2. Viajantes do Tempo.

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2.


A mulher não deu um passo adiante. Permaneceu na entrada, nem o batente subiu. Encarava-nos com desconfiança e confusão, parecia, assim como Dahyun, assustada e sentir dor ao pensar. Ficamos todas em silêncio por segundos que mais pareciam longas horas, nos entreolhando e dizendo tudo e nada apenas com expressões nada disfarçadas.

— Ok, se ninguém vai perguntar, pergunto eu. – Jeongyeon diz finalmente. – Quem é você?

— Park Jihyo. – A mulher responde prontamente. – Encantada. – Faz o mesmo gesto que a Kim, puxando a bainha do vestido e curvando-se lentamente.

— Ótimo, outra tonta! – Falo impaciente e percebo a Park me encarar profundamente. Aquilo me intimidou um pouco. Pelo visto, ela conhecia mais as palavras, entendia gestos e expressões, diferentemente da outra menina.

— Sana, calma. – A Yoo pede num tom ameno. – Jihyo, de onde você veio?

— Não sei como chamar ao certo, senhorita... Era um lugar estranho, com muita gente... Como um...

— Um purgatório?

— Exatamente.

— E como veio parar aqui?

— Eu não sei, foi de repente, eu apenas surgi na estrada e pronto. – Disse desconfiada. Ela era meticulosa até com os olhares que distribuía pela sala.

— Deixa eu adivinhar... – Falei. – Você morreu, né?

— Sim. Você também? – Respondeu sem expressão alguma na face. Ela era misteriosa, parecia saber demais, duvidar de tudo e ter zero preocupações.

— Eu não. – Respondi com desdém.

— Porra, Tzuyu, o que você foi arrumar pra gente? – Jeongyeon lamentou um tanto cansada. Agora ela parecia acreditar nessa bobagem. – Jihyo, o que você quer aqui?

— Um lugar para dormir, um pouco de comida e algumas informações. – Pediu de um jeito que mais parecia uma ordem.

— Quando você era viva não existiam os bons modos? – Perguntei irritada, mas fui ignorada. – Eu vou dormir, realmente cansei disso. Daqui a pouco tenho que trabalhar. A Tzuyu é a desempregada aqui e ela que criou toda essa confusão, então ela que arrume. Boa noite. – Falei de uma vez só, mas permaneci parada.

Era irônico, mas nem eu sabia explicar o porquê não me virei com tudo e segui meu caminho sem distrações. Algo nessa história enchia minha mente de dúvidas, curiosidades, intrigas e uma vontade imensa de desmentir cada um presente nessa sala. Uma vontade maior do que a que eu sentia de voltar a dormir.

— Eu não sou desempregada, cara! – A Chou exclamou ofendida. – Eu trabalho com a internet, é diferente. Só porque fico em casa para trabalhar, não quer dizer que não tenha emprego.

— Internet? – Jihyo disse com o cenho franzido.

— Elas falam um monte de coisas que nós entendemos, mas aos poucos vão nos explicando. – Dahyun disse calmamente. – Tipo as duas Coreias, esses tais de prédios e a existência de lésbicas.

— DUAS COREIAS? – A Park gritou em choque.

— Isso ainda não entendi direito, mas olhando em volta consigo ter uma ideia... – Disse num tom sugestivo e olhando para mim. – Japoneses, sabe?

— Garota, o que você tem contra o Japão? – Confrontei finalmente e notei seus olhos arregalarem em medo.

— Fiquem quietas vocês duas! – Ordenou Jihyo. – Alguém pode, por favor, explicar-me o que está acontecendo?

Agridoce, Plural & Fantasia | SaiDaOnde histórias criam vida. Descubra agora