1. Dia 31 é Dia das Bruxas.

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1.





— Nos vemos mais tarde, Sana? – Jungkook perguntou indo na direção oposta.

— É, pode ser. – Respondi sem olhá-lo direito. Eu já sabia, todavia, exatamente como ele estava. Colocando o capacete ao mesmo tempo que subia na moto, exibia um sorriso galanteador e um olhar bobão. Eu não merecia ver aquilo mais uma vez hoje.

Segui meu caminho a pé. Hoje os ônibus estão mais caóticos que o normal, então decidi caminhar, mesmo que eu odeie, para não ser espremida por pessoas desconhecidas, animadas e usando muito perfume. Muito, muito perfume.

Hoje Seul está com um ar americano, todos parecem felizes demais, empolgados demais e num mundo que na realidade não existe. Observo todos a minha volta e não consigo não julgar o jeito fantasioso, e fantasiado, de muitos, como se estivessem num filme de terror clássico.

Eu odeio filmes de terror. É tudo tão absurdo, mentiroso. Odeio coisas das quais não tenho provas de que são reais. Por isso vim para Seul.

Não porque aqui eles são como eu, não. Mas porque vim fazer faculdade de física aqui, realizar um sonho antigo. Eu queria ser cientista, uma profissional renomada, pesquisadora nata. Eu vim para a Coreia para estudar e ter um futuro. Minha graduação combina com minha personalidade, afinal.

Eu diria que Deus ou destino tinham planos diferentes dos meus, mas também não acredito neles e odeio religião, crendices ou superstições. Não são reais, não me provaram que são, então eu sigo assim. Por isso o dia de hoje é tão idiota e detestável aos meus olhos. Halloween é uma celebração ocidental para criaturas imaginativas e imbecis, completamente fora da normalidade. É tudo ridículo.

— Oi, Jeongyeon. – Falei ao adentrar minha casa e a mulher cruzar o meu caminho. Ela estava como sempre, quieta, apressada para retornar ao seu quarto e segurando alguma comida. Dessa vez, tinha em suas mãos uma tigela com leite e cereal.

— E aí. – Balançou a cabeça para cima como cumprimento e seguiu pelo corredor, sumindo da minha vista, para o meu agrado. Eu gostava de conviver com a Yoo, ela era calada como eu, nada tagarela e muito meticulosa.

Eu odeio barulho, odeio conversas paralelas, odeio comunicação sem necessidade. Já basta o meu trabalho, onde ouço muitas vozes, aturo muita gente estressada e encerro o dia mais impaciente do que nunca. Eu odeio meu emprego.

— Sana jjang! – Tzuyu falou ao me ver passando pela porta de seu quarto. Eu não ia falar nada. Se ela não me viu, que era o que eu achava pelo menos, eu também não a vi, então não teria necessidade de dizer algo. – Como foi o trabalho?

— Como sempre. – Respondi freando em sua frente. Tzuyu tinha o cabelo molhado e devidamente penteado para trás. Eu sabia que ela tinha acabado de sair do banheiro porque além do cheiro forte do seu creme, ela também tinha uma toalha em volta do corpo.

— Você vai para a festa hoje, né? – Sorria mostrando todos os dentes. A Chou era o completo oposto de mim e Jeongyeon. Ela falava muito, sorria muito, vivia muito. Ela era intensa, animada e tudo que me dá mais impaciência no mundo. – Diz que sim, vaaaai. – Sacudiu meu corpo com as duas mãos segurando meus ombros tensos. Mexia-me para frente e para trás rapidamente, queria minha resposta logo e eu queria que aquilo parasse logo, então respondi de uma vez:

— Não.

— POR QUE NÃO? – Berrou cessando os movimentos e sumindo com o sorriso animado. Agora ela tinha um cenho franzido e algumas palavras prontas para saírem de sua boca. – Vamos, Saninha, vai ser legal, eu juro!

Agridoce, Plural & Fantasia | SaiDaOnde histórias criam vida. Descubra agora