7. Devir.

132 22 93
                                    

7.

- Dia 1 -

— Quanto tempo até alguém aparecer? – Dahyun me pergunta enquanto mira sem distrações a fachada da casa da senhora Im.

— Nem sabemos se alguém vai aparecer.

— Não gostei desse trabalho. Nada acontece, ninguém aparece.

— Dahyun, nós acabamos de chegar. – Digo e ouço um estalar de língua da coreana.

Estávamos sentadas num banco a uma certa distância da casa da senhora Im. Precisávamos ver a fachada, notar quem entra, o comportamento dos funcionários, horários, etc. Nós precisávamos ver, mas ninguém podia nos perceber, afinal essa não será nossa primeira vez aqui.

Para uma boa execução do plano, pensamos que seria necessário observar o comportamento da casa que iremos invadir, evitando surpresas e uma falha em potencial. Como eu vou até a casa da senhora Im no domingo e também vou, literalmente, pegar objetos de valor, estou aqui vigiando. Dahyun veio junto porque, além de me ajudar a observar os detalhes e ser mais um cérebro pensante, ela que vai dirigir quando eu finalmente furtar as joias.

O plano não tem nada de complexo: vou passar o dia na casa da senhora Im, jogando xadrez, conversando e observando o lugar para eventuais empecilhos, e no horário marcado entregarei as joias para Dahyun através da lata de lixo.

Estamos atentas para o horário que colocam o lixo para fora, inclusive.

— Olha, alguém apareceu! – Dahyun me alertou e eu olhei em direção imediatamente. Na porta, um homem barrigudo e baixinho tocava a campainha.

Ele estava bem-vestido, o que me faz pensar ser um vizinho da senhora Im, já que essas vestimentas são claramente caras e no ambiente que estamos isso não é nenhuma novidade. O senhor não tinha nada nas mãos, exceto por uma sacola de papel longa e firme. Na frente da mesma, um nome estrangeiro estampa o centro. Anoto, pois deve ser importante e continuo a observação.

O porteiro abre e dali não temos mais notícias, mas acho válido colocar no papel todas as características do homem. Estatura baixa, gordinho, relógio de ouro no pulso esquerdo, óculos escuros no rosto, braços peludos, roupas boas e cabelo ralo, quase careca, mas insiste em cultivar algumas penugens nas laterais. Por que não raspar tudo de uma vez? Tipo, cara, aceita a calvície, a idade que chegou.

— Era um uísque. – Dahyun diz e vira o meu celular para mim. Ela já sabe a senha, não tínhamos tempo a perder. – A sacola que ele estava segurando é uma marca cara de uísque. Ela bebe muito disso, né?

— Como uma adicta. – Respondo. – Ele não pode ser um fornecedor. A pé? Entrando para entregar? E apenas uma garrafa? Não... Eles são amigos.

— Ou parentes.

— Nayeon não tem mais ninguém, aparentemente. Não sei sua história, mas ao que parece, ninguém da família mora por perto para visitar a vovózinha.

— Ok, então o tiozinho é amigo da velha. Anotei. – Ela realmente anotou com essas exatas palavras. – Isso é importante porque...?

— Tudo é importante, já que não sabemos de nada. – Aponto para a porta. – Vamos continuar vigiando.

[...]

— Ele está saindo! – Falo. – Quanto tempo deu?

— Três horas e quarenta e dois minutos. – Ela vira o cronometro para mim e anota no papel em seguida. – Caraca!

— E sem nada nas mãos. – Pego o binóculo e miro no senhor. – Opa, acho que temos mais uma informação aí... – Entrego o objeto para Dahyun. – Olha e me diz o que percebe.

Agridoce, Plural & Fantasia | SaiDaOnde histórias criam vida. Descubra agora