Seis

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Pov Juliette


Eu não sei o que estava acontecendo com Sarah, mas diria facilmente que ela enlouqueceu. Claro que consegui ouvir parte da wua discussão com o padre Não Sei Quem quando estava saindo da praça, ela não só é louca por discutir com aquele homem como também por dizer que seu irmão vai ficar bem. Eu gosto muito do Carlo, mas ele foi mordido por um lobisomem, caralho! Ele vai morrer!

Cheguei em sua casa com a cesta de ervas, mas sem Sarah, o que logo foi notado pela minha sogra.

— Onde está Sarah? — perguntou enquanto pegava a cesta das minhas mãos, instantes depois de ter se afastado do filho mais novo.

— Está vindo. Ela parou para... conversar com um grupo que chegou a pouco na vila. — tentei explicar de uma forma mais suave, não queria preocupar a mulher que já estava preocupada.

— Ela ficou discutindo com o padre Matthaus?! — Simon saiu da cozinha e perguntou aos gritos. E lá se vai minha tentativa de manter tudo calmo.

— Por que você não ficou lá com ela?! — Abadia gritou comigo. O que eu poderia fazer lá? Não tenho forças para enfrentar nada, se tivesse sairia nas caçadas junto com minha namorada — Ela pode se machucar!

— Ela me mandou trazer a cesta. — tentei me justificar — E Sarah é forte, ela consegue se defender.

— Mas não contra aqueles homens. — passou a mão no rosto, preocupada — Simon, chame o Gunter e vá atrás da sua irmã, façam o que precisar para traze-la com vida. — o rapaz assentiu e correu para os fundos da casa para chamar seu irmão — Só espero que não façam nada com ela. — resmungou, mas eu escutei.

— O que eles poderiam fazer com ela? — naquele momento Abadia me olhou como se estivesse vendo um fantasma, até me virei para ter certeza se havia ou não algo ali, mas não tinha nada.

— É... você não sabe. — sua voz saiu com pesar e sussurrada, ela parecia ter lembrado de algo e respirou fundo antes de se aproximar de mim e tocar meus ombros — Juliette, você é uma das melhores coisas que aconteceu na vida da minha filha e eu sei que ela pode errar as vezes, mas, por favor, fique ao lado dela, tá bom? Minha família vai passar por um momento bem tenso agora e algumas coisas podem sair do controle, então me promete que vai tá com ela e vai tentar entender ela, por favor. — eu não tava' entendendo muito bem aquilo e só conseguia encarar Abadia — Me promete, por favor. — apertou meus ombros com força.

— Eu prometo. — não que ela precisasse pedir para que ficasse com Sarah, eu já era dela e nada iria mudar isso. Nunca deixaria minha garota por nada — Eu amo ela e não vou sair do seu lado, nunca.

Por um momento vi que sua feição passou a ser suave, ela gostou de ouvir minha fala, mas em poucos instantes voltou a ficar séria, deve ter lembrado de Carlo.

— Venha, você vai me ajudar aqui. — pegou minha mão e a cesta e me puxou para onde seu filho estava — Como futuro membro da família Andrade, acho que pode aprender umas coisas.

— Como a senhora sabe? — a acompanhei, mas ainda fiquei confusa, com toda aquela confusão não pensei que Sarah teria tempo para contar alguma coisa.

— Ela me disse mais cedo o que iria fazer e vocês estão com os anéis, então parabéns às duas. Só espero que não vão muito longe na floresta, ainda quero visita-las. — pareceu que ela estava mais calma, apesar de Carlo ainda se contorcer de dor — Vamos começar.

Não sei dizer o que estava acontecendo ali exatamente. Abadia havia pego um pilão e estava machucando algumas folhas e flores, unas de um azul vibrante e lindo, que tenho quase certeza de que eram venenas, mas preferi confiar nos talentos da minha sogra.

Depois de bem batido e misturado com a água quente, ela levou a xícara fumegante para o rapaz, que tomou quase tudo nem um único gole, para que minutos depois enfim parasse de se debater, mas permanecesse acordado.

— Querida, pegue aquelas flores vermelhas e também as amarelas, por favor. — começou a me dar ordens quando viu que o filho estava mais calmo e eu apenas obedeci — Acho que Sarah não encontrou tantas assim... — pensou alto — Pode colocar todas no pilão e amassá-las. — deviam ter umas 20 flores de cada cor, num buquê são muitas, mas depois de ter as pétalas arrancadas e todas elas machucadas, a quantidade é bem pouca.

Estava fazendo o que Abadia mandou, com toda a minha atenção na pasta de flores que ganhava um tom alaranjado pela mistura de cores. Levei um pequeno susto quando a mais velha se aproximou de mim e colocou algumas folhas na mistura e deixou várias outras ao meu lado, instruindo que as fosse colocando aos poucos.

