Capítulo IV - Caçadores e Caça

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A mulher encarava seu corpo no espelho imenso no banheiro do novo quarto. Havia crescido bons centímetros, o corpo ganhou um pouco de volume nas curvas, acentuando as qualidades na medida certa. O rosto fino, antes belo em sua própria suavidade, havia se tornado algo devastadoramente bonito: os lábios ficaram naturalmente avermelhados, a pele pálida não tinha um único defeito, as sobrancelhas finas ganharam um pouco mais de cor e os olhos estavam de um tom mais brilhante de verde, com pupilas semelhantes ao do mestre Muzan. Poderia jurar que eles brilhavam no escuro como os de um gato. 

Adara mal podia reconhecer a mulher que havia se tornado, mesmo fazendo mais de uma semana que havia se transformado em Oni.

Aproximou-se mais do reflexo do espelho, abrindo a boca para fitar pela centésima vez as belas presas que havia ganhado. Não eram tão grandes quanto as de Kokushibo ou de mestre Muzan, eram mais delicadas e menos chamativas.

Os cabelos de Adara acompanharam o movimento, fluindo pelas laterais do corpo desnudo pálido feito porcelana e sem uma única pinta para contar a história de quando era humano. Os fios também haviam crescido, tocando o bumbum empinado da nova Oni e estavam mais brilhantes do que nunca. 

Batidas na porta a fez dar um pulo de susto e correr para pegar o roupão de seda preta dobrado com minúcia em cima da pia.

-Senhorita Adara? - a voz fina de Tyuru, um Oni inferior contratado por Muzan como assistente, soou atrás da porta do banheiro - Está aí? 

-Sim Tyuru, um momento! - pediu, terminando de amarrar o laço do roupão. 

-Senhor Kokushibo requer sua presença no salão principal - avisou, soltando um bufar - Ele não está de bom humor esta noite. 

Abrindo a porta, Adara sorriu gentil para o Oni. Tyuru era assustadoramente alto e magro, o rosto encovado de pele azulada poderia indicar que sofria de alguma doença se não fosse um ser imortal. Porém, ele exibia uma disposição de dar inveja. Limpava a mansão inteira em menos de uma noite e ainda oferecia sorrisos animados para a mulher a qualquer momento. Sem falar na sua eterna vontade de fofocar com Adara sobre a beleza do mestre Muzan e das demais Luas que visitavam a residência do Oni primordial, antigo local que trabalhava.

Depois que havia acordado de sua transformação, Muzan ordenou que Adara fosse protegida e treinada por Kokushibo enquanto iniciava suas pesquisas. Logo em seguida, foram para a mansão do Lua Superior 1. Adara quase pirou ao ver o tamanho da casa, assim como a beleza da arquitetura antiga, um pouco caída pelo mal cuidado e a vila destroçada que a rodeava. Tyuru chegou na noite seguinte, esbanjando a animação e toda a vontade de conversar que Kokushibo não tinha, o que de cara deixou Adara contente. 

-Ele te tratou mal de novo? - Adara questionou Tyuru, levantando uma sobrancelha. 

-Mal seria uma palavra muito forte - o Oni passou as mãos pelo cabelo azul marinho na altura dos ombros - Ele foi ríspido.

-Ah ele é com todo mundo, apenas ignore - passou pelo Oni, indo em direção ao grande guarda-roupas - É o melhor a ser feito.

Muzan não estava brincando quando disse que daria tudo para Adara. Desde roupas de luxo, até um laboratório totalmente equipado no porão da mansão. Tyuru também fazia parte do “tudo”, ficou sabendo que Muzan o designou como auxiliar particular de Adara e de quebra serviria a mansão de Kokushibo. Não que isso importasse para a mulher, a mesma não dava a mínima para coisas caras e supérfluas, dava valor aos seus instrumentos de trabalho e também às lembranças de sua família, intocadas em sua mente, para sua surpresa.

Escolheu um vestido verde sem mangas, de decote reto e com fendas nas laterais das pernas que iam até a altura da virilha. Um hábito de Adara era não usar as costumeiras roupas da era, como os kimonos de tecido quente. Preferia os vestidos, comuns no seu dia a dia desde que era criança. 

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