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2011Setembro, 17
Sábado
02:00Confusão.
Foi a primeira coisa que eu senti depois de entender que estou na minha própria cama. E então os últimos acontecimentos passaram pela minha cabeça e novamente a vertigem e o medo de estar ficando maluca se abateram de mim. Com medo de abrir os olhos tateava a parede com uma das mãos usando a outra de apoio pra levantar e não cair.
— Puta merda eu devo ter perdido o jantar. — Reclamei sozinha me esquecendo de deixar os olhos fechados e batendo a mão contra a testa. — Estou maluca, falando sozinha!
Acendi a luz do corredor e fui até a cozinha limpando os olhos pra tirar uma pequena remela.
— Você sempre vai ser a rainha do drama, não é?
Paralizei, sentindo um gelo na espinha por que no segundo em que olho pra minha pequena mesa está Odette Cavendish sorrindo pra mim.
— Que merda tinha naquele cigarro?! — Praticamente gritei me apoiando na parede quando o tal de Hermes surgiu como uma sombra atrás da minha querida amiga fantasma. — Pra mim chega! Eu me rendo. — Com o coração acelerado e o medo por trás dos olhos caminhei devagar até puxar a cadeira um pouco mais longe da mesa e dos dois...espiritos? almas?
— Let, por favor eu sei que você ouvia histórias sobre isso quando era mais nova e eu sei que sua família acredita então preciso que leve isso a sério agora. — O espírito de Odette que realmente soava como ela, cruzou os braços, a sobrancelha levantada na pela enrugada. Era sua expressão de "me obedeça imediatamente".
Acanhada mas menos cética do que deveria, abaixei as mãos levantadas (Obviamente não iria abaixar a guarda), e respirei fundo acenando para a imagem de quem nunca mais eu poderia ver em vida.
— Não posso acreditar que você se foi. — Minha voz me traiu um pouco, trêmula, e com algumas lágrimas silenciosas eu puxei a cadeira um pouco mais perto. — Sinto tanto a sua falta.
— Você precisa me deixar ir, tudo bem? — Acenou com um pequeno sorriso e eu concordei tentando não fazer uma cena pra um espírito. — Violet, estou falando sério. Você precisa mesmo me deixar ir.
— Hermes é o que? Um proletário de Hades? Você será a nova esposa do submundo, por isso você ainda está aqui? É um processo seletivo? — Brinquei um pouco ainda chorando e Hermes revirou os olhos alisando aquela barba estranha.
— Tenho certeza de que sua prima Agatha seria bem mais compreensiva com a situação, é uma pena que Odette só tenha uma conexão de almas com você, logo você. — O Deus ralhou devolvendo a brincadeira com um pouco de veneno em seus olhos que se tornaram esbranquiçados novamente.
— Vou ignorar essa troca de farpas. — Odette abanou as mãos e eu quase sorri com o gesto familiar. — Antes de ir, já que eu sei que você vai me deixar dessa vez pois já sinto o desgarre... — Por mais inacreditável que pareça sua imagem começou a se apagar um pouco rápido quando a ideia de que ela realmente tem que ir se afundava em meu interior. — Violet, cuide do meu neto.
—O que?! Por que eu tenho que.. — Não consegui terminar antes que sumisse, mas dei um dedo do meio para um satisfeito Hermes. — Leve-a em segurança, espero demorar pra te ver.
— Relaxa, você não vai me ver. — Reforçou a palavra se despedindo com um abano do chapéu de pescador e sumindo como sombra na minha cozinha.
Puta merda.
Deuses.
Deuses existes!
Foda-se eu preciso de álcool, cigarros sem entorpecentes e..mais álcool. Foi com esse pensamento medíocre que eu sai de casa, ainda com o vestido de velório, o cabelo desarrumado e os pés descalços andando pela rua até o bar do Jay. Com pouca movimentação e talvez o fato de que eu provavelmente parecia uma perturbada, todos me encararam desde a entrada até quando me sentei frente ao balcão e fiz um sinal para um descrente Jay abatido.
— Let, não sei se é uma boa ideia...Quem veio com você? — Ele pergunta se inclinando sob o balcão e me encarando sério.
— Jay, minha melhor amiga, uma senhora que fazia parte da minha rotina acabou de ser enterrada a sete palmos desse chão. Por favor, traga um pouco de álcool pra mim. — Disse firme prendendo meu cabelo em um coque improvisado sem o elástico.
Relutantemente o dono do bar me serviu meio copo de whiskey cowboy, quando tentou guardar a garrafa de volta eu neguei com a cabeça seriamente.
— Vamos fechar em uma hora, Violet.
Dei de ombros escutando seu bufar quando virei o copo de uma vez e enchi novamente. Jay saiu da minha frente atendendo uma última leva de pessoas, meu olhar não saiu da garrafa enquanto eu bebia calmamente dessa vez enchendo pela terceira, e depois uma quarta vez. Foi só quando meus olhos começaram a pesar e senti meu corpo mais leve do que deveria que eu terminei uma última dose, e me apoiando no balcão pra descer do banco desconfortável me despedi de um preocupado Jay com um aceno cambaleando pelo bar até a saída.
O porteiro do prédio teve que liberar minha entrada porque saí sem as chaves, e eu quase cai ao entrar no elevador. Ainda me sentindo mole ao invés de ir para o meu apartamento eu encostei na porta da minha melhor amiga, decidida a não quebrar o costume e me surpreendi um tempo depois quando a porta foi aberta brutalmente e eu quase cai para o lado de dentro sendo segurada por braços firmes..que diabos?
— Precisa de ajuda? — Uma voz grossa que me arrepiou dos pés a cabeça questionou mas já era tarde.
Eu apaguei.
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Poeira ao Vento
FanfictionCom um emprego estável, um apartamento razoável numa cidade há quatro horas de carro de sua família, Violet Denver só tinha um objetivo: se divertir. Infelizmente as coisas nunca são como planejamos.