Traitor Among Us

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A garotinha olhava pela a grande janela da sala principal do orfanato, ela observava uma família ir embora sem nenhuma criança, sem ela, Toni acabara de voltar novamente para o orfanato, aparentemente ela não era boa o suficiente para a família, Toni estava crescendo, em seus seis anos e ela ainda não havia sido boa o suficiente para uma família e ela não conseguia entender o porquê daquilo. A garota parou de olhar pela a janela e sentou-se no chão frio daquele lugar, enquanto as crianças corriam por ali, ela permanecia com seus joelhos dobrados, próximos ao seu peito e abrigando sua cabeça enquanto chorava silenciosamente. Segundos depois Toni sentiu uma mão em suas costas, tocando seu cabelo de forma confortável, a garotinha levantou os olhos e viu Grundy ao seu lado.

- Eu não sei o que fiz de errado, irmã Grundy. - disse enxugando suas próprias lágrimas, mas sendo em vão, já que elas voltavam a aparecer. - Por que eles não me quiseram?

- Não foi culpa sua, minha querida, eles só perceberam que não era a hora para eles começarem uma família. - explicou, ela sabia que como uma devota de sua religião ela não deveria mentir, porém ela estava disposta a passar por cima disso para que Toni não se magoasse.

- Algum dia alguém vai me querer, irmã Grundy? - aquelas palavras partiram o coração da pobre mulher, ela engoliu o próprio choro. - Será que eu vou ter uma mãe e um pai que me amem?

- Um dia você vai encontrar seu lar, querida. Pessoas que vão amar você mais do que você possa imaginar, porque você Toni é a criança mais adorável que eu já conheci e você merece todo amor do mundo. - Grundy abraçou a garotinha que parecia mais calma. - Todo o amor do mundo... - repetiu, Grundy não conseguia aceitar o fato daquela criança já sofrer tanto.

Toni olhava para o homem a sua frente no sofá, depois dele se acalmar um pouco mais, os dois sentaram um diante do outro, ainda sem falar nada, ela não se deixaria parecer fraca naquela situação, por mais doloroso que aquele momento fosse para ela. Myles se sentiu um pouco intimidado com a presença da sua filha, ele esperou tanto por aquele momento que agora já não sabia como reagir. Toni então resolveu acabar logo com aquilo, por anos ela guardou aquela pergunta, não sabia se algum dia chegaria a pronunciá-la, mas ali estava sua oportunidade, talvez a única que teria, ela encheu seus pulmões de ar e contou mentalmente até três, logo disparando...

- Por que me abandonou? - Myles não esperava aquela pergunta logo de cara, porém não pareceu temer. Toni prendia seu maxilar, seu coração estava tão disparado que ela temeu o que pudesse acontecer, poucos momentos a deixaram tão ansiosa assim.

- Eu não abandonei... - explicou e Toni deu um rápido sorriso sarcástico. - Toni, é sério. - a mulher levantou do sofá e Myles fez o mesmo.

- Eu não tenho tempo para mentiras, se quer mostrar seu lado da história então pelo menos tenha a decência de assumir sua parte no erro, eu não sou uma garotinha, não preciso de uma historinha feliz e emocionante para amenizar a dor.

- Eu não estou mentindo! - continuou. Toni analisou o homem, o analisou por um pequeno período de tempo. - Você me parece boa em julgamentos, olha para mim e veja se há indícios de mentira. - insistiu. Myles voltou a sentar no sofá, Toni permanecia em pé, o homem tirou os óculos do rosto e o limpou em sua camisa social, ele voltou a pôr em seu rosto e Toni resolveu sentar novamente diante do homem. - Quando conheci sua mãe, eu era casado com outra mulher, já tinha uma filha, Josephine. - Toni ainda não conseguia acreditar que aquela mulher, a mulher que quase ajudou a lhe matar, a mulher que teve Cheryl em seus braços, aquela mulher era sua meia irmã. - Eu a traí com Katy, sua mãe, o que tivemos foi algo intenso no qual eu não consegui me conter mesmo tendo uma família.

- Se você não tivesse traído sua mulher teria me poupado de muitas coisas.

- Você não teria nascido.

Born To Die - ChoniOnde histórias criam vida. Descubra agora