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Um ano atrás...

Ele usava um chapéu preto quando o vi pela primeira vez. Na verdade, todo o terno era preto, até os sapatos e a bandana solta pendurada no pescoço. Cachos castanhos escapavam por baixo da aba. Os primeiros três botões abertos de sua camisa social revelavam duas andorinhas tatuadas em cada lado do peito. Era como observar uma obra de arte caríssima na parede de um museu.

A festa estava lotada de convidados. Empresários, investidores, socialites. E eu, claro, o filho do anfitrião, com um all Star surrado e camisa regata. Com exceção do meu estilo próprio e meu charme natural, ele não tinha motivos pra olhar pra mim.

Mas ele olhou.

Passei os primeiros minutos observando ele cumprimentar os engravatados e as formosas esposas deles, depois desfilar pelo jardim com uma taça de champagne nas mãos. Ele olhou pra mim de repente.

Pensei em fazer um milhão de coisas. Disfarçar, encará-lo? Ir embora, falar com ele?

– Te encontrei – ouvi alguém falar.

Então me virei e vi meu pai e seu sócio, Aemond Styles.

– Eu não estava fugindo, paizinho.

– Pensei que estivesse fazendo companhia para a Eleanor.

Fiz minha melhor cara de enojado.

– Louis, quero apresentá-lo à uma pessoa – disse Aemond, acenando para alguém.

Respirei fundo, pensando que se trataria de mais alguma "moça bonita e solteira".

– Boa noite senhores.

Para a minha surpresa, era ele.

– Louis, este é o meu sobrinho – Aemond o segurou pelos ombros. – Harry.

Nossos olhares se encontraram. Verde no azul, azul no verde. Ele sorriu de ladinho. Covinhas surgiram. Meu coração disparou.

– Harry! – meu pai o abraçou. – Quando você voltou?

– Hoje de manhã – ele respondeu.

– Voltou pra ficar?

– Vamos ver – ele deu uma piscadinha.

– Já conhece meu filho? – meu pai apontou pra mim.

– Ainda não, Mark... – ele se aproximou de mim e estendeu a mão. – Prazer.

A apertei, sem intenção nenhuma de soltar, mas ele o fez.

– Então você é o famoso Harry?

Ele apenas riu.

– Já que se deram bem... – Aemond sorriu pra mim. – Gostaria de apresentar a casa pra ele, Louis?

Ah, eu adoraria!

– Claro, tio.

Quando ficamos a sós, dei um longo gole na minha bebida. Começamos a caminhar pelo jardim.

– Belo nome – falei.

– Muito comum, eu diria – ele olhou pra mim. – Tem certeza que era isso mesmo que queria dizer?

– Também.

– Nesse caso, faço minhas as suas palavras.

Parei. Ele se virou pra mim.

– Estamos falando a mesma língua aqui?

Harry molhou os lábios.

– Está bebendo o quê?

Ofereci meu copo. Ele bebeu.

– Não é muito jovem pra beber isso?

– Tenho dezenove.

Ele cruzou os braços, agora totalmente concentrado em mim.

– Você causou uma boa impressão – comentei.

Ao nosso redor, haviam pelo menos sete mulheres de olho nele.

– Isso acontece com mais frequência do que você está imaginando.

– Melhor não dizer isso, tenho uma imaginação muito fértil.

Nós rimos juntos.

– Então Harry... Por que você saiu de Londres?

Ele suspirou, inquieto.

– Quatro anos atrás, tentaram me fazer assumir a empresa do meu pai.

– E você não quis?

Enquanto ele brincava com os anéis em suas mãos, seu olhar parecia distante.

– Não.

– O tio Aemond é dono de tudo agora?

– Até quando eu quiser que ele seja.

– Aposto que ele odeia saber disso.

Harry sorriu abertamente.

– Mas e você, Louis? O que gosta de fazer além de irritar seu pai?

Dei uma risada sincera.

"Apresentar a casa" soava como uma desculpa ideal para que eu conseguisse conhecê-lo melhor. Ele era órfão de mãe desde o nascimento, como eu, e de pai desde os doze anos. Éramos ambos filhos únicos, ambos herdeiros de toda a fortuna dos nossos respectivos pais.

Ambos solteiros, aliás, o que me convinha bastante. Fomos de perguntas pessoais e profissionais para histórias de vida, e quando vimos, duas horas haviam se passado e a festa estava com meia dúzia de convidados a menos. Até que finalmente, ele me perguntou:

– O que você vai fazer amanhã, Louis?

Meu sorriso foi instantâneo.

– Além de irritar meu pai?

Ele riu alto, jogando a cabeça pra trás e colocando uma mão em sua barriga. Uma cena adorável. Esperei ele se recompor.

– Então o que você gostaria de fazer amanhã? – ele me perguntou.

– Harry! – alguém gritou de repente.

Olhamos para o lado. Então a vi se aproximar.

– Taylor! – ele sorriu ao abraçá-la.

Franzi o cenho.

– Você voltou! Por que não me avisou nada? – perguntou a garota, quase radiante.

– Foi muita correria, desculpe.

Ele apontou pra mim.

– Tay, esse é o...

– É o filho do Mark, eu já conheço ele – ela gesticulou em desdém. – Mas então vai fazer o que amanhã?

Harry ergueu as sombrancelhas, surpreso.

– Eu? – ela assentiu. – Eu vou sair com o Louis.

Taylor me encarou furiosa.

– Está bem então. Foi bom te ver.

E foi embora.

– Sair comigo é? – disfarcei um sorriso.

Ele tocou minha bochecha direita com o polegar e piscou.

– Você topa?

– Tudo bem, Styles.

Harry abriu um sorriso contagiante. Acho que eu estava correndo um grande risco de me apaixonar por aquele homem.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora