Capitulo 6

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O quarto em que ficariam era arejado, com uma cama de casal grande, algumas plantas pelo cômodo, um pequeno frigobar e uma janela com uma vista da qual podia-se ver o mar de longe.

Verônica largou a mochila no chão e se jogou em um dos lados da cama assim que entraram. Anita colocou sua mala sob um móvel e arrancou a peruca, enfurecida com Verônica.

- que porra foi essa de falar que a gente era um casal? Tem ideia de que agora a gente vai ter que continuar fingindo até ir embora daqui? - Anita se sentou na ponta da cama e puxou os cabelos loiros para trás, que estavam bagunçados por conta da peruca.

- é perfeito, agora a gente tem uma "relação", o que não deixa suspeito estarmos juntas aqui, caso tenha alguém pra vir questionar aquela senhora. Nunca se sabe o quão perto eles podem estar... - a escrivã encarava o teto, preocupada com a situação atual.

- tá, tudo bem. Mas não abusa desse teatrinho pra cima de mim se não quiser apanhar. - a loira pegou uma muda de roupas em sua mala. - vou tomar uma ducha, depois a gente conversa.

~

Anita ainda estava angustiada. Sabia que agora teria que passar boa parte do tempo sem ter muito o que fazer, e estava acostumada a trabalhar o tempo todo para se ocupar. Verônica havia conversado com Carvana e, de algum jeito, convencera ele a deixar a delegada de licença. A loira nem quis saber muito sobre esse acordo entre eles, já exausta de discutir sobre Mathias e sobre a delegacia.

A delegada estava fazendo uma maquiagem leve no banheiro, já que Verônica insistira para irem jantar em um restaurante que ficava a poucas quadras da pousada. Durante a tarde, Anita dormiu um pouco e passou o resto do tempo lendo (ou fingindo ler). Não era um momento muito relaxante em que conseguiria sentar e ler sem mais nem menos.

- Bora. - Verônica bateu na porta, impaciente.

A porta do banheiro se abriu, e Anita foi direto para a frente do espelho posicionado perto da cama. A loira mexia no decote do vestido, parecendo incerta sobre a roupa.

- Não curti esse vestido. Não deu tempo de escolher lá muita coisa. - Ela soltou, em um quase sussurro.

- Não é como se você fosse ficar feia com alguma coisa, né, Anita. - a escrivã deu um tapinha no ombro da colega. - bora, tô com fome.

As duas saíram perambulando pelo corredor, Verônica com uma roupa simples e sua jaqueta de couro (como sempre) e Anita com um vestido bordô. O clima estava ameno, com um vento pouco frio, como antes haviam checado na internet. Anita vestiu um casaco fino por cima do vestido e praticamente se enrolou nele, fazendo Verônica rir, tirando sarro do desgosto da delegada pelo vestido.

- Jantar, meninas? - a mesma senhora de antes estava escorada no balcão da entrada, com seu livro surrado em mãos.

- Temos que conhecer a cidade, não acha? - Verônica sorriu para a senhora, passando o braço pelos ombros da delegada.

- Qualquer recomendação de lugar que quiserem, só me perguntar! Moro aqui há anos.

- Melhor irmos andando, estou morrendo de fome. - Anita