BEHIND - Execução

Prólogo

Eu não posso acreditar, não posso.

Isso é mesmo real?

Só deve ser um tipo de pegadinha.

Vejo o médico saindo pelas portas dessa sala branca e sem vida.

- Vovô, isso é uma piada, certo? - Pergunto o olhando, esperançosa.

- Minha menina, todos sabiam que isso ia acontecer em algum momento. - Diz olhando-me diretamente, com aquele olhar cheio de doçura e carinho.

Eu sei, a morte é inevitável, mas não deveria ser para o meu avô, ele é a pessoa mais forte que conheço, sempre se preocupa com todos e faz questão de demonstrar isso. Eu não posso acreditar que tenho apenas mais cinco meses ao lado da pessoa que me criou e que me amou, independentemente.

Sinto sua mão fria nas minhas, eu estou fazendo o possível para não desabar aqui mesmo, porém não quero preocupá-lo, e ele sabe exatamente o que se passa em minha mente agora.

- Eu deveria ligar para a mamãe? - O pergunto, insegura.

Minha relação com a minha mãe é um pouco complicada, ela é uma boa pessoa, mas não conseguiu abandonar sua vida, mesmo após ter uma filha. Ela é arqueóloga, nunca para em apenas um lugar e sabia que não conseguiria trabalhar sem a aventura que ela já vivia. Após a morte de meu pai, que se foi quando eu tinha apenas quatro meses, ela disse a meu avô que não saberia cuidar de mim e iria me colocar para a adoção, ele rapidamente discordou e disse que cuidaria de mim, melhor do que qualquer um.

Ele estava certo, ninguém seria melhor para isso quanto ele.

E mesmo após tudo isso, eu não posso culpá-la, ela é apaixonada pelo o que faz e perder alguém que se ama não parece nada fácil, e eu estou prestes a sentir isso na pele.

- Sobre isso querida, eu não queria dizer isso assim, mas eu acho que agora não tenho opção. - Diz com um sorriso, um triste sorriso - Ela irá se casar novamente, disse que vai voltar para Atlanta de vez, mas antes precisa de um ano.

Eu ouvi bem?

- Vovô isso é um absurdo! Sei que a vida dela é importante para ela, mas a sua é importante para mim, e sei que para ela também.

Casar? Ela vai se casar e nem pensou em me avisar?

- Yuna, me prometa uma coisa? - Seus pequenos e puxados olhos lacrimejam. - Me prometa que após esse tempo que eu tenho, após minha morte, você irá fazer aquilo que sempre quis, seguir seu sonho e não parar até conseguir.

- Eu não posso fazer isso...

- Você pode minha filha, não tem ninguém mais qualificada que você para isso, eu te treinei com minhas próprias mãos, e não passamos a maior parte da sua vida fazendo isso atoa. - Ele sorri, um sorriso verdadeiro dessa vez.

E ele está certo, passei maior parte da minha vida treinando para ser uma agente do FBI, meu avô não gostava muito dessa ideia no começo, mas decidiu me treinar após um acontecimento traumático, e então, achou que eu precisava me defender sozinha. Ele viu talento em mim, além de ter me ensinado karatê, fez questão de pedir ajuda a alguns de seus amigos para me ensinarem outras especialidades. Seus amigos amavam falar que meu avô era o melhor espadachim que já pisou na terra, ele desmentia sempre que podia, mas era só vê-lo usar uma espada que todas as suas palavras não valiam de nada.

O passado de meu avô no Japão ainda é um mistério pra mim.

- Jeffrey e Kwang deveriam saber, não é? - O lembro de seus velhos amigos, e meus professores.

- Não se preocupe querida, ainda teremos tempo para isso, foque agora em terminar a faculdade, faltam só alguns meses, não é?

-Sim vovô, três meses. - Falo um pouco cabisbaixa.

A faculdade, ou esse sonho, agora parecem sem sentido algum.

- Yuna, me prometa que vai seguir seu sonho. - Toca mais uma vez em minhas mãos.

O ver deitado daquele jeito, tão pálido e fraco, são imagens que eu nunca vou esquecer, mas sei o quanto ele se esforçou para me fazer ser quem eu sou hoje, não quero decepcioná-lo.

-Eu prometo, vou ser a melhor agente que já passou por aquele lugar.

Talvez vocês tenham muitas perguntas, mas tudo vai ficar claro ao decorrer do livro.

Um grande beijo queridos!