Eu não sabia o que estava fazendo e ficava mais confusa a cada vez que ela colocava mais alguma coisa naquele pilão.

Quando acabou aquilo parecia algum tempero que costumávamos colocar na carne, uma pasta com um cheiro muito bom, que foi colocada no braço do rapaz.

Carlo gritou quando aquilo o tocou, apesar de a ferida já parecer um pouco melhor. Também não entendi muito bem aquilo, apenas baixei a cabeça, fechei os olhos e apertei as mãos com força enquanto escutava Abadia pedir para ele se acalmar, que tudo aquilo logo iria passar.

— Pode ir, Juliette. Obrigada por tudo. — não a olhava quando ela falou, ainda estava escutando os gritos de Carlo. Apenas assenti e lhe dei as costas, quando levantei a cabeça estava de frente para Sarah, que me encarava sorrindo.

Não sabia a quanto tempo ela estava ali, se havia visto eu ajudando sua mãe, se queria passar para ver seu irmão, só sei que a abracei com todas as forças que tinha. O choro do rapaz não era nada bom de se escutar, o que me deixava angustiada, mas a preocupação que eu sentia por não saber como ela estaria com aqueles homens, ainda mais depois do que sua mãe havia falado, tudo aquilo pesava em mim e a única forma de me acalmar era nos braços dela.

Sentir o cheiro de Sarah, o calor do corpo de Sarah, tê-la com os braços ao meu redor também, tudo uma bela soma das melhores coisas que poderiam haver na minha vida.

Poderia quebrar qualquer promessa na minha vida, menos a de sair do lado de Sarah Andrade.


//



Pov Sarah


Saí da praça quase correndo e me coloquei na direção de casa. Se minha noção de tempo estivesse certa, Juliette já devia ter chegado lá, o que era muito bom, levando em conta que eu não era doida o suficiente para não escutar os passos que vinham atrás de mim.

— Sarah Andrade. — a voz era grave, mas baixa, imponente e ele não estava perguntando meu nome, apenas... apreciando o sabor de dizer aquilo. Sinceramente, prefiro escutar meu nome na voz de Juliette.

— A própria. — me virei sorrindo o mais falsa que conseguia.

Ele ficou alguns segundos em silêncio, apenas me encarando e sorrindo de canto e eu aproveitei esse tempo para analisa-lo, seus cabelos não eram tão curtos, eram compridos o suficiente para serem colocados para trás e fazer ruim penteado até bonito. Seu rosto fino, junto com os olhos não muito grandes e de um tom de castanho mais claro que os da minha noiva, o nariz fino e a boca pequena o faziam uma pessoa bonita. Não podia ver seu corpo, parecia usar muitas roupas, mas não precisava de muito para saber que era alto e forte. O que mais lhe chamava a atenção, naquele momento, era o olho machucado, não sei bem o que havia acontecido, mas estava bem roxo e parecia ter sido cortado a pouco tempo.

— A única filha da família de caçadores de Jericho. — deixei que ele falasse — Vocês são bem famosos.

— Fazemos bem nosso trabalho. — mas não sou boa em ficar muito tempo calada.

— Como seus pais a deixaram fazer parte disso? Além de ser uma mulher, fala de mais, é nervosa de mais, impulsiva de mais... — ele realmente estava me analisando — Você pode ser um perigo para sua família, mesmo com toda a força que tem. — se aproximou, ficando cara a cara comigo e inspirou fundo — Seu cheiro é intrigante. — e abriu um sorriso enorme.

Minha primeira reação foi empurra-lo, mas ele segurou minhas mãos e me puxou para perto dele mais uma vez.

— Não sei se é você ou sua amiga, mas vocês estão escondendo algo e eu vou descobrir o que é. — tocou meu rosto, levantando meu queixo, fazendo com que eu o encarasse.

— Ei! Que porra é essa?! — antes que pudesse me soltar, que eu ia conseguir, escutei a voz de Gunter atrás de mim e, mesmo assim, o homem não me soltou.

Mas então ele levantou a cabeça rápido e encarou meus irmãos, mantendo o mesmo sorriso de canto.

— Mais alguns do clã Andrade. — afrouxou o aperto nos meus pulsos e eu finalmente consegui me soltar — Deviam cuidar melhor da irmã de vocês, ela fala muito.

— Você também. — retruquei e, mais uma vez, ele sorriu.

— Vocês não precisam se preocupar mais com suas caçadas, só fiquem de olho no irmão ou na mãe de vocês, se ele se transformar será morto, caso contrário ela vai ser acusada de bruxaria. — nos deu as costas e começou a caminhar de volta para praça.

— Quem você pensar que é para falar assim?! — Simon gritou irritando, ele conseguia ser mais impulsivo do que eu, talvez por ser mais novo.

