Capítulo 36.2 - Roda d'água (dia 23)

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Acordei deitado na cama, olhos se encontrando com os de Sig. Sentado numa cadeira.

Eu tinha desmaiado ao lado do curso d'água. Embora eu pensasse que tinha perdido a consciência por um breve momento, o céu já estava escuro do lado de fora da janela.

Com a ajuda de Sig, consegui me levantar da cama.

"Sinto muito por ter te surpreendido... Talvez eu tenha uma tendência a desmaiar", disse, agindo de forma boba e rindo de propósito. Mas Sig apenas balançou a cabeça sem uma palavra. Enquanto segurava minha mão, ele usava uma expressão séria ao extremo.

"... Quanto tempo vai demorar?"

Entendi imediatamente o que ele estava pedindo.

A ponte custou 3,5 milhões de PT para ser construída. Na verdade, eu já tinha acumulado mais de 3 milhões de pontos agora. Tudo isso graças a Iwao, minha "mesada" de Sig e as recompensas da tarefa de "Cuidado" todos os dias.

Se isso continuasse a correr bem, provavelmente levaria menos de dez dias até que eu tivesse todo o necessário.

"Não importa mais", eu disse, escondendo a verdade dele e segurando sua mão. Eu tinha reconsiderado. Havia algo mais importante do que dinheiro. Enquanto eu olhava nos olhos olhando diretamente para mim, eu disse: "Eu não vou a lugar nenhum. Vou ficar aqui porque somos família".

Os olhos de Sig se arregalaram, e eles lentamente se encheram de luz vibrante.

Então ele estendeu a mão e, aos poucos, me abraçou com força até o peito. Seu abraço foi um pouco doloroso por sua força, mas eu me senti seguro envolvido em seu calor confortável. Finalmente poderia dizê-lo. Feliz e aliviado, enrolei meus braços em volta de suas costas.

É por isso que pensei que ouvi errado quando Sig disse: "Essas palavras por si só são suficientes para mim".

Eh?

Olhei para seus olhos roxos de perto. Pareciam sérios e também tristes.

"Você não precisa se importar comigo. Você tem que... transformar seu desejo em realidade".

Então eu não tinha ouvido errado. E pelo rosto de Sig, não parecia que ele estava mentindo ou brincando.

Aquelas palavras me atingiram fortemente, colidindo contra mim.

Já não falei do meu "desejo"? Eu disse claramente que viveria com Sig, minha família, aqui para sempre.

Então, por que ele teve que ir em frente e dizer isso...?



Saí cedo do quarto, antes que o sol mostrasse seu rosto.

No ar frio, desci o caminho à beira do rio, aproximando-me da área onde ficava uma ponte. Olhei para o pântano profundo abaixo. Sig e eu tínhamos instalado cercas aqui, então eu não precisava mais me preocupar em cair.

Eu tinha pensado que ele ficaria feliz.

Não, ele estava muito feliz. Ele me segurou num abraço tão apertado... É por isso que eu tinha pensado que ele se sentia da mesma forma que eu. Que permanecer neste mundo foi a melhor escolha.

"Meu desejo é ficar aqui com Sig para sempre..."

Na verdade, tudo isso é falso, não é?

A verdade é que ele se sentia constrangido. Porque ele foi capaz de ver através de seus "verdadeiros sentimentos".

(Não! O que diabos eu estava pensando?)

Aquelas palavras que passavam pela minha cabeça me surpreenderam e eu balancei a cabeça.

Não há necessidade de se segurar. O próprio Sig disse que queria tornar seu desejo realidade. Não foi essa a razão pela qual você trabalhou tanto até hoje?

(Não, não, isso não está certo. Estou apenas fazendo o que posso.)

Eu não queria ouvir aquela voz, mas mesmo que eu entupisse meus ouvidos, a voz não desaparecia. Como eu poderia parar essa voz que ecoava tão claramente na minha cabeça?

Eu não queria mais ouvir. Eu queria que aquela voz se calasse.

É a mesma coisa com as crianças. Você disse que é para realizar o sonho dele, mas na verdade...

"Não! Eu realmente quero ficar aqui para sempre!" Gritei em direção ao fundo do vale vazio. Pelo menos, nem que fosse por um momento, pensei que iria silenciar a voz louca que ecoava na minha cabeça.

Talvez meu grito tenha sido o gatilho.

Primeiro, o chão tremeu. Eu deveria ter corrido aí pois a medida que os tremores continuavam, uma tremenda sombra se insinuava do fundo do vale enquanto eu estava parado, completamente abalado.

"C-caranguejo...?"

Era ainda maior que o Grande Rei Caranguejo do Pântano. Talvez do tamanho do meu carro. O sol da manhã nasceu exatamente naquele momento, e quando o caranguejo virou, sua concha brilhou no sol como ouro.

Suas garras enormes me aterrorizavam, e eu recuava lentamente.

Eu era muito estúpido.

"Aliás, a fronteira é o rio, então não importa o que aconteça, não pule para dentro. Nem eu posso prever onde você vai parar depois de tentar forçar sua saída deste mundo."

O conselho de Deus passou pela minha cabeça. Continuei recuando de maneira descuidada, fazendo com que eu escorregasse pelo vão entre as cercas. Quando percebi a situação, já era tarde demais.

Meu calcanhar havia cruzado a fronteira, eu bati os braços inutilmente. Eu não conseguia nem gritar.

Caí para trás, para baixo, em direção ao vale profundo.


<3...

Só depressão esse capítulo

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