À noite chegará depressa e ela era escura lá fora. Os ventos ainda uivavam no telhado de madeira e o assovio causado por eles percorria a casa, levando o ar gélido para todos os cômodos e os esfriando ainda mais.
Great estava pensativo enquanto mantinha seus olhos em Chon, que fazia chocolate quente para uma noite fria. Mesmo que seus olhos focassem no garoto, sua mente estava longe. Seus olhos brilhavam como nunca brilharam antes, e suas feições eram tristes e um pouco frias. O que de tão grave poderia ter acontecido entre o curto período de tempo em que Chon passou no banho? Algo realmente havia acontecido? De fato, sim, mas nada que envolvesse problemas maiores que Great. Seus medos e pensamentos o fizeram vacilar e desistir de algo que ele estava determinado a fazer!
Qual seria o momento certo para falar? Havia algum? Havia uma forma de doer menos em ambos? Não há maneira correta de terminar algo quando esse algo sequer começou...
— P'Great — chamou animado —, eu queria falar com v...
— Chon...
A voz fria e inexpressiva cortou secamente a voz doce e animada de Chon, fazendo-o estreitar as sobrancelhas em dúvida, seu sorriso tímido também sumiu, mas ele não sabia se estava mais surpreso por tal ação, ou por Great tê-lo chamado de Chon pela primeira vez desde que chegaram a Suíça. Ele estava sério e perdido, estava vagando entre espaços da sua mente barulhenta. Chon sentiu-se repreendido pela forma que Great o chamou, aquilo o pegou desprevenido e ele pôs sua xícara de chocolate em cima da mesa.
— Você sabe que voltaremos para Bangkok amanhã, não sabe? — perguntou e ele assentiu — Isso daqui foi tudo muito bom, e eu aproveitei muito o tempo que eu passei com você, mas a sua realidade é diferente da minha. Você tem sua vida, seus amigos, seu namorado... Você precisa voltar para eles!
— O que você quer dizer...? — perguntou temendo a resposta.
— Eu sinto muito por tudo isso. Sinto muito se passei a impressão errada para você e se de alguma forma você se apegou a mim, espero que isso não tenha acontecido, mas isso não tem chance de dar certo.
— Você está falando de nós...?
Chon estava querendo chorar, pois minutos antes ele estava prestes a dizer para Great como se sentia sobre ele, como se sentia sobre tudo. Sobre seu tempo juntos, as noites, as conversas, sobre o próprio Great, mas teve suas esperanças frustradas. Se ele pudesse, sairia correndo dali o mais rápido que pudesse, mas ele sabia que não poderia. Great tentava se manter firme perante a situação, mas seu coração doía e ele desviou os olhos dos de Chon.
— Estou. Arrume as roupas que lhe dei e leve-as com você. Partiremos depois das 02hrs...
Great levantou-se da cadeira e colocou sua xícara na pia, deixando ali um garoto completamente tristonho e perdido. Ele encarava o chocolate quente, que fazia fumaça sobre o copo, mas tocou o braço de Great antes que ele se afastasse, porém ele não o olhou.
— P'... eu... não sirvo pra você...?
Ouvir aquilo doeu. Milhões de facas pareciam ser enfiadas no coração de Great a cada segundo. Seu coração parecia ser espremido por todos os lados e sua única vontade era virar para o garoto e o abraçar o mais forte que conseguirá. Seus olhos se inundaram, mas ele não se permitiu chorar. Estava doendo saber que talvez aquilo fosse machucar Chon mil vezes mais do que Tonhon o machucou.
A mão fria de Chon sobre sua pele o fazia querer aquecê-lo. Fazia com que ele sentisse vontade de cobri-lo com um enorme edredom e abraçá-lo durante a noite. Estava doendo tanto... Chon estava com os olhos vermelhos e com o rosto molhado. Suas bochechas estavam coradas e seus lábios estavam pálidos. A ponta de seu nariz estava vermelha e ele tentava puxar o ar, mas parecia que ele estava gripado e não conseguia respirar corretamente.
— Não.
Great tirou a mão de Chon de seu braço e subiu para o banheiro. Todo o ar pareceu acabar para Chon. Ele estava sentindo quase a mesma dor de quando Tonhon o enganou. Chon sentou-se no chão da cozinha e se permitiu chorar. Fora a primeira vez que se sentiu tão triste com Great. Ele sempre cuidou de si, conversou, o fez rir nos momentos em que ele lembrava de Tonhon, o aqueceu nas noites frias, o manteve em segurança... O fez sentir especial...
As lágrimas caíam em meio aos soluços desesperados e ele abraçava o próprio corpo. Tudo que ele queria era voltar para casa, voltar para a Miriam, sua mãe, seus amigos... sua vida. Após pouco tempo chorando sozinho, Chon subiu para o quarto e agradeceu por Great estar tomando banho. Ele não queria nada que fosse dele. Não queria lembrar dos bons momentos na casa e nem de Great. Ele retirou as roupas do mais velho e as dobrou, pondo-as no closet e pegando as suas antigas de volta. Não eram nada quentes, mas ele preferia assim, então deitou no seu lado da cama e cobriu seu corpo por completo, impedindo qualquer entrada de ar. Seu choro e seus soluços eram abafados pelo travesseiro e, de tanto chorar, Chon adormeceu.
O chalé nunca pareceu tão frio quanto aquela noite, e ao sair do banho, Great viu a luz apagada e suas roupas no closet. Seus olhos também estava vermelhos, pois ele havia chorado quase tanto quanto Chon chorou sentado no chão da cozinha. Ouvir aquelas palavras sobre não ser bom o bastante fez seu coração doer mais do que já estava. Ele sabia que Chon era mais que o suficiente, mas era bom demais para alguém como ele. Para alguém tão... confuso e complicado, tão cheio de problemas.
— Vai ser melhor para nós que a gente se afaste... Eu não quero ver você no meu mundo... Não quero ver sua vida sendo arruinada por estar perto de mim...
Great deitou ao lado de Chon e, diferente das outras vezes que fizera o mesmo e o abraçou, dessa vez ele apenas deu as costas para o garoto.
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Um Presente do Acaso
Fiksi Penggemar"...estaríamos nós, sendo os principais espectadores, de uma 'teoria do caos'?! ChonGreat - Chonlatee & Em Busca do Bilhete Premiado. Mundos alterados.