Capítulo 3

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Capítulo 3

O sol raiava naquela manhã de Junho. Finalmente as nuvens se foram. Maria não teve pesadelos devido aos remédios que tomara. Ela desperta mais leve e sem aqueles pensamentos ruins. A luz do sol invadia o quarto pelos janelões e a brisa fresca da manhãzinha soprava-lhe o rosto limpo. Por um instante, sentiu-se tranquila até que a lembrança da perda voltasse a atormentá-la. Todavia não se sabia a causa da morte e isso deixava-a intrigada. Nós bem sabemos o quanto ela se atrai por mistérios. Começou a pensar sobre o assunto e ocupou a mente enquanto preparava-se para desder a escadaria. Estevão não estava na cama. Ocorreu a ela que pudesse estar no escritório com o filho, tratando de assuntos da empresa, mas não deixou de considerar um descaso da sua parte, uma vez que ele sabia como ela estava sensível, mas decidiu ignorar este detalhe. Decerto ele teria um motivo bem razoável. Então, como se os seus pensamentos falassem alto, ele entra no quarto procurando por ela. Trazia uma bandeja de café da manhã e um sorriso no rosto. Não estava de terno e gravata, mas usava um polo vermelho que ela adorava e ele sabia disso.

Estevão: Bom dia. (Pousa a bandeja na mesinha de centro entre o sofá neoclássico e a penteadeira. Depois senta-se junto da esposa).

Maria (Sentiu-se culpada por pensar mal dele): Pensei que estivesse trabalhando.

Estevão: Hoje não. Heitor se encarregou. Ele foi bem cedo para a empresa.

Maria: E a Estrella?

Estevão: A Teresa disse que está no sótão desde que acordou.

Maria (Pega numa torrada): E o que ela faz lá?

Estevão: Bem... ela tinha umas caixas para arrumar. Devem ser umas quantas. É estranho porque ela não pediu ajuda e está muito quieta desde ontem.

Maria: Deve ser pelos mesmos motivos que eu também estava.

Estevão: É deve ser. (Ele vira-se para ela com algum receio) Ah... Maria... o Bruno mandou uma mensagem a convidar-nos para almoçar com ele, Fabíola e Daniela.

Maria: Hum... então está explicado toda esta atenção. (Referindo-se à bandeja).

Estevão: Querida, eles estão preocupados e querem nos fazer companhia.

Maria: Aí, Estevão... olha, eu tento confiar neles tanto quanto você, mas...

Estevão: Amor, já fazem dezoito anos... ou melhor dito: trinta e oito. Eles já demonstraram que são outras pessoas. Olha que amabilidade a deles em nos convidar para sair. Querem nos distrair.

Maria: É que eu ainda não sei se é sincero ou se continuam querendo fazer média com você. Lembra que era assim que eles faziam no passado.

Estevão: Sim, mas antes eles dependiam de mim financeiramente. Convinha! Agora nenhum deles tem qualquer vínculo económico connosco e mesmo assim querem se manter por perto. Isso é afinidade.

Maria: Bem... é verdade que nós todos passamos por muitas coisas juntos e também é verdade que eles têm se portado muito corretamente. (Ela hesita, mas resigna-se) Está bem, mas vou convidar os nossos filhos. Me sinto mais a vontade com eles por perto.

Estevão (Anima-se): Você é quem manda. (Dá-lhe um beijo no rosto e levanta-se) Sendo assim, vou confirmar com eles.

Estevão sai do quarto deixando Maria com uma enorme sensação de incomodo. Ela sentia uma nostalgia negativa. Terão mudado realmente? _ Questionou-se, mas decidiu dar-lhes uma oportunidade, porém ao primeiro sinal, recuaria sem titubear.

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