⚝ | Presente celestial

71 11 4
                                    

Eu já não escutava a voz de Scaramouche, mas a chuva continuava a me castigar, então passei pela ponte que ligava até os portões de Mondstadt e corri escadaria acima passando pela barraca de Katherine, que aparentemente estava fechada.

Eu não entendia, por que Scaramouche estava me tratando assim? Eu sou tão inconveniente? Tudo isso é culpa minha? Quem impediu aquele ataque e por que? Não, como?

As escadas pareciam não acabar nunca e a medida que subia mais e mais degraus, meus pés se embaralhavam tropeçando algumas vezes mas nunca caindo já que eu me apoiava nas paredes e no chão. Minha visão continuava embaçada por conta das lágrimas que não cessavam em momento algum, além dos meus pulmões queimarem me causando uma dor terrível na costela. Então finalmente cheguei na porta do quartel general dos cavaleiros de Favonious, onde dois guardas se encontravam fazendo a segurança do local.

No momento em que me viram correr entraram em alerta, mas não me importei, precisava falar com Kaeya, ele devia ter algo envolvido, só podia ser ele a ter me defendido.

- KAEYA!!! Kaeyaaa! - Os guardas me seguraram antes de tocar na porta. - Me soltem! Eu preciso falar com o senhor Kaeya! Agora!
- Eei, calma aí mocinha. Não pode entrar aqui assim. - Me debati dando chutes na porta.
- O que aconteceu? O que há com as suas roupas? - Eles eram mais fortes e mais altos conseguindo me deter apenas segurando meus braços com uma mão.

Aparentemente não tentavam me machucar, a todo momento cuidando para que suas lanças não me tocassem. Entretanto, encontrei uma abertura, mordendo o braço de um deles, me soltei de seus apertos empurrando a pesada porta a minha frente, que felizmente estava destrancada.

- Arg!! - Entrei no salão como um gato em apuros escorregando pelo piso que eu mesma molhei. Não sabia pra onde ir, mas precisava ser rápida para que não me pegassem antes.
- O que há de errado aqui? - Esbarrei no peito de Kaeya quase caindo pra trás, quando o mesmo saiu repentinamente do escritório de Jean junto a ela.
- O que você fez Kaeya?! - Exasperei.
- Eu? - Ele tocou meus ombros tentando me estabilizar.
- Senhor, nos perdoe, vamos tirá-la daqui logo e levá-la até um abrigo seguro. - Os homens tentaram me tocar novamente mas acabei estapeando suas mãos.
- Não!! Me soltem! - Jean ficou confusa apenas observando.
- Você a conhece? - Perguntou Jean preocupada.
- Solte-a. Está tudo bem. - Kaeya disse tentando entender a situação. E assim foi feito, os guardas me soltaram, e por um momento caí no chão sem forças, mas Kaeya não exitou em me ajudar.
- Me desculpe! Eu não vou te atrapalhar mais! - Eu soluçava em prantos com as mãos no chão. - Eu pagarei minha dívida e você nunca mais terá que me ver! Eu juro!
- Dívida? Eu não estou te entendendo Yeda, o que aconteceu, porque você está assim? - Ele não tentou se afastar de mim, ao invés disso, me abraçou e então observou cada um dos arranhões no meu corpo. - O que houve com a sua cauda?

Ele parecia preocupado. Então me afastou para assim me pegar no colo com tal facilidade.

- Fiquem alerta. Vou cuidar disso a partir de agora e se possível não façam alarde sobre o ocorrido.
- Tudo bem mesmo Kaeya? - Perguntou Jean confusa.
- Sim senhorita Jean, conheço ela, vou levá-la até meu dormitório e amanhã conversamos melhor, pode ser?
- Se assim for melhor pra você. - Ela acenou sem mais insistência.

Kaeya me carregou até o andar de cima onde pareciam haver dormitórios ou algo do tipo. O moreno abriu uma porta no meio do corredor revelando um pequeno dormitório. Havia uma cama grande no centro, além de algumas estantes de livros e uma mesa larga na frente. Kaeya me sentou com cuidado na cama com medo de eu estar machucada. Minhas roupas estavam imundas, cheias de lama assim como minhas botas, as quais ele agachou e tirou cuidadosamente colocando-as de lado no chão.

