É preciso amar, as pessoas..

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"Como se não houvesse, o amanhã.."

No outro dia Camila foi cedinho pro colégio, eu não ia mais. Decidi que faria um supletivo no começo do outro ano, já havia perdido um bom tempo desse ano, então não valia mais a pena. Nessa noite tinha feito frio, então eu dormi com uma calça folgada de moletom e um top. Eu estava lá, ainda rolando na cama quando ouvi o barulho da campainha tocar, deslizei pra fora da cama, e coloquei sandálias velhas, caminhei até a porta ainda esfregando os olhos, quando a abri, pensei ter visto a pior coisa da minha vida.

- Lauren! - Era o Luis, havia voltado, e estava lá, abrindo os braços, e correndo ao meu encontro.
- Oi.. - Sussurrei, enquanto ele me sufocava num abraço.
Logo ele caminhou até o sofá, se sentando a vontade, enquanto eu fechava a porta nas suas costas. Caminhei até o sofá também, me sentando no da frente dele, e bati os dedos na perna impaciente. Então ele fez o que eu temia, se levantou rapidamente do sofá, e jogou seu corpo sobre o meu, me fazendo cair deitada no sofá, ajeitou minhas pernas sobre o mesmo, e ficou com as suas uma de cada lado da minha cintura, tentou beijar meu pescoço, mas eu o segurei com toda força que pude.
- Não, não.. - Continuei segurando com a pouca força que tinha, colocando minhas mãos nos seus ombros.
- Não o que? - Sentou, pesando sobre a minha barriga, respirei fundo.
- Não quero mais fazer isso, eu estou saindo dessa vida. - Tentei levantar, mas ele continuou pesado, e levou suas mãos até o meu ombro.
- VOCÊ ESTÁ LOUCA? VOCÊ ACHA QUE É ASSIM? - Apertou meus ombros com força, e em seguida escorregou suas mãos pro meu pescoço, apenas segurando. - ESCUTA AQUI, ISSO NÃO VAI ACABAR FÁCIL PRA VOCÊ.. - Então começou a apertá-lo, e a respiração foi ficando cada vez mais complicada, já que ele ainda pesava sobre mim, além de apertar meu pescoço.
- Pa-pá-ra.. - Respirei fundo, já não conseguia manter os olhos abertos. Senti o ar fugir de mim, eu estava parando de respirar, sem conseguir fazer nada. Nada..

Então quando ele viu que eu estava ficando pálida, afastou suas mãos.
- Lauren? Lauren? - Disse desesperado me sacudindo, por sorte ele não tinha me enforcado tanto, então ele encostou seus lábios nos meus, mas não me beijou, apenas tentou me passar teu ar, viu que eu já ficava meio corada, mas seus olhos estavam vermelhos, e ele tentava a todo custo não chorar. Aquilo doía, não queria que a morte doesse tanto. Revirei os olhos, e consegui enfim suspirar, recuperando todo o ar que podia, ele saiu de cima de mim, correu pra cozinha, pegando um copo de água, trazendo em seguida.
- Toma, toma logo. - Enfiou em minha boca, tentando me fazer melhorar, eu tentei engolir, mas a dor me fazia querer colocar tudo pra fora de volta, então escorreu um pouco pelo meu rosto, enquanto eu tossia feito uma idiota. - Me perdoa, me perdoa, eu não vou te matar, eu não vou. - Limpou meu rosto desesperado.
- Sai.. - Disse abafado, ainda tentando ficar bem.
- Mas.. - Ele não discordou, sua consciência pesava agora, saiu correndo da casa, e bateu a porta atrás de si.

Permaneci deitada, o top molhado pela água que ele tentou fazer com que eu engolisse, e o pescoço marcado, até que fiquei tonta, e acabei dormindo. Acordando com a Camila berrando em cima de mim quando chegou.
- Lolo? Lauren? - Seu grito já se tornava desesperado quando eu acordei.
- Oi.. - Fui me sentando totalmente atordoada, enquanto ela me abraçava.
- Graças a deus. - Suspirou.
- Eu te amo.. - Murmurei, nunca tive tanto medo que algo acabasse.
- O que aconteceu? - Apontou as marcas no meu pescoço.
- Não, não me pergunta.. - Abaixei a cabeça.
- Tá.. - Suspirou novamente, beijou minha testa. - Para de me dar sustos, para.
- Vou tentar. - Ela riu, me colocando no colo em seguida, passeou seus dedos pelos meus cabelos, e enrolou algumas mechas nos mesmos.
- Temos que ir embora daqui. - Concluiu.
- Que? - Arqueei uma das sobrancelhas.
- Eu quero ir embora! Quero logo. - Reclamou, eu apenas fechei os olhos, iria pra qualquer lugar com ela.
Depois de muito tempo no seu abraço, decidi que mesmo sem querer, teria que contar tudo a ela. Fui me sentando, enquanto ela encarava meus olhos com um ar de dúvida, e de medo de ser magoada. Eu não queria magoá-la, mas se iriamos embora, precisávamos colocar tudo em pratos limpos. Ajeitei-me em sua frente, e comecei a falar. Contei tudo, desde que ele virou meu cliente, sobre meus tratamentos, e sobre o medo que sentia que ele acabasse comigo. Ela ouviu tudo, e parecia mais chocada a cada instante, sua boca se abria, mas ela nada dizia.
- ... E foi isso que aconteceu. - Falei quando terminei de contar sobre o que tinha acontecido. Suspirei, e esperei que ela falasse alguma coisa, mas ela continuou calada. - Me perdoa.. Era tudo com ele, eu não esperava encontrar alguém como você na minha vida, e agora que eu encontrei, eu o quero longe.. - Entortei os lábios.
- Hm.. - Foi a única coisa que ela disse aquela hora, enquanto seus olhos procuraram os meus, que marejavam, ela queria ter certeza daquilo.

- Eu juro.. Eu nunca fui de alguém como eu sou sua. E eu prefiro morrer se me tirarem de você. - Então uma lágrima escorreu de um dos olhos dela, que marejavam da mesma forma. Cuidadosamente ergui minha mão até o seu rosto e limpei suas lágrimas, ela segurou minha mão e a puxou em seguida, colando nossos corpos carinhosamente.
- Temos que ir, por favor.. Vamos comigo. - Começou a chorar desesperadamente, enquanto apertava meu corpo de encontro ao dela, eu chorava baixinho também, a cabeça encostada em seu ombro.
- Vamos.. - A apertei novamente, e me afastei um pouco, encostando nossas testas. - Eu vou pra qualquer lugar com você. - Sussurrei por fim.
- Vamos amanhã. - Colocou suas mãos no meu rosto, continuava a chorar.
- Uma semana, as aulas tão acabando e não quero que perca seu diploma. - Fechei os olhos.
- Eu não posso perder você. - Selou nossos lábios.
- Você nunca vai me perder, nada vai nos separar, nada. - Prometi, e voltamos a nos abraçar, tentando acalmar uma a outra.

Quando estávamos calmas o suficiente, segurei sua mão, puxando-a delicadamente na direção do quarto, ela sorriu, e caminhou comigo. Quando entramos no quarto eu encostei a porta devagarinho e fomos até a cama, ela deitou e eu deitei por cima dela, apoiando o corpo em um dos braços para não me deixar pesar tanto. Ela fechou os olhos e voltou a sorrir, então eu inclinei meu rosto pra frente, tocando seus lábios carinhosamente com os meus, ficamos nos beijando assim por muito tempo, apenas passeando nossas línguas e explorando uma a outra. Aos poucos nossas roupas foram tiradas, e nossos lábios trocaram de lugar, provando uma o corpo da outra, o gosto, o cheiro. Sentindo cada pedaço ficar mais quente pelo toque da língua da amada, nossas mãos procuraram o lugar certo para tocar, o roçar de pernas se tornou mais frequente, os corpos se juntaram se uniram, se transformaram em um só, até caírem cansados, um ao lado do outro, os lábios sorriam sem que pedíssemos, e as mãos se seguravam, acariciando uma a outra. Logo os corpos se juntaram novamente, mas agora, era apenas pra descansar, pra sonhar, pra esquecer todo o resto por algum tempo. Depois de fazer amor com ela, eu esquecia todo o resto. Eu dormia pensando nela, pensando no quanto a amava, e no quanto eu era feliz.. Dormia com o seu gosto ainda nos lábios.
Tive um sonho estranho naquela noite, eu estava numa praça com a Camila, tomávamos sorvetes e ríamos de qualquer besteira. Não éramos tão novas quanto antes. Até que do outro lado da praça, surgia um cara estranho, sua aparência era velha também e tinha um semblante cansado, de decepção. Ele encarou meus olhos, e eu não consegui desviar. Ele não deixava de me olhar fundo, ele não me deixava respirar. Ele não me deixaria.
- Não! - Gritei, enquanto sentava na cama suada pelo sonho, não tinha acordado a Camila, então apenas virei meu corpo de encontro ao dela, abraçando-a com toda força que tinha. Mantendo-a protegida. Eu nunca deixaria de protegê-la.

POV CAMILA
Quando eu acordei, senti o pesar dos braços da Lauren sobre o meu corpo, sorri levemente, enquanto virava meu corpo preguiçosamente e tirava seu braço de cima de mim. Ela não se mexeu. Beijei sua bochecha, e levantei. Fui em direção à cozinha logo em seguida. Sabe quando você para e pensa? Como se você não precisasse de mais nada? Não precisasse estudar, sair de casa, nem nada. Só precisava daquela pessoa, como se ela fosse o ar, e tudo o que te mantém em pé, como se a sua vida dependesse da dela, como se um sorriso dela te fizesse ser feliz pelo resto da vida? Eu me sentia assim em relação à Lauren, ela tinha aquele jeitinho bobo de dizer que me ama, e eu sempre soube que ela não era feita para aquela vida. E daí que eu me apaixonei por uma garota de programa? Ela agora é a minha garota. E eu vou fazer ela feliz, porque ela merece, merece muito mais. Continuei perdida em pensamentos enquanto pegava uma bandeja, cortei morangos e coloquei com leite condensado num potinho, coloquei torradas, leite e suco. E uma flor que estava num potinho sobre a mesa, caminhei novamente na direção da quarto e coloquei na lateral da cama, ela continuava dormindo. Levei meus lábios ao encontro dos dela, e comecei a beijá-la devagarinho, aos poucos ela foi acordando e correspondendo ao meu beijo. Segurou minha nuca delicadamente, e eu fiquei acariciando seu rosto. Aos poucos fui me afastando, gritei.
- BOM DIA!! - Apontei pra bandeja ao lado da cama, e ela foi se sentando, logo sorrindo ao ver.
- Awn, que fome. - Sussurrou, puxando a bandeja pra perto dela em seguida.
- Diz bom dia pelo menos sua gorda. - Ria enquanto ela atacava os morangos.
- Bom dia, mor. - Respondeu de boca cheia, rindo em seguida.
Eu adorava aquele jeito dela toda boba, eu tinha certeza que tinha a mulher mais criança do meu lado. E era isso que me alegrava.

Ela é da rua, mas é minhaOnde histórias criam vida. Descubra agora