Eu Jogo Pinochle Com Um Cavalo

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- Capítulo cinco - leu Rachel - Eu jogo pinochle com um cavalo

" Tive sonhos estranhos, cheios de animais de estábulo. A maioria queria me matar. O restante queria comida."

'Daria qualquer coisa para ter esses sonhos de novo ' Pensou Percy

Sem nem perceber, o moreno segura a mão de Annabeth. A garota o mostra um sorriso reconfortante, pois entendia o que o namorado sentia.

" Devo ter acordado várias vezes, mas o que ouvi e vi não fazia sentido, então adormecia de novo. Lembro-me de estar deitado em uma cama macia, sendo alimentado com colheradas de alguma coisa que tinha gosto
de pipoca com manteiga, só que era pudim. A menina com o cabelo loiro encaracolado pairava acima de mim com um sorriso afetado enquanto limpava as gotas de meu queixo com a colher.
Quando ela viu meus olhos abertos, perguntou:
— O que vai acontecer no solstício de verão?
Eu consegui resmungar:
— O quê?
Ela olhou em volta, como se estivesse com medo de que alguém ouvisse.
— O que está acontecendo? O que foi roubado? Nós só temos algumas semanas!
— Desculpe — murmurei. — Eu não...
Alguém bateu à porta, e a menina rapidamente encheu minha boca de pudim.
Quando acordei novamente, a menina tinha ido embora.
Um sujeito loiro e forte, como um surfista, estava no canto do quarto me vigiando. Tinha olhos azuis — pelo menos uma dúzia deles — nas bochechas, na testa, nas costas das mãos."

- Da primeira vez que vi o Argos - disse Rachel - fiquei com medo dele

- Ele ainda me assusta de vez em quando - concordou Piper

" Quando finalmente voltei a mim de vez, não havia nada de estranho com o lugar ao meu redor, a não ser que era mais agradável do que eu estava acostumado. Estava sentado numa espreguiçadeira em uma enorme varanda, olhando ao longo de uma campina para colinas verdejantes a distância. A brisa tinha cheiro de morangos. Havia uma manta sobre as minhas pernas, um travesseiro atrás do pescoço. Tudo isso era ótimo, mas minha boca me dava a sensação de ter sido usada como ninho por um escorpião. A língua estava seca e
pegajosa, e todos os dentes doíam. Sobre a mesa ao lado havia bebida num copo alto. Parecia suco de maçã gelado, com um canudinho verde e um guarda-chuva de papel enfiado em uma cereja.
Minha mão estava tão fraca que quase derrubei o copo quando passei os dedos em volta dele.
— Cuidado — disse uma voz familiar.
Grover estava apoiado no gradil da varanda, e parecia não dormir havia uma semana. Embaixo de um braço, segurava uma caixa de sapatos. Estava usando jeans, tênis Converse de cano alto e uma camiseta laranja-
claro com os dizeres ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE. Apenas o velho Grover. Não o menino-bode.
Quem sabe não tive um pesadelo? Talvez minha mãe estivesse bem. Ainda estávamos de férias e tínhamos parado ali naquela grande casa por alguma razão. E...
— Você salvou minha vida — disse Grover. — Eu... bem, o mínimo que eu podia fazer... voltei na colina.  Achei que você poderia querer isto.
Reverentemente, ele colocou a caixa de sapatos em meu colo.
Dentro havia um chifre de touro branco e preto, a base irregular por ter sido quebrada, a ponta salpicada de sangue seco. Não tinha sido um pesadelo.
— O Minotauro — disse eu
— Ahn, Percy, não é uma boa ideia...
— É assim que o chamam nos mitos gregos, não é? — perguntei. — O Minotauro. Meio homem, meio touro.
Grover mudou de posição, pouco à vontade.
— Você ficou desacordado por dois dias. Do que se lembra?
— Minha mãe. Ela está mesmo...
Ele abaixou os olhos.
Olhei ao longo da campina. Havia pequenos bosques, um riacho sinuoso, campos de morangos espalhados embaixo do céu azul. O vale era cercado por colinas ondulantes, e a mais alta, bem na nossa frente, era a que tinha o grande pinheiro no topo. Mesmo isso parecia bonito à luz do sol.
Minha mãe se fora. O mundo inteiro deveria estar escuro e frio. Nada devia parecer bonito.
— Desculpe — fungou Grover. — Eu sou um fracasso. Eu... eu sou o pior sátiro do mundo.
Ele gemeu, batendo o pé com tanta força que ele saiu, quer dizer, o tênis Converse saiu. Dentro, estava recheado de isopor, a não ser por um buraco em forma de casco.
— Oh, Estige! — murmurou ele.
Um trovão ecoou no céu claro.
Enquanto ele lutava para pôr o casco de volta no falso pé, pensei: Bem, isso resolve as coisas.
Grover era um sátiro. Podia apostar que, se raspasse o cabelo castanho cacheado, encontraria pequenos chifres em sua cabeça. Mas eu me sentia infeliz demais para me importar com a existência de sátiros ou mesmo minotauros. O importante era que minha mãe realmente tinha sido espremida para o nada, dissolvida em luz amarela.
Eu estava sozinho. Um órfão. E teria de viver com... Gabe Cheiroso? Não. Isso jamais iria acontecer.
Preferia viver nas ruas. Fingiria ter dezessete anos e me alistaria no exército. Faria alguma coisa. "

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