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O garoto observava a paisagem ao redor. Os campos se extendiam brevemente tomando a forma de um lençol verde e brilhante de vegetação. Ao alto de um dos pequenos morros, uma estrutura cinzenta se erguia de maneira imponente. Isolada, especial.

A lápide de Edward Newgate se destacava contra o brilho azul do horizonte, iluminando a superfície pálida do mármore e do concreto. O aroma floral e campal envolvia o ambiente, sendo carregado pela brisa fria soprada naquela manhã, que trazia na boca o gosto da tristeza, carregada de melancolia.

Murakumogiri caía sobre a enorme lápide pertencente a seu antigo dono, conforme seu metal refletia o brilho dourado do sol. Os raios solares se direcionavam às flores ao pé da sepultura, realçando suas cores, seus aromas, os pedaços vivos de luz e alma presentes em suas pétalas.

O colar de flores na cruz de Newgate também brilhava, destacando-se abaixo da bandeira de sua tripulação, que tremeluzia com o soprar dos ventos, eternizando e lançando para o mar as lembranças vividas no antigo navio da qual uma vez decorou o mastro. Petúnias, margaridas, carmelias, calêndulas, tulipas...os mais diversos tipos de presentes florais possíveis em adorno à memória do pirata.

Mas nenhuma, nenhuma delas chamava tanta a atenção de Ace como os hibiscos acima de sua lápide. Eles eram vermelhos como o sangue, escondidos do sol pela grande capa do túmulo de Newgate ao seu lado. Mas, mesmo na escuridão, aquelas pétalas tinham seu brilho e cor únicas, quentes como fogo, de tom familiar.

- Como o mundo vai reagir ao descobrir que meu caixão está vazio? - Ace pergunta, fixando novamente os olhos para cima, na direção da estrutura gigantesca feita para honrar sua memória. Aquela lápide poderia ter facilmente dois metros e meio de altura, e a de seu pai, pelo menos três vezes o tamanho.

- Vai pegar fogo - Marco sorri, feliz por estar ao lado do irmão em vida, podendo gastar esses momentos ao seu lado com trocadilhos idiotas.

Ace não mostra os dentes de volta, elevando apenas o canto dos lábios, se aproximando da sepultura de seu pai, com cuidado para não pisar nas flores. Ele mesmo deposita as flores que ele mesmo trouxe. Talvez o buquê fosse meio desajeitado, mas o gesto transmitia toda a falta que Ace sentiria do pai.

Seus dedos tocam o mármore frio, e o contraste de temperatura lança um arrepio através de sua coluna. Uma lágrima corre solitariamente por seu rosto, repousando em seu queixo antes se precipitar e cair sobre a pétala de alguma flor. Ace faz preces silenciosas, mesmo nunca tendo acreditado muito em Deus, ele achou que naquele momento seria o ideal a fazer em relação aos seus sentimentos.

"Pai, prometo que vou te orgulhar, e carregar seu legado comigo pelos 7 mares!" Ele pensa, olhando para os traços de seu pai ali presentes, e se vira para ir embora.

Dedos grandes e calejados, mas incrivelmente suaves tocam os fios negros de Ace, afagando seu cabelo em um sinal carinhoso, antes de lhe deixar um tapinha nas costas.

- Ei, Marco! Isso doeu.

- Ah? - ele responde de alguns metros a frente, trazendo as mãos aos bolsos e inclinando a cabeça para trás- O que foi, Ace-yoi?

- Você tá aí? O que- - o mais novo se vira rapidamente, procurando de onde havia vindo aquele toque, encontrando apenas o lugar vazio onde estavam.

E Ace foi embora, ainda com o fantasma do toque de seu pai, desejando poder ter tido apenas mais uma daquelas congratulações em sua vida.

A descida é lenta e melancólica, acompanhada de fantasmas e lembranças de seu passado, o cheiro de incenso e ervas queimadas agora se distancia um pouco mais, e o gosto do saquê se torna mais ameno em sua boca. Pensamentos percorrem sua mente como um filme, o invadindo de questões "E se eu tivesse escutado ele?" "E se tudo tivesse sido diferente?" "E se Tatch nunca tivesse ficado sozinho aquela noite?"

Neblina - Portgas D. AceOnde histórias criam vida. Descubra agora