Eu era só mais uma.

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"Pero no se quien soy.."


No outro dia durante à tarde, teria consulta médica. Então não fui à escola de manhã, tive que ir até o meu trabalho, limpar o quarto em que ficava lá. Aquilo era horrível pra mim, mas com um tempo eu comecei a me acostumar, quando você percebe que acabaria ali. A Camila não saia da minha cabeça, o toque dela fora especial pra mim, pela primeira vez, era algo que eu quis que eu não queria dinheiro em troca. E mesmo que ela me desse, eu não aceitaria. Quando tudo ficou pronto, fui à direção do ponto de ônibus, indo para a minha consulta. O médico se atrasou um pouco, mas logo entrei em sua sala, sentando numa velha cadeira. Ele olhava meus exames, os óculos na metade de seu nariz, de vez em quando desviava seus olhares para mim.


- Então Lauren, você sabe que o seu caso é impossível né? - Arqueou as sobrancelhas, observando minha expressão, mas eu já estava conformada.

- É, eu sei. Quanto tempo? - Torci os lábios.

- Uns três meses, querida. Desculpe. - Murmurou, ele sabia como ser gentil. Bom, na verdade não é muito gentil dizer a alguém que tem câncer que ela tem três meses de vida, mas era o trabalho dele. Sim, tenho câncer. Leucemia há muito tempo, só que não comecei a tratar antes, então agora tratava só que o caso já era impossível de ser revertido, então era a morte que me esperava. Em três meses, três meses depois de ter encontrado a mulher da minha vida. Mas essa fora a única herança que meus pais me deixaram. Uma doença.

- Esses são os remédios que você precisa tomar. - Disse ele, me entregando mais drogas.

- Pra quê? Eu vou morrer mesmo. - Pela primeira vez, eu não queria isso. Eu não podia me conformar agora. Eu queria a Camila.

- É, mas se não tomar vai adiantar as coisas. - Passou a mão pela minha, e sorriu com pena.

- Está bem. - Peguei a receita.

- Volte para os próximos exames, o Luis não parou de paga-los.

Sim, era o Luis quem pagava meus tratamentos, e por isso eu não podia deixa-lo. Eu morreria mais cedo sem ele.

Quando sai da consulta, as lágrimas percorreram meu rosto. Aquela era a primeira vez depois de anos que eu havia descoberto que aquilo realmente me doía. Talvez porque estivesse tão próximo, talvez porque eu não poderia fazer o que eu sempre quis. Talvez porque eu deixasse a Camila, antes mesmo de podê-la fazer feliz. Senti vontade de atirar meu corpo de encontro a qualquer carro, e adiantar tudo isso, antes que ela se apaixonasse mais, eu teria que contar a ela, mas eu não queria que ela me tratasse como uma doente. Eu não precisava disso, eu só precisava ser feliz. Ser feliz com ela. Peguei meu celular, e decidi ligar pra ela.


- Alô? - Disse uma voz masculina do outro lado.

- Oi, por favor, a Camila? - Achei estranho, mas continuei. - Diz que eu preciso falar com ela.

- Olha, aqui é o Austin, e a Camila acabou de ir pro banho, sabe como é né. - Riu malicioso. Não consegui responder, respirei fundo, tentando organizar minhas ideias, tentando entender que ele era seu namorado, mas não conseguia. Fiquei chorando em silêncio, até que a voz me alertou.

- Moça? Quer deixar recado? - Disse ele curioso.

- Não! - E desliguei o celular, me conformando de que ela não queria nada, apenas descobrir se era hétero ou não, e descobriu. E já estava lá, nos braços daquele garoto mais uma vez. Depois de ter ficado todo o tempo comigo, depois de me conhecer de verdade. Eu não acreditaria mais nela. A partir de hoje, eu a deixaria longe da minha vida. Pra sempre.

Ela é da rua, mas é minhaOnde histórias criam vida. Descubra agora