- Podemos conversar agora? Está mais calma? - Ele me olhava de baixo ainda agachado na minha frente.
- Foi você quem fez aquilo não foi? Como fez aquilo? - Eu ofegava entre pausas.
- Aquilo o que Yeda? Você precisa me dizer com calma o que aconteceu com você.
- O gelo! Só pode ter sido você!
- Gelo? - Algo estava errado, ele não parecia saber do que eu estava falando. Mas se não foi ele que o fez então como aquele iceberg tinha parado lá? Eram como os cristais de gelo pontudos da Montanha Nevada mas não estávamos nem perto daquele lugar. - O que é isso?

Kaeya viu um brilho incomum chamuscar atrás de mim, mais precisamente nas minhas costas. Ele tocou meu ombro para que eu ficasse parada, e quando observou minhas costas, algo estava pendurado no meu vestido.

- Yeda...acho que isso é seu agora. - Suas sobrancelhas arquearam. Ele me mostrou o objeto celeste cintilando em sua palma.
- Meu? - Meus olhos mal podiam acreditar naquilo. - Essa visão é sua Kaeya!
- Claro que não docinho. Vê? - Ele me mostrou a visão dele repousando em seu cinto.
- Como? Como pode ser? Quando isso veio parar aqui? - Minhas mãos tremeram, e eu já não aguentava mais sentir meu coração queimar.
- Pegue, é sua.
- Eu não sei por que isso tá acontecendo comigo...
- Yeda...não sei exatamente o que aconteceu com você. Mas visões são dadas a pessoas fortes de extrema ambição, nem sempre ganhamos elas em momentos felizes, ou emocionantes, mas elas estão aí pra nos lembrar de como fomos fortes até agora sem isso, e que está na hora de avançarmos um passo. Você só precisa de um empurrãozinho.
- Mas eu não quero isso! - Estava tão farta de tudo com medo do que aquilo significava que arremessei a visão na parede. - Eu só quero paz! - Exasperei. Minhas lágrimas não se contentaram com as anteriores, descarregando um mar dos meus olhos. - Já chega! Eu não suporto mais isso!

Kaeya se mobilizou com meus sentimentos me abraçando firme na cama. Eu soluçava sem parar enquanto mais lágrimas escorriam, mas era bom ter alguém para chorar, era bom ter seu apoio mesmo sem ele saber o que se passava.

- Vai passar Yeda...vai passar. Nenhum sofrimento é eterno, e nada disso é culpa sua. - Sua mão alcançou meus cabelos onde ele acariciou com cuidado, eu finalmente o abracei de volta descansando um pouco em seu abraço. - Você pode dormir aqui hoje.
- Mas e você? - Perguntei já que não queria atrapalhar mais ninguém.
- Tenho outro lugar pra dormir. - Ele se levantou indo até a porta, mas acabei o impedindo segurando sua mão.
- Kaeya...não vá, por favor não me deixe sozinha. - Eu tinha medo de Scaramouche voltar e eu não saberia o que fazer.
- Tem certeza?
- Sim, por favor.
- Tá bem... - Kaeya jogou alguns edredons no chão ao lado da cama onde se aconchegou para dormir, enquanto fiquei apreciando a luz da lua que brilhava na janela do quarto.

Eu já estava decidida, nada, nem ninguém iria me tratar assim de novo, Scaramouche era o errado. Tentei incontáveis vezes entender seu lado e me sensibilizar com seu passado, mas essa arrogância já era culpa dele, mesmo que tenha sido difícil pra ele, também tem sido pra mim, e ambos deviam entender isso, mas não dá pra amar alguém por dois, só existe uma união quando ambas as partes se apoiam, e o Scaramouche não queria meu apoio, nem o de ninguém. Se ele queria ficar sozinho então que assim seja, mas eu não vou deixar que ele se sinta bem com o que ele fez a mim, eu não posso. Vou mostrar a ele que posso ser pior do que o monstro que ele se tornou e fazê-lo se sentir como eu me senti. Só assim ele vai se lembrar que um dia tentei ser sua aliada, só assim vai perceber que tipo de pessoa ele perdeu.

⁺˚⋆。°✩₊

Oi queridos desculpem a demora pra postar, ultimamente tem sido beeeem corrido com o fim de ano e tals mas prometo fazer um especial de natal. E desculpem o capítulo curto tô esquecendo que capítulo tem que ser grande ksksksksksk e acho que tá bugado essa porra dessa função de colocar imagem e música pq não consigo alterar agora tá um inferno

Genshin Impact - A Fênix de TeyvatOnde histórias criam vida. Descubra agora