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A iluminação da cela parecia mais clara a esse horário.

Podia-se dizer que era dia?

Não, não era de certeza. Abaixo do mar, em Impel Down, o dia e a noite eram como a direção queria que fosse.

A alimentação precária, insuficiente e pouco saborosa havia acabado de ser servida. Mesmo sem muita vontade, ela comeu sua parte da comida, pois não sabia quando seria a próxima vez que tal coisa viria. Enquanto mastigava o pão seco, as memórias de sua captura lhe nauseavam o estômago mais uma vez, não gostando da lembrança do rapto alguns dias atrás. O chão e as paredes frias da cela onde estava confinada lhe amassavam a pele e os músculos, fazendo seus movimentos se atrofiarem pouco a pouco. A corrente presa em seu pé incomoda, arranhando sua derme com o metal gelado, e a fechadura inquebrável da cela se mistura na escuridão daquele andar da prisão, e um pouco de sua energia se esvaia cada vez que mesmo olhava para ela.

Hoje algo havia de diferente. A sensação de inquietação dentro do peito da garota fazia as batidas de seu coração ecoarem como tambores. Pelas provocações dos guardas, ela descobrira que seria o dia que marcaram sua execução.

Ela nunca tinha pensado sobre sua morte. Sua eu infantil imaginava uma morte em uma realidade onde já estaria idosa, com uma família formada. Onde seus netos correriam pelo seu navio, desejando serem uma pirata "legal" como a vovó, ou famosos e poderosos como seu biso mundialmente conhecido. Morrer aos 19 anos, capturada pela marinha, não fazia parte de seus planos! Servir de objeto para o governo expor em seu espetáculo, apenas para exibição, e para chamar a atenção de seu pai. Nossa, como ele deveria estar decepcionado!

Um suspiro de cansaço escapa novamente de seus lábios, e ela deixa sua cabeça cair para a frente, sendo sustentada pelo seu corpo, preso à parede por grossas correntes com oceanite.

- O que se passa, senhorita raposa?

A perda de sua total consciência pessoal e racionalidade apenas não se deram graças a dádiva da companhia daqueles que dividiam a cela junto a ela. Na umidade suja, podia-se ver a considerável distância entre as figuras mais altas que compartilhavam com ela aquele oxigênio precário do nível 6. Houveram diversos dias em que sua voz preenchera aquelas paredes nos momentos em que tentava extravasar a frustração através da conversa. Embora em grande parte do tempo falasse mais pra si mesma, o homem de pele azul mais próximo às grades lhe trazia conforto, lembrando-a de que não estava sozinha ao responder seus delírios com conclusões mais sensatas.

- Jimbe, você acha que fui uma decepção pro meu pai?

Ao pronunciar as palavras, sua voz sai tão baixa que ela duvida que o homem tenha escutado. Porém, ela tem certeza de que sua voz foi escutada ao escutar o tremelique da corrente do seu outro companheiro de cela, o rapaz mais jovem que se mantinha calado por grande parte do tempo. Em momento algum desde que ambos entraram ali juntos, após serem capturados em mesma situação, ela o viu derramas uma só lágrima. Sua expressão sempre baixa, no entanto, revelava que era tudo o que seu corpo e mente ansiavam por fazer a todo momento.

- Por que você está pensando nisso?

A voz calorosa e forte do homem tritão a traz um conforto estranho. Jimbei transmite uma aura sensata, que a faz sentir totalmente o contrário do que esperado. Ambos os três habitantes da cela estavam encobertos em sangue e sujeira, porém, Jimbei se apossava de feridas recentes, tendo sido recém espancado por um guarda ao insinuar que havia alguém tentando fugir da prisão.

- Eu achei que era forte - os soluços se misturam enquanto um risada escapa da garganta, e finas listras de lágrimas invisíveis mancham a sujeira do rosto da jovem - aquele idiota! Espero que ele morra, morra, morra!

Neblina - Portgas D. AceOnde histórias criam vida. Descubra agora