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A manhã seguinte não foi muito melhor que a noite. Forcei minha mente a lembrar dos últimos anos da minha vida, sem sucesso. Mark chegou logo depois que o dia clareou, com uma bolsa esportiva cheia de roupas minhas e alguns acessórios.

– Seu celular ficou destruído no acidente – ele informou. – Te trouxe um novo.

E colocou o aparelho no meu colo.

– Seu fone está na mochila.

– Obrigado.

– Você conseguiu dormir? Já comeu?

– Eu descansei um pouco, mas não trouxeram o café ainda.

Ele olhou para o relógio na parede.

– Está cedo ainda.

– Onde estamos exatamente? Londres?

– Isso.

Ele sentou-se na poltrona e relaxou os ombros.

– Então, meu acidente, como foi?

Mark me olhou com o semblante vazio.

– Um caminhão invadiu a pista no semáforo vermelho e atingiu o carro onde você estava. O motorista já foi preso, aliás.

– E você sabe o que eu estava fazendo no carro?

Ele se remexeu na poltrona.

– Era um passeio, algo assim?

– Não.

– Mas o rapaz que estava comigo não sabe dizer pra onde estávamos indo?

– Assim como você, ele ficou muito ferido.

– Éramos amigos?

Mark suspirou.

– Acho que sim.

Nossa conversa foi interrompida pela chegada do café da manhã, mas logo voltei a questioná-lo.

– Então somos só nós dois em casa?

– E minha esposa, Karen.

– O que aconteceu com a minha mãe?

– Ela morreu no dia em que você nasceu.

Senti uma pontada aguda na cabeça. Houve uma pausa silenciosa. Engoli em seco.

– Eu não tive irmãos?

– Não exatamente.

Franzi o cenho, mastigando devagar.

– Você e o filho mais velho da Karen cresceram juntos, como irmãos.

– Como ele se chama?

– Liam.

– Ele não veio com você?

– Ele mora em outro país.

– Mas ele sabe do meu acidente?

O médico entrou na sala de repente.

– Bom dia rapazes – ele sorriu. – Tenho boas notícias! Louis, suas lesões não causaram nenhum dano grave ao cérebro. Sua memória deve voltar em alguns dias. Também não existem lesões musculares, mas haverá um longo trabalho com fisioterapia pela frente.

– Eu vou poder me levantar e andar?

– Sim, mas ainda não pode exagerar, não queremos que seus pontos abram outra vez.

– Por que esses pontos estão aqui, afinal?

Clancy franziu o cenho.

– Foi uma cirurgia.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora