Tarde Tempestuosa e Vinho Quente

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— Já escolheu o filme? — perguntou Great ao voltar para a sala com duas taças de vinho e uma pizza que havia pedido para seus seguranças comprarem.

O tempo lá fora era tempestuoso e frio. A névoa não permitia ver além do chalé, apenas algumas árvores que o cercavam. O céu num tom de azul escuro e meio acinzentado deixava tudo ainda mais melancólico. Os ventos eram fortes e uivavam no telhado de madeira, também balançavam as árvores de maneira brusca.

Chon via através da janela os milhares de flocos de neve que caíam e se misturavam ao gelo do chão; como o calor fazia falta. O clima seco de Bangkok e os dias ensolarados faziam tanta falta para Chon, que já estava se acostumando a ficar preso ali, vendo as mesmas coisas todos os dias.

Chon e Great não voltaram a falar sobre o acidente que havia acontecido há poucos dias, Great não queria, muito menos Chon.

Tudo estava "bem", mas os planos de Great eram outros, foram bem pensados, claro, mas doeria em ambos corações.

— Eu não sou bom em escolher filmes, P'Great, por isso deixei que você escolhesse! — sorriu cinicamente e Great o olhou negando com a cabeça.

— Vem, senta aqui e vamos assistir alguma coisa.

Como lhe foi pedido, Chon sentou ao lado de Great e passou o cobertor por suas pernas, também pegou de sua mão uma das taças. Tudo estava tão monótono àquele final de tarde, que parecia um belo e entediante feriado. A cor azul escura do céu refletia na sala através das janelas, que tinham suas persianas abertas. A sala era iluminada pela chama que saía da lareira e aquecia o lugar. O sofá era enorme, mas Chon queria ficar perto de Great, assim como o mesmo queria ficar perto de Chon.

Um filme qualquer fora colocado na tv, e por mais entediante que fosse, os dois prestavam atenção como se ali passasse a melhor das séries, mas, com pouco mais de quarenta minutos de filme, aquilo se tornou completamente entediante e eles focaram em acabar com o vinho quente. Era tão bom, tão doce e literalmente quente, Chon bebia como se fosse copos de água. Eles brincaram e riram com suas piadas sem graça.

Great havia se tornado outra pessoa, graças a Chon. Sua expressão não era mais tão fria e séria, e seu sorriso perfeito surgia várias vezes ao dia apenas por olhá-lo. Algumas pessoas tem o poder de mudar as outras.

— É muito bom! — disse Chon, que já estava falando molinho — Onde você comprou? Qual é o tipo de vinho? — perguntou curioso.

— Eu tenho muitas bebidas quentes aqui, Chon, mas essa eu mesmo fiz. É um vinho branco, bom, não é?

Ele concordou e tomou o restinho que tinha na taça. Seus olhos eram pesados e perdidos, ele estava completamente fora de si, então adormeceu no ombro de Great e ele endireitou-se no sofá, assim deitando e puxando Chon para um abraço. A tv foi desligada e a luz azul-acinzentada predominou no lugar. O mundo lá fora pareceu parar, pois tudo ficou silencioso, mesmo que estivesse caótico. O único som que Great conseguia ouvir era o coração de Chon, que batia calma e suavemente contra seu peito, logo ele também adormeceu.

O que era para ser a tarde de filmes, virou a tarde de descanso e vinho para ambos, mas Great estava preocupado. Enquanto dormia, sua mente viajava entre seus piores pensamentos. Ele estava num estágio do sono entre dormir por completo e estar acordado. Ele não parava de pensar em Chon, pensar que em pouco menos de uma semana teria que separar-se dele. Mesmo que tudo tenha sido deixado de lado, os momentos não seriam deletados de suas mentes. Great sentia que Chon estaria desprotegido sem sua presença, mas era fato que, o garoto estaria bem melhor do que se estivesse com ele...

Era tão complicado entender seus sentimentos. Era tão doloroso pensar que teria que deixá-lo ir sem que ele ao menos soubesse de tal sentimento, mas, para Great, a segurança de Chon vinha antes de tudo, e se para mantê-lo seguro ele tivesse que deixá-lo, ele o faria!

O abraço de Great deixou Chon aquecido e protegido, ele dormia pesadamente entre a coberta e os braços do maior. Dali para frente, o tempo passou devagar, pareceu parar e não andar de jeito nenhum. A melancolia de um dia de neve deixou tudo mais fofo para ambos, pois eles dormiram embolados no outro, presos no calor transmitido por seus corpos, sentindo o perfume doce de Chon e o cheiro forte do perfume de Great. Sentindo o coração bater calmamente no peito do outro...
Parecia o paraíso que estava prestes a acabar...

Antes de escurecer por completo, Chon acordou sentindo seu estômago revirar. Ele sabia que não conseguia beber muito, mesmo assim insistia. O chalé estava totalmente escuro, pois a lenha da lareira havia queimado por inteiro enquanto eles dormiam. Ele levantou depressa e correu para o banheiro, e quando isso aconteceu, Great correu atrás do mesmo, assustado pela ação brusca, mas só encontrou um garotinho enjoado sentado no chão do banheiro.

— Você sabe que não aguenta beber muito, não sabe?! — perguntou calmamente e ele apenas assentiu, então Great sentou-se ao seu lado e puxou sua cabeça para encostar ao seu peito; ele relaxou — Se sente melhor agora? Vai tomar um banho. Você precisa descansar e não vai mais beber desse jeito.

— Mas P'...

— Sem mas! — o interrompeu — Vem, levanta e tira essa roupa. Enquanto você toma banho eu vou fazer algo para você comer.

— Você aprendeu? — perguntou surpreso, pois a interrogação pairava acima de sua cabeça.

— Só o que você me ensinou, esqueceu?! — respondeu sincero enquanto saía do banheiro.

— Eu vou cozinhar pra você — disse timidamente e sentiu suas bochechas arderem ao ter os olhos de Great voltados para si —, quero dizer... eu posso te fazer algo novo pra comer... — Great sorriu.

— Eu espero você lá embaixo. — Chon retribuiu o gesto e Great fechou a porta ao passar.

Um Presente do AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora