Poeira ao Vento

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2011

Outubro, 3

Segunda-feira

20:00

"Sabão pra lavar as roupas já no fim, você não tem farinha, macarrão ou algo que dê pra cozinhar apenas dois pacotes de biscoito e uma barra de chocolate!"

Revirei os olhos, com o celular sendo segurado pela pressão da minha cabeça contra o meu ombro enquanto eu anoto tudo segurando o carrinho com os braços.

— Me lembre por que estou fazendo as compras no seu lugar? — Ralhei parando com a caneta aonde anotei pra comprar mais uma barra de chocolate.

"As compras são para o seu apartamento, por que eu iria?!"

— Porque, seu idiota, você passa mais tempo dentro do meu apartamento do que no seu.

"Tudo bem então..Boas compras." Andrew desligou sem se despedir.

Abandonei a lista e a caneta no carrinho apenas pra guardar o celular e parar tudo por um segundo.

Minha rotina havia mudado novamente graças a Andrew.

Todos os dias tomávamos café juntos em silêncio, depois enquanto estou no trabalho ele cuida dos dois apartamentos ou vai a entrevistas de emprego, e então a noite quando eu chego eu bato na porta e nós discutimos sobre algo que devemos mudar na decoração e assistimos alguma coisa depois de jantar algo que ele, (Que fez questão de, assim como sua avó, me ensinar a cozinhar) ditava a receita.

Andrew é... tempestuoso, cada dia mais seu segundo nome fazia sentido. Suas emoções explodem, em pouco tempo de convivência eu sabia os momentos certos pela forma dos seus músculos ficarem tensos e sua postura reta. Mantemos nossa relação de forma respeitosa apesar de brigarmos como cão e gato, sem muitos toques ou palavras de conforto. Quando a saudade fala mais alto, vou até o meu apartamento e sumo por algumas horas. Andrew tem algo que eu gosto: não preciso pisar em ovos com ele e eu sei que ele sente o mesmo por mim.

—Ei, está precisando de algo?

Um cara com o uniforme do mercado sorria pra mim, alto e com uma aparência um pouco mais jovial. Olhos de mel, dentes alinhados, piercing de argola no lábio e cabelo loiro espetado. Uma tatuagem começando do pescoço e parecia descer por baixo do colarinho da camiseta.

Ainda bem que estou arrumada

— Sim, mas duvido que possa me ajudar no que preciso. — Sorri ajeitando as costas pra ficar reta, mesmo de salto ele ainda era mais alto.

— Pode se surpreender com isso..

Eu não transo há meses

Não por falta de opção, pois ser gorda nunca me fez sentir ou me fará menos atraente do que qualquer outra, e isso de alguma forma conquistava os homens. Alguns anos eu tive uma confirmação de que tudo era uma questão do quão confiante, quão preparada e o quão sensual você mesma se sente.

Mas eu não estava praticando nada desde que me mudei pra cá, e apesar de flertar com alguns homens no bar do Jay não me encheram os olhos. E então existe Andrew..que por algum motivo veio na minha mente enquanto eu pensava se dava uma chance ou não.

Andrew é muito mais bonito

— Anote meu número então.. — Decidi num impulso ao me ver comparando tanto esse cara e meu vizinho.

— Sou Ben, a propósito. — Se apresenta tirando rapidamente o celular do bolso e checando em volta pra ver se mais alguém estava nos vendo. — Eu vou te ligar...

— Violet. — Sorri uma última vez e ele se despediu alegremente enquanto eu voltava a lista eterna de compras.

Foi só quando pisei os pés no corredor, com inúmeras sacolas que faziam minhas pobres mãos doer em, que houve um estalo. O caminho todo Andrew não saiu da minha mente, eu o comparei, convivo com ele atualmente e..

— Puta merda! — Praticamente gritei ao parar entre as duas portas. O som de
música alto me surpreendeu ainda mais, Ozzy Osborne tocando diretamente do apartamento dele. Me matando pra abrir a porta eu só queria morrer quando abri. — Estou pagando meus pecados.

Andrew, bendito.. Não! Maldito seja Andrew Storm Cavendish!

Uma calça de moletom é tudo que usava. Suas costas inteiramente tatuada com uma caveira eram uma novidade pra mim. Os músculos contraindo conforme ele descia e subia fazendo flexões, o brilho de suor no corpo todo quase me fez ajoelhar na porta com as compras.

Definitivamente ele é muito melhor do que qualquer outro.

Minha dignidade, que já não contava muita coisa, se esvaiu completamente do meu ser e a luxúria tomava seu lugar. Por pouco não joguei tudo no e engatinhei até ele como uma gata no cio.

Não, Violet Denver, respire

Não faço a mínima ideia de quanto tempo passei apenas observando, não não, secando! Mas assim que ele se levanta não parece surpreendido com minha presença, e de modo inacreditável a vista era ainda melhor de frente. O peito ligeiramente peludo, as dobras do abdômen pareciam esculpidas e...Deus!

Respirando fundo, sentindo um calor infernal, apenas acenei com a cabeça ainda assistindo ele andar pela sala até o pequeno rádio conectado ao ipod e desligar tudo.

— Achei que não iria aparecer.

— Posso te dar banho? — Um sorriso inesperado surgiu e demorou segundos pra notar o que saiu da minha própria boca. — Vá tomar um banho! Vou guardar as compras e já volto aqui. — Gritei virando as costas e tentando andar mais rápido até minha porta.

— Violet? — Virei ao chamado esperando que meu rosto não esteja no mesmo tom do meu cabelo. — Cabem dois debaixo do chuveiro..

Ok, Houston, temos um problema