— Fernando Zuim, o caçador chefe do padre Matthaus. — por uma última vez olhou para trás antes de seguir seu caminho sem mais pausas — Tomem cuidado.

— Que merda foi essa, Sarah? — foi Gunter que perguntou, Simon estava ocupando de mais fitando as costas de Fernando.

— Sei lá, caralho. Aquele doido que me seguiu, eu só tava indo pra casa. — era só o que me faltava, a culpa ser minha agora.

— O que ele queria?

— Dizer que sabe que eu ou Juliette estamos escondido alguma coisa. — passei uma das mãos pelo cabelo.

— Você acha que ele sabe daquilo? — perguntou baixo, tanto que nem Simon conseguiu escutar e se aproximou de nós para ouvir o que conversamos.

— Eu não sei. — respirei fundo — Mas espero que não e que esse discurso dele seja só loucura. — olhei para trás, Fernando já se perdia na vista.

— Vamos pra casa, a mãe tá preocupado com você. — Simon avisou e eu apenas assenti antes de segui-los.

Contei para os dois o que havia escutado na praça, Gunter me deu uma bronca e depois agradeceu por eu ter defendido nossa família e dito o que todos ali precisavam ouvir, nós chegamos primeiro e sempre fizemos nossos trabalho muito bem.

Já perto de casa, notei que não conseguiu ouvir Carlo chorando, isso queria dizer que minha mãe já devia ter lhe dado algum remédio. Entramos em silêncio e eu fui logo atrás do meu irmão, mas acabei me deparando com a cena de Juliette ajudando minha mãe, com toda certeza dona Abadia queria ensinar alguma coisa a ela e viu uma ótima oportunidade, ainda mais agora que ela aceitou meu pedido.

Preferi não atrapalhar as duas e fiquei apenas observando de longe, até que ela tivesse terminado, quando isso aconteceu vi minha mãe pegar o pote que estava com ela e colocar aquela pasta em Carlo, quase chorei junto com o menino, sabia bem como aquilo queimava.

Quando Abadia me olhou, sorriu e liberou Juliette, que assentiu de cabeça baixa e virou. Fiz questão de ficar bem na frente dela e antes que pudesse lhe abraçar, ela se jogou em mim. Um abraço apertado, caloroso, do jeito que só ela tinha.

— Vamos lá pra fora? — perguntei baixo. Queria um tempinho só com ela e a trilha de fundo ali não era muito romântica.

Senti ela mexer a cabeça contra meu ombro e entendi aquilo como um "sim", então a puxei para fora de casa. Morávamos em uma das extremidades da vila, não havia casas depois da minha, apenas a floresta, e acabei a levando para lá, já que era mais calmo e ninguém frequentava, sem contar que havia uma árvore com o troco largo, que com o tempo ficou torcido para baixo, formando uma rampa, era mais fácil subir na árvore ou poderíamos ficar ali mesmo, sentadinhas e abraçadas.

Quando chegamos no local exato Juliette sentou primeiro e me puxou para entre suas pernas, me deixando meio deitada e com a costas apoiadas em seu tronco e colocou o queixo o meu ombro.

— Vai caçar hoje? — foi ela que quebrou o silêncio.

— Preciso ir. Nós temos que achar o lobo e, de preferência, antes daqueles malucos.

— E o Carlo? — dava pra' notar na voz dela que aquele não era um assunto que ela queria, mas que precisava falar, ela não tava' acreditado que ele ia ficar bem.

— Vai junto. — dei de ombros como se não entendesse a que ela estava se referindo — Depois daquele remédio o braço dele vai ficar novo. — me permiti rir.

— Sarará... — se afastou de mim e eu aproveitei isso para ficar de frente para ela.

— Ju, confia em mim, por favor. — segurei suas mãos — Eu sei que tudo o que vai acontecer aqui vai ser estranho, mas nada disso vai te machucar. Eu juro pela minha vida que você vai continuar segura, independente do que acontecer, então eu te peço que apenas confie em mim e não conte sobre os remédios da minha mãe e a recuperação do Carlo. Pode fazer isso?

Ela me olhou por alguns instantes, pareceu inquieta, seus olhos escuros se mexiam rápido, mirando em todas as partes do meu rosto e também fora deles, ela estava procurando algo para desconfiar, algo que a dissesse para não fazer o que eu pedia, era sempre assim, mas não havia nada além de toda a sinceridade que eu poderia ter.

— Posso. — disse firme, me fazendo sorrir — Mas, assim que possível, você vai me contar tudo o que está acontecendo. Se vamos estar juntas para sempre eu preciso saber de tudo, sem jogos, sem meias palavras, sem mistérios, apenas a mais pura verdade.

— Você vai ter tudo o que quiser. — afinal, eu deveria contar aquilo para ela de qualquer forma.

Noite de Lua - Sariette Onde histórias criam vida. Descubra agora