9. Horrível monstro japonês, de óculos e má postura.

118 21 76
                                    

Plot twist, de acordo com o google, quer dizer uma mudança radical na direção esperada ou prevista do enredo de uma narrativa. Não é um recurso usado aos montes nas histórias contadas, mas na minha vida até saturou.

Ao recapitular tudo que passei nesses últimos dias intensos, tem-se: duas estranhas-mortas-vivas de 200 anos de morte reaparecem na minha casa, se instalam, criam laços comigo e minhas amigas, convivem conosco e tornam-se, de certa forma, importantes. Depois de treinos sobre como a vida atual funciona, elas começam a conviver não somente conosco, mas com quem cruzar seus caminhos. Criam mais laços, são conhecidas, empregadas. Concordo com a criação de documentos falsos, invento um plano de roubar uma senhora, concluo e, depois de tudo isso, ainda consigo me sentir surpresa. É um plot twist atrás do outro e não sei se gosto muito desse recurso.

Meu tipo de filmes favoritos são os de histórias reais, meus documentários não contam ficção, meus livros mais lidos são de física ou biografias e nada televisivo com muita ação, romance, ou plot twists, me agrada. Eu definitivamente não esperava essas reviravoltas na minha vida, não esperava cometer esse crime, nem tantos outros que continuo a praticar mantendo duas "viajantes do tempo" em minha casa.

O único delito que já imaginei cometer propositalmente foi dirigir embriagada, mas isso só me ocorria nos recém completados vinte anos de idade. Eu mudei, não bebo e nem dirijo. Eu era uma mulher da lei, eu seguia regras, eu jamais roubaria uma idosa, venderia os itens roubados e afanaria o dinheiro com luxúria. Eu odeio reviravoltas.

— Bom dia, Sana. – Ouço enquanto coloco a mochila nas costas, pronta para sair em direção ao trabalho. A voz me é familiar, porém não identifico de cara.

— Bom dia... – Respondo automaticamente, virando-me devagar para então entender quem me dirigia a palavra. – Momo. Bom dia, Momo. Momo?!

— Sim, minha mãe que me deu.

— O que?

— O meu nome. Minha mãe que me deu. – Sorriu, boba.

Ela vestia roupas amassadas e formais, que logo reconheci como sendo o seu uniforme de vigia do bairro. Sua blusa social contava apenas com um lado dentro da calça, que por sua vez era a única parte que não estava engelhada. A expressão em seu rosto, para mim, não dizia nada. O sorriso era bobo e rapidamente sumia, ela mesma parecia sumir de tempos em tempos, como se desligasse do nada. Tinha o cabelo amarrado num rabo de cavalo frouxo e a franja não parecia mais uma franja.

— O que foi? – Perguntou, confusa. – Você está bem?

— Estou, por quê?

— Sei lá, ficou aí parada me olhando. – Seguiu caminhando até a cozinha, que há pouco eu tinha habitado. – Só vou beber um copo d'água, ok?

— À vontade. – Disse, ainda analisando o nada em minha frente. Ela não me via mais, então me permiti dissociar. – Escuta, Momo, você dormiu aqui, né?

— Mais ou menos... – Deixou um riso escapar e eu, instantaneamente, me arrependi de perguntar isso. Credo. – Não acordamos você, acordamos?

— Oh, não! E onde você dormiu?

— Ela já começou com o interrogatório? – Ouço uma voz vindo de trás, então me viro e encaro Dahyun com as mesmas roupas de ontem, amassadas juntamente de seu cabelo.

— Exatamente como você disse. – A Hirai respondeu. – Bom, se me dão licença, eu preciso ir para casa e descansar ao máximo, tenho trabalho mais tarde, vocês sabem... – Foi até a porta, próxima a mim, acenou para Dahyun que ainda estava na entrada do pequeno corredor, depois fez o mesmo em direção e saiu.

Agridoce, Plural & Fantasia | SaiDaOnde histórias criam vida. Descubra agora