20. Surto

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Não pensei menos quando comecei a caminhar depressa para o lado de fora do quarto de hospital. Eu estava com fogo em meus olhos e soltando faíscas pelos ouvidos, indignada com essa sua frase proferida. Fui simplesmente comprada e vendida como um objeto qualquer em uma vitrine para se casar com uma garota que antes seria a minha cunhada.

Isso é um erro, só pode! Estão malucos, sedentos por poder!

E para isso precisaram sacrificar as próprias filhas.

É impressionante essa busca de tanto poder por ambos os lados. É assustador a semelhança que os dois têm.

O capturo com o meu campo de visão assim que virei um corredor. Me deparei marchando como um soldado ou seja o que for do exército em um desfile à sua direção.

De relance, observo os Levine's que acompanhavam o meu pai em uma rodinha de conversa. Ridículos e falsos. Isso que eles são.

Forço uma virada do corpo do meu pai para que fique de frente para mim, que por pouca força que tinha, ainda sim consegui fazer o que estava em mente.

— O que foi que você disse? — indago, aumentando o tom de minha voz, que antes seria para somente ele escutar, mas acabou fugindo dos meus planos de última hora. Ou melhor, último segundo.

Francesco apenas olhou para mim tombando a cabeça minimamente para o lado, forjando uma falsa inocência e confusão. Eu o odeio! Odeio mais do que tudo! Odeio mais do que qualquer coisa que ele já fez!

— Esqueceu agora? Tá ficando com amnésia? — me altero, disposta que todos os médicos ou enfermeiros e até pacientes que estavam ali escutasse qualquer podre do meu pai. Se é que ainda posso chamá-lo de pai.

Estava imensamente disposta a acabar com a sua encantadora reputação. E olhe como estava.

“Francesco Finnegan é um ótimo pai” “ Francesco Finnegan tem um prestígio de família”. Então tá bom.

O vi mudar bruscamente de expressão em um piscar de olhos, modificando-a para uma enfurecida. Seus lábios comprimidos, olhos semicerrados e seu rosto tomado pela cor vermelha comprovaram exatamente isso. Mas agora não me dava mais medo. Ele quem deve temer à mim com tamanha fúria que habitava o meu peito.

— Mais respeito comigo, Pietra! Sou seu pai!

— Não, você não é mais meu pai. Um pai de verdade nunca me venderia me tratando como um troféu sem nenhum valor! Eu não vou me casar com essa garota! — esbravejei apontando para Samantha, porém sem tirar os olhos da muralha que estava enfrentando, pouco me fodendo com as pessoas que estavam em nossa volta.

Consigo escutar as pessoas ao meu redor criarem uma ópera de choque em conjunto.

Talvez seja esse o primeiro insulto que digo para o meu pai sem ser mentalmente. Me sinto orgulhosa como uma mãe em uma formatura dos filhos.

Tomando completamente a atenção das demais pessoas presentes no hospital, Francesco chega mais próximo à mim e me prende fortemente pelos meus ombros.

— Repita isso, Pietra! — Repito com o maior prazer, meu caro.

— Pensei que estava com amnésia, mas parece que é muito mais do que isso!

— Pietra! — ele inicia um aperto mais forte, fazendo os meus ombros doer.

— Parem com isso, vocês dois! — Maitê se colocou no meio, me soltando do agarro bruto de seu marido.

Imaginei que ela iria verificar se eu estava bem ou se ele havia me machucado com suas enormes mãos fazendo força nos meus ombros, mas não, ela foi diretamente para Francesco com cara de coitadinha.

Lupus | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora