8 - Um quase herói de traseiro ralado

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Não recomendo cair de uma vassoura voadora se... esquece, não tem se. Nunca caia de uma vassoura voadora.

Ouvi gritos agudos de desespero. Talvez o meu fosse o mais agudo. Acima dos gritos e do barulho do vento, ouvi algo em uma língua estranha:

- Ventus alarum avium tonitrui nos involvat ut potentis et lenis manu sua!

A velocidade da queda diminuiu. Caímos? Sim. Mas não com força para quebrar todos os ossos do nosso corpo. Foi apenas forte o suficiente para esfolar o meu traseiro. A parte boa foi que Luiza e Sofia caíram em cima de algo macio. A parte ruim: o algo macia era eu.

O pior é que não deu para reclamar. Mal nos levantamos e vi que estávamos atrás da garota de cabelos vermelhos. Ela rodou o bastão sobre a cabeça (o que achei incrível) e deu uma bastãozada (é assim que se fala?) em um dos cachorros lagartos que tentou nos atacar.

Olhando por cima dos ombros, ela perguntou:

- Estão bem?

Eu disse algo muito inteligente, como Hã... Que bom que me ignoraram.

Luiza e Sofia se colocaram na minha frente, cada uma de um lado da garota com o bastão.

- Eles querem sequestrar o Miguel - falou Sofia, pegando uma bola de aço do tamanho de uma bola de tênis de dentro da bolsa.

- Disseram por quê? - perguntou Luiza, segurando uma... sim, era uma varinha. Uma varinha como as que se veem nos filmes.

Sofia balançou a cabeça, negando.

- É por causa do sangue dele - disse a garota dos meus sonhos (eu tinha mesmo que descobrir o nome dela, tava estranho chamá-la assim).

Antes que alguém pudesse perguntar sobre o que ela falava, a coisa piorou. Atrás dos cachorros lagartos, pousaram o boi voador e a cabra-hulk. Como o boi e os cachorros, a cabra tinha os olhos vermelhos. E era do tamanho do boi.

- Cabra Cabriola, até você? - perguntou a menina. Havia dor em sua voz.

Eu, claro, fiz uma pergunta muito importante para o momento.

- Você disse Cabra qui amola? O que é isso?

Me dá um desconto. Era minha primeira vez quase sendo morto por monstros mitológicos.

Sofia se virou para mim com os olhos brilhando de empolgação.

- Cabra Cabriola é uma lenda incrível. Ela é...

- É só outra lenda idiota desses folclóricos desagradáveis - disse Luiza, torcendo o nariz.

Achei que não era uma boa hora para insultá-los, levando em conta que estávamos cercados por eles. Sofia e a garota olharam feio para Luiza. Também não entendi. Ela não tinha dito que lia sobre folclore e mitologia? Se bem que ser atacado por monstros de livros podia colocar seus sentimentos em perspectiva.

Um bééé raivoso seguido de um muuuu indignado me fizeram engolir em seco. Infelizmente, o que se seguiu foi um daqueles momentos em que você odeia estar certo. Não sei se foi o fato das três meninas estarem apontando armas e uma bolinha de tênis feita de aço para os folclóricos. Ou se foi o desprezo na voz da Luiza. Pode até ter sido o fato da menina ter chamado a cabra de Cabriola e ela odiar o nome. Eu odiaria se fosse ela. Independentemente do motivo, algo deixou os folclóricos mais agitados. Todos eles saltaram na nossa direção ao mesmo tempo.

A ponta da varinha de Luiza crepitava com pequenos raios. A garota dos meus sonhos (vou perguntar o nome dela, juro) ergueu o bastão acima da cabeça. Sofia apertou algo na sua bola de tênis e a coisa começou a piscar em luz vermelha.

Miguel Oliveira e a Árvore de EldoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora