Hoje é fácil. É uma história engraçada que eu conto quando pego intimidade com alguém. "Teve aquela vez que eu me apaixonei, e foi ridículo." Tão, e tanto, e com tanta força. Eu conto que o conheci em uma tarde quente como o inferno. Eu tinha coisas para fazer. Desmarquei os compromissos e deixei as pessoas esperando. Inventei duas mentiras para poder ficar.
Mas não é que eu queria ficar.
Eu só não queria ir.
Uma parte de mim sabia que no momento em que eu desse as costas, a ampulheta ia virar e começaria a contagem regressiva. Faltam cento e dezessete dias para seu coração ser partido.
Eu só queria viver naquele primeiro dia mais um pouco.
Quando te deixei, eu abri o caderno que não tenho o hábito de manter. Eu escrevi, em letras garrafais: quero que todas as noites sejam a de ontem.
Quero que o tempo pare.
Quero furar a ampulheta, para o último grão nunca cair.
Hoje, é fácil. É uma história engraçada, querer algo tanto assim.— O tempo não parou.
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eu te amo (não enviada)
Poetryum histórico de mensagens que nunca foram enviadas. (antologia poética) capa: L Chagas Design