13. Paradinha.

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13.

Ao Natal que apenas começou, mas que está com clima de final, deixo meu muito obrigada. A noite foi fantástica e por mais que tenha me deixado lembranças meio deturpadas, – culpa do álcool e da minha imprudência em tomá-lo em excesso – foram todas muito boas.

O dia 25 inicia tarde não só para mim, mas para todos da casa, sem exceções. Perdemos o café da manhã, o que não faz diferença, afinal ninguém cozinhou nada. E também perdemos o almoço, o que pouca importância tem, pois, de novo, não há nada especial. Quando perguntei o que comeríamos, Dahyun foi a única que respondeu, e disse: "Restô d' ontê" no sotaque mais francês que ela conseguia reproduzir. A resposta significava nada menos que "o resto de ontem, o que sobrou". Eu ri.

Após tomar o café da manhã, almoçar e jantar, tudo ao mesmo tempo, esperei que as minhas amigas tornassem a consciência e me encaminhei até elas. Tinha algo entalado na garganta, algo que eu precisava compartilhar, um problema que a solução não podia vir apenas de mim, porque eu não sabia o que fazer.

— Então, eu recebi isso aqui no trabalho. – Joguei o envelope em cima da mesa, como o recebi ontem, só que agora um pouco danificado pelo rasgo na lateral. – Eu não sei quem mandou, não tem remetente, mas a pessoa claramente sabe para quem queria mandar. E sabe de mais coisa que isso, claro.

— Que porra é essa?! – Tzuyu exclamou ao ler. – Vocês contaram a alguém sobre o roubo?

— Não! – Falamos em coro.

— E ajudaria muito se você não berrasse uma frase assim, Chou. – Jihyo repreendeu. – Vamos criar um código para esse assunto, já está perigoso demais...

— Paradinha. – Dahyun sugeriu, sorridente. – Que foi? Eu gosto dessa palavra. – Deu de ombros ao perceber os olhares sobre si. – Enfim, voltando ao assunto... Alguém mais sabe da paradinha fora a gente?

— Aparentemente, sim. – Jeongyeon respondeu, impaciente. – Não tem como saber quem enviou? Digo, uma correspondência sem remetente pode ser enviada a um local de trabalho?

— Acho que depende muito da política da empresa, nesses casos. – Respondi. – Duvido muito que deixem passar algo assim, aquele lugar é muito rígido e impessoal, não aliviariam justo nisso.

— No que um remetente implica? – Dahyun questionou. – Se é só por burocracia, a pessoa poderia colocar qualquer coisa aí nesse espacinho. E não colocou, então me faz pensar que o trabalho da Sana não ligue para essas formalidades no fim das contas.

— Pior que colocaram, sim. – Jihyo diz, alternando o olhar para o envelope. – Foi escrito por lápis ou alguma caneta que apaga, mas dá para ver o amassado da letra no papel. Muito mal, mas consegue-se perceber que alguém escreveu aqui e desistiu.

— Mas por quê? Não seria melhor só deixar qualquer nome aí? – Tzuyu perguntou.

— Às vezes não. Ou a pessoa pensa muito ou não pensa nada. Se colocasse qualquer nome, nos daria uma pista, mesmo que falsa. Sem colocar nada, nos deixa no escuro totalmente. – A Yoo respondeu, pensativa. – Nenhuma das duas coisas faz sentido falando desse jeito...

— Exato. Se te mandam um bilhete desses, dizendo que sabem o que você fez, não se identificam de maneira falsa ou verdadeira, e nada mais dizem, algo está estranho. – Dahyun comenta, intrigada. – É como se faltasse algo.

— Acho que 'tô sacando... É como se esse fosse, sei lá, o primeiro passo da tal pessoa, né? Como se ainda fosse fazer outro movimento, mais significativo e tal.

Agridoce, Plural & Fantasia | SaiDaOnde histórias criam vida. Descubra agora