8 - Could it shine down here with you?

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A primeira vez que Mingi viu Yeosang conversar diretamente com Deus, foi naquela noite. Ajoelhado ao lado da janela, com as mãos unidas, os olhos fechados, e o que parecia ser tanta, mas tanta dor...

O observou da porta, vendo como ele mantinha os olhos fechados, querendo chorar, sendo iluminado pela lua...

Mingi queria abraçá-lo. Se para ele já era doloroso, imagina para Yeosang, que era quem ia morrer.

-Senhor...não machuque o coração do Mingi, ele já sentiu dor demais, por favor...o proteja, Senhor, mantenha ele seguro e feliz, é isso o que eu mais quero.

Mingi respirou fundo, quase começando a chorar. Fazia pouco tempo que ele havia parado, não podia chorar de novo...

-Yeosang. - O chamou pelo nome, Kang parou no lugar, encarando o nada. Como se aquele não fosse seu nome. -Eu fiz o jantar.

Kang fungou, fazendo um som molhado. Ele assentiu com a cabeça e se levantou, sustentando o peso levíssimo de seu corpo nos próprios pés, e por Deus, pareceu ser tão pesado...

-Ah...eu vou. Já vou. - Ele falava baixo. -Estou meio sem fome.

-Venha comer mesmo assim. Eu fiz kimbap. E tem arroz frito. - Mingi suspirou. Eles ficaram em silêncio, Yeosang esfregava os olhos com as mãos, mesmo virado de costas para Mingi, era visível.

Ele não sabia o que falar. Era uma situação tão estranha, tão diferente, tão assustadora.

-Eu odeio esse clima. - Mingi murmurou. Segurou a maçaneta da porta e fechou. -Azulado, tão triste, tão sombrio....eu não quero te associar a isso, Yeosang.

-Mas é o que eu sou. - Yeosang murmurou. -Azul, triste e sombrio.

-Você é luz, Yeosang. Da Lua, do Sol, eu não me importo. Eu só sei que é luz. Você é benção e luz. Você é uma bênção disfarçada de humano.

Yeosang começou a chorar. -É tão difícil apenas saber de tantas coisas, Mingi. Eu queria poder não saber das coisas, não entender tudo...eu não estou chorando porque vou morrer, mas sim porque você não quer que eu morra.

Mingi se segurou para não chorar. Respirou fundo e foi até o Kang. O segurou pela cintura e o abraçou, Yeosang chorava em seu peito, em silêncio, respirando fundo, suspirando. Eles ficaram quietos por um longo, longo tempo. Foi demorado, foi triste. Pareceu durar uma vida inteira.

-Flor...- Yeosang murmurou, aquele era o novo nome de Mingi. -...Você fritou bem o arroz?

-Do jeito que você gosta. - Mingi falou de volta, fazendo carinho nos cabelos macios e curtinhos de Yeosang. -Especialmente pra você.

Yeosang era especial.

Ele riu. -Vamos comer, eu tô com fome.

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Mingi acordou devagar no dia seguinte, abraçado ao corpo pequeno de Yeosang. Kang dormia encolhidinho, quase em posição fetal, Mingi descobriu que ele roncava baixinho de noite, como um gatinho. Eles estavam na famigerada concha, Mingi para o lado de fora e Yeosang para o lado de dentro.

Mingi deu um sorriso e voltou a aninhar o rosto no ombro de Yeosang. Sentia de leve o cheiro de cereja dele, doce, suave. Queria dar um beijo no pescoço dele, para ver se também não tinha o gosto da frutinha vermelha.

-Mingi...- Yeosang murmurou, chutando os cobertores e acertando a canela do Song. -Tá apertando minha costela...

Song riu. Soltou um pouco os braços e beijou o ombro de Yeosang, que era coberto pelo pijaminha fofo dele, cheio de desenhos de estrelas e nuvens.

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