Os Cavendish são um pé no saco, Denver's ganham nisso e felizmente Odette tem a mim e obviamente chamei minha família pra conhecê-la. — Contei feliz pelo meu feito, todo meu apartamento está sendo agora mesmo ajeitado pelos Denver com balões que provavelmente estarão em lugares calculados graças ao toc da minha mãe.

Ficamos em silêncio enquanto a fila avançava, seis pessoas na nossa frente e umas três atrás de nós que chegaram a pouco tempo, três mulheres bem arrumadas com bolsas de grife. Tyler fez sinal com os olhos quase me fazendo rir quando moveu os lábios pra chamá-las de esnobes.

—.. Como pode alguém desse tamanho se vestir assim— Escutamos uma delas cochichando a outra.

Respiro fundo descendo a saia num tique discreto, indo pra frente quando mais alguém terminou de ser atendido, sentia não só os olhares delas como o preocupado de Tyler.

Meu amigo segurou minha mão e deu um aperto, tentando me passar mais segurança.

Não acontecia o tempo todo, mas uma hora ou outra algumas pessoas não conseguem segurar suas opiniões preconceituasas. Não seria a primeira vez e provavelmente não seria a última mas as vezes isso machuca.

Devia ser crime ter mais de cem quilos..— A outra parecia concordar com a amiga, rindo.

Tyler parou de segurar minha mão pra passar um braço sob os meus ombros enquanto fingimos não ouvir nada.

Cem quilos? Cem toneladas, uma perna dela da duas de nós. Não sei como esse cara bonito está com ela.

Ok, longe demais. Tyler segurou meu ombro um pouco mais forte quando sentiu que eu fosse virar e avançamos na fila mais uma vez em silêncio.

— Fique calma, são apenas mal amadas narizes em pé. — Sussurrou parecendo ter mais ódio do que eu.

Quase bati palmas quando chegou nossa vez, minha encomenda de um bolo red velvet com a escrita em cima de "Parabéns Dett" em cima, veio numa caixa grande bonita que Tyler segurou enquanto eu pagava.

Foi só quando estávamos há algumas milhas de distância que eu acalmei o suficiente pra livrar a tensão.

— As vezes acontece, mas geralmente eu não escuto tão bem. — Contei esperando que ele dissesse algo mas ainda parecia com ódio. — Sabe, acho que deveria ter me beijado pra ajudar.

O olhei de canto pra vê-lo sorrir um pouco e fiz o mesmo prestando atenção no caminho.

— Elas não chegam nem ao seu dedo do pé, idiotas medíocres. Infelizmente se eu revidasse iríamos perder a razão, mesmo que elas merecessem um soco. — Admitiu antes de ligar o rádio, parecendo mais calmo só por dizer isso.

**

Natalie, Darlene e Gwen a quem eu tive o desprazer de conhecer já estão sentadas no meu sofá com taças de vinho. As duas primeiras não pareciam ter tanta diferença de idade comparadas a caçula que parece ter a idade dos gêmeos. Robert, Gabriel, Daniel respectivamente seus cônjuges estavam muito bem entretidos com meus irmãos em uma conversa sobre NFL logo ao lado do sofá. Molly, Agatha e seu misterioso namorado estão ajeitando a cozinha comentando uma vez ou outra algo com mamãe e meus tios Gustavi e Paul.

—Uh, exatamente cinco horas, ela deve estar vindo. — Tyler avisa a todos, me dando um susto ao lembrar de que estávamos lado a lado em silêncio.

Todos ficaram quietos enquanto eu me posicionei ao lado da porta e exatamente dois minutos depois ela aparece com sua bolsinha no ombro.

— Surpresa! — Gritamos e eu sorri ao vê-la com os olhos marejados.

Deixei que suas netas a abracassem primeiro antes de puxar ela até minha mãe primeiro e depois apresentar o restante da família. E exatamente como eu imaginei, Odette mergulhou na minha família e eu tentava definitivamente o meu melhor pra me enturmar com suas netas e incrivelmente a caçula foi quem me surpreendeu com um puxão até o canto da parede.

— Fico feliz que você esteja perto o suficiente pra cuidar da vovó, éramos mais próximas quando eu era mais nova mas agora eu comecei em um emprego que viaja tanto quanto o do meu irmão e não tenho tido tempo de vir até aqui. — Gwen foi sincera e apesar de parecer a mais fechada foi a que sorriu pra mim. — Aposto que Storm lutaria com você pelo cargo de volta.

— Storm? — Sussurrei desacreditada e ela riu suavemente. — Que cargo, menina?

— O de neto favorito. — Deu de ombros direcionando o olhar pra sua avó que conversava gesticulando com Tio Paul. — Storm é o apelido e o nome do meio  de nosso irmão, ele sempre foi o favorito e nunca precisamos discutir sobre isso.

— Odette nunca me diz o nome dele, posso me contentar com esse apelido pra aterrorizar sua avó por um bom tempo, obrigado Gwen! — Me deliciei esfregando uma mão na outra e isso a fez rir de novo.

— Violet, tia Gerth mandou a gente tirar o café da tarde e ajeitar a mesa para o bolo, aonde está a vela? — Agatha aparece com duas sacolas e uma expressão de desculpas.

Foi só depois dos parabéns que eu consegui dar uma escapada da sala cheia, estava respirando em alívio no meu quarto ao ouvir a porta se abrindo novamente e me virei rápido apenas pra sorrir ao meu tio.

Summer, como está se sentindo querida?

— Tio Paul, achei que tínhamos combinado quando fiz dezoito que meu nome do meio devia ser proibido. — Brinquei aceitando seu abraço que sempre me relaxa. — Estou bem, só um pouco cansada.

Ele me puxou até a cama e segurou minhas mãos com firmeza.

— Quero que me ouça com atenção, tudo bem? — Pediu e eu acenei devagar. — Coisas vão acontecer nos próximos meses mas eu quero que você seja forte, e então os deuses irão abençoar você com um novo caminho.. Não faça essa cara de ceticismo pra mim Violet Summer Denver, escute! Não posso me meter o suficiente mas eu quero que você seja feliz e consciente de que o que tiver que acontecer é necessário. — Ele respirou fundo, os olhos negros analíticos por trás dos óculos redondos. — O que vem antes de toda calmaria?

E em qual momento estivemos na calmaria?

— Tempestade..? Olha tio, não estou entendendo aonde você quer chegar com tudo isso. — Respondi confusa.

— Eu sinto muito, as coisas vão se ajeitar mas pode levar um tempo, confia em mim?

— Com a minha vida.

— Ótimo, agora volte como uma anfitriã alegre que eu sei que é e de tchau a todos que precisamos ir. — Deu um último aperto nas minhas mãos e se levantou como se o clima não estivesse estranho.

Poeira ao Vento Onde histórias criam vida. Descubra agora