— Ora, ora. Olha só quem apareceu sem convite.
Engoli em seco, em meio a escuridão. Não era possível que eu estava novamente naquela caverna…
— Devo dizer, filho, que não esperava que você viesse ao meu reino por vontade própria.
Espera.
— Você disse, seu reino?
Ouvi um estalar de dedos, e tochas de chamas roxas surgiram ao meu redor. Eu estava em um palácio. Era a única descrição que eu tinha para aquele lugar. Colunas negras com imagens douradas e prateadas sustentavam um teto que eu não conseguia ver, pois era tampado por nuvens acidentadas.
Eu estava em frente a uma escadaria de cinco degraus. Acima dos degraus, estava um trono feito de rocha e madeira. E sentado nele estava um homem com um sorriso muito familiar e, ao mesmo tempo, assustador.
Ele era indígena. Seus olhos eram vermelhos. Chifres de veado saiam de sua cabeça. Os cabelos lisos e negros se esparramavam por toda parte, com contas e miçangas amarradas boa fios. O corpo era musculoso. Os braços e o peito (sim, ele não usava camiseta, igual esses bombados de academia) tinham tatuagens tribais.
Tudo nele me fazia querer me curvar ou ajoelhar.
— Quem é você? Onde… onde estou?
Seus olhos se estreitaram com interesse, enquanto ele apoiava o cotovelo no trono ,e a cabeça na mão.
— Devia ser óbvio a essa altura, já que você vive enfiado naqueles sites sobre folclore. Mas conhecimento e sabedoria são coisas diferentes. E como você veio até mim, vou agracia-lo.
O homem se levantou do trono. Energia vermelha emanou dele preenchendo a sala. Das sombras surgiram seres humanoides. Alguns eram como a garota lobisomem que nos atacou. Outros pareciam mesmo os lobisomens dos filmes. Alguns desceram do teto como vampiros e se transformaram em humanos. Havia umas mulheres com pele que lembrava jacaré. Uns vinte curupiras com chamas vermelhas na cabeça se apresentaram. Outros estavam envoltos nas sombras, e fiquei feliz por não poder vê-los.
E tinha os animais. Veados, lobos guara, onças pintadas, jacarés, falcões… todos surgiram e se curvaram para o homem no trono. Seu poder me fez engolir em seco e dar alguns passos para trás. Não muito para trás, pois não queria me aproximar daquelas criaturas.
O homem ergueu os braços.
— Eu sou Anhangá. Rei dos animais selvagens, senhor das criaturas livres, mestre e defensor da natureza. E graças a meu irmão, sou o Pajé da Tribo dos Mortos.
Anhangá sorriu, enquanto eu sentia meus ossos derreterem. Ele estendeu a mão para mim.
— Luke, eu sou seu pai.
Todos ficaram em silêncio. Tudo que saiu da minha boca foi:
— Meu nome não é Luke, é Miguel.
Anhangá segurou o riso. Então explodiu em gargalhadas, sendo seguido por todos os seus súditos. Tarde demais percebi que meu pai tinha tirado com a minha cara. Aquilo me deixou com raiva. Muitos raiva. Senti minha visão ficar esverdeada. E não, eu não estava virando o Hulk. Os folclóricos e animas mais próximos a mim pararam de rir e recuaram um pouco.
Dei um passo para frente e cruzei os braços.
— Desculpe, papai. Eu não sabia que nesse buraco pegava a Disney Plus. Achei que você estava tão enfiado nesse lugar horrível que sua mente estava deteriorando, não lembrando do meu nome.
Eu pisquei. Nunca tinha falado assim com ninguém. Porque eu falei assim justo com o cara mais poderoso que eu já tinha conhecido?
Ergui a cabeça devagar. Anhangá estreitou os olhos.
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Miguel Oliveira e a Árvore de Eldorado
FantasyUma história baseada nos universos de Percy Jackson, As Crônicas dos Kane e Harry Potter. E na experiência com adoção que eu tenho, minha e das minhas filhas. Miguel era um adolescente que adorava histórias mitológicas. Ele só não esperava que, ao s...