Eu Me Torno Um Fugitivo Conhecido

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Fizeram uma pausa de 3 horas, para que pudessem relaxar antes de continuar a leitura.

Piper se ofereceu para narrar aquele capítulo.

- Capítulo catorze - leu McLean - Eu me torno um fugitivo conhecido.

" Eu adoraria contar que tive alguma revelação profunda enquanto caía, que aprendi a aceitar minha própria mortalidade, que ri em face da morte etc.
A verdade? Meu único pensamento foi: Aaaaarggghhhhh!
O rio vinha em minha direção na velocidade de um caminhão. O vento arrancou o fôlego dos meuspulmões. Torres, arranha-céus e pontes giravam entrando e saindo do meu campo de visão.
E então...
Cata-puuuum!
Um turbilhão de bolhas. Afundei nas trevas, certo de que acabaria engolido por trinta metros de lama e perdido para sempre.
Mas meu impacto com a água não doeu. Eu estava agora descendo lentamente, com bolhas passando por entre meus dedos. Fui parar no fundo do rio, em silêncio. Um peixe-gato do tamanho do meu padrasto se
afastou com uma guinada para a escuridão. Nuvens de lodo e lixo nojento — garrafas de cerveja, sapatos velhos, sacos plásticos — giravam ao meu redor. "

- Nojento - disse Afrodite

" Àquela altura me dei conta de algumas coisas. Primeiro: eu não tinha sido achatado como uma panqueca.
Não havia sido assado como churrasco. Não sentia nem mesmo o veneno da Quimera fervendo em minhas veias. Eu estava vivo, o que era bom.
Segundo: eu não estava molhado. Quer dizer, conseguia sentir a friagem da água. Podia ver onde o fogo em minhas roupas tinha sido apagado. Mas, quando toquei minha camisa, parecia perfeitamente seca.
Olhei para o lixo que passava flutuando e agarrei um velho isqueiro.
Sem chance, pensei.
Risquei o isqueiro. Uma faísca saltou. Uma chama pequenina apareceu, bem ali, no fundo do Mississippi.
Agarrei uma embalagem ensopada de hambúrguer na corrente e o papel secou imediatamente. Queimei-o sem problemas. Assim que o soltei, as chamas bruxulearam e se apagaram. A embalagem voltou a se
transformar em um trapo viscoso. Esquisito.
Mas a ideia mais estranha me ocorreu por último: eu estava respirando. Estava embaixo d’água e respirava normalmente.
Fiquei de pé, afundado até as coxas na lama. Sentia as pernas trêmulas. As mãos tremiam. Eu devia estar morto. O fato de não estar parecia... bem, um milagre. Imaginei uma voz de mulher, uma voz que parecia um pouco com a da minha mãe: Percy, como é que se diz? "

Hades estava intrigado, não tinha como ser a mãe do garoto.

" — Ahn... muito obrigado. — Embaixo d’água, minha voz soava como em gravações, idêntica à de um garoto muito mais velho. — Muito obrigado... pai.
Nenhuma resposta. Apenas o fluir escuro do lixo rio abaixo, o enorme peixe-gato que passava deslizando, o brilho do sol poente na superfície da água muito acima, deixando tudo da cor de doce de leite.
Por que Poseidon me salvara? Quanto mais eu pensava nisso, mais envergonhado me sentia. Então, eu tivera sorte algumas vezes. Contra algo como a Quimera, eu não tinha a menor chance. Aquela pobre gente no Arco
provavelmente virara torrada. Não consegui protegê-los. Não era nenhum herói. Talvez devesse simplesmente ficar ali embaixo com o peixe-gato, juntar-me aos comensais do fundo do rio. Plof-plof-plof. As pás da hélice de um barco agitaram a água sobre mim, revirando o lodo ao redor.
Ali, não mais de cinco metros à frente, estava minha espada, a guarda de bronze brilhando, espetada na lama.
Ouvi aquela voz de mulher outra vez: Percy, pegue a espada. Seu pai acredita em você. Dessa vez percebi que a voz não estava em minha cabeça. Eu não a estava imaginando. As palavras pareciam vir de toda parte, ondulando pela água como o sonar de um golfinho.
— Onde está você? — perguntei em voz alta.
Então, nas sombras, eu a vi — uma mulher da cor da água, um fantasma na corrente, flutuando logo acima da espada. Tinha longos cabelos ondulantes, e os olhos, pouco visíveis, eram verdes como os meus.
Um nó se formou em minha garganta.
— Mamãe?
Não, criança, apenas uma mensageira, embora o destino de sua mãe não seja tão inevitável como você acredita. Vá para a praia em
Santa Monica.
— O quê?
É a vontade de seu pai. Antes de descer para o Mundo Inferior, deve ir a Santa Monica. Por favor, Percy, não posso ficar muito
tempo aqui. O rio é sujo demais para a minha presença.
— Mas... — Eu não sabia muito bem se a mulher era a minha mãe ou, bem, uma visão dela. — Quem... como você...
Havia muita coisa que eu queria perguntar, as palavras se amontoavam em minha garganta.
Não posso ficar, meu valente, disse a mulher. Ela estendeu a mão, e senti a corrente roçar meu rosto como uma carícia. Você precisa ir a Santa Monica! E, Percy, cuidado com os presentes...
A voz dela sumiu.
— Presentes? — perguntei. — Que presentes? Espere!
Ela tentou falar novamente, mas o som se fora. Sua imagem se desfez. Se era a minha mãe, eu a tinha perdido de novo.
Senti vontade de me afogar. O único problema: eu era imune a isso. "

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