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O mundo condensado ao redor se dissolvia e era levado pelo vento.
Elara corria entre os caminhos abertos de um campo de plantações de lembranças. Como culturas de trigo, as memórias cresciam brilhantes para além de seus joelhos, fazendo cócegas em suas pernas por baixo do vestido.

O ar era denso, porém puro. A sensação de pisar no campo verde trazia calor aos pés. O chão convidava fortemente para que a garota se deitasse, e assim ela o fez. Se recostando sobre o trigo cristalino, ela descansa suas costas e sente o cabelo escorrer entre as plantas.

Aroma suave de capim úmido e chá eram calmantes para os nervos agitados. A garota aproveita o momento de paz e tranquilidade, mascando trigo abaixo dos fracos raios solares que chegavam sobre ela naquele início de manhã. Ocasionalmente, Elara percebe algo ainda mais incomum nos grãos ao redor. Imagens turvas brilhavam em cada grão de cada espiga.

Fascinada, ela engatinha pelo campo, assistindo as imagens gravadas como um show fotográfico. Porém, em algum momento ela começa a reconhecer essas imagens, seus lugares, as pessoas presentes neles. Em poucos ou nenhum desses momentos ela apareceu, salvo quando a figura retratava uma visão clara do vasto mar, e sua silhueta brilhava lá.

Pouco a pouco, foi impossível de não compreender a presença de tudo aquilo, ou seu significado. Reconheceu todas aqueles imagens, lembrou daquelas vivências. Cada um daqueles grãos de trigo do extenso campo representava uma pequena memória enterrada em sua mente.

Curiosa, ela corre pelos campos, sorteando os gérmens de trigo fincados na terra. Agacha ocasionalmente, observando as memórias como álbuns de fotografia, enquanto sente a pequena brisa fria passando por suas pernas. O clima do ambiente era ameno e confortável. O cheiro de grama molhada se misturava ao ocre e sufocante cheiro de fumaça que se intensificava abaixo de seu nariz. O ambiente fresco se tornava mais quente, e as memórias...

Elara levanta subitamente de seu lugar deitada entre a grama molhada. A atmosfera se tornava cada vez mais sufocante, e era possível observar uma nuvem densa e escura de fumaça se aproximar. Os passos se apressam, e ela corre até a beira da clareira, buscando escapar daquele cerco sufocante, antes que fosse atingida pelo gás quente e cinza.

Seus pés a levam a avançar pela floresta. As árvores se tornam cada vez maiores e a floresta mais densa. As chamas a seguem, devorandoo toda a paisagem que fica ao redor. A fumaça fazia seus olhos arderem, dificultando sua visão a medida que ficava cada vez mais difícil manter as orbes abertas.

De repente, a floresta acaba em um grande precipício. As pontas dos pés da ruiva são a unica coisa que a sustentam na beirada com a parada repentina. Abaixo dela, um mar vermelho se extende infinitamente. E as suas costas, o calor a alcança, queimando sua pele até que a dor a faça desequilibrar, e ela cai em direção ao mar.

A sensação sentida ao impacto com a água são de ossos se quebrando em todo o seu corpo. A água do mar está gelada, intensificando a ardência dos ferimentos internos, enquanto alivia a queimação em suas costas. Seus pés se movem tentando levà-la á superfície, mas seu corpo pesa, não a permitindo nadar.

Sua última visão antes do desmaio é do mar vermelho escurecendo enquanto sua matéria afunda rapidamente na imensidão fria e vazia.

***

As ondas fortes batiam contra o casco do navio, duras e fortes como facas, ameaçando quebrar a madeira a todo momento. O timão do navio era duro de se movimentar, como se ele mesmo estivesse com medo de se mexer diante tal imensa tempestade.

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⏰ Última atualização: 8 hours ago ⏰

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Neblina - Portgas D. AceOnde histórias criam vida. Descubra agora