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Ele entrou com um buquê de flores nas mãos. Orquídeas. Veio até mim com um sorriso esquisito e um brilho intenso no olhar. Me levantei, sem saber o que dizer, e fui surpreendido com um abraço bem apertado.

– É tão bom te ver – ele disse.

Me afastei, ainda sem reação.

– Eu sou o Dustin.

Nada na aparência dele era familiar. Ele tinha olhos azuis e cabelo castanho recém cortado. Era magro e alto. Não havia nenhum ferimento em sua pele, com exceção de um corte superficial já cicatrizado na testa.

– Seu pai me falou que você não se lembra muito do que aconteceu.

– É – me sentei novamente.

Ele me entregou o buquê.

– Obrigado – forcei um sorriso.

Quando Dustin se acomodou do meu lado, Karen se levantou.

– Vou deixá-los a sós – ela disse. E saiu.

Coloquei o buquê em cima da mesa de centro.

– Então... – olhei pra ele. – Você e eu éramos um casal?

– Ainda somos um casal – ele corrigiu, sério.

– Eu tenho muitas perguntas.

– Espero que eu possa te dar todas as respostas. O que você quer saber?

– O que aconteceu naquele acidente?

Dustin suspirou, mexendo no cabelo.

– Nós estávamos voltando pra casa. Tivemos uma briga idiota. Um caminhão invadiu a pista e deu no que deu.

– Uma briga?

– Coisa de todo casal, Louis.

– Eu me lembro que o carro estava muito rápido...

Dustin me encarou com um semblante confuso.

– É sério que você quer ficar falando do passado? Temos que comemorar que você está vivo e bem!

– Comemorar? Eu perdi minha filha! – o lembrei. – Nossa filha.

– Essas coisas acontecem, infelizmente.

Meu coração ficou apertado de repente.

– Como ela era?

Dustin respirou fundo.

– Acho melhor não falarmos sobre isso.

– Qual era o nome dela? – insisti.

– Madison, mas você a chamava de Maddie.

Sempre que algum nome ou rosto me soava familiar, despertava algo dentro de mim. A lembrança veio instantaneamente, de quando ela ainda estava na minha barriga, e havia uma mão que não era minha, fazendo carinho nela. Eu vi um anel prateado, mas não durou tempo suficiente para que eu visse um rosto.

Eu senti a dor do vazio.

– Onde ela foi enterrada?

Dustin negou com a cabeça.

– Ela foi cremada.

– Vocês não pensaram em mim? Não me deixaram me despedir da minha própria filha?

– Já foi doloroso demais pra mim perdê-la, e eu também não queria perder você. Agora  meu próprio namorado não se lembra de nada do que a gente viveu! Como acha que eu me sinto?

Procurei o anel em suas mãos. Não havia nada. Eu podia ter perdido a memória, mas não era idiota. Dustin estava mentindo sobre alguma coisa.

– Você tem razão, me desculpe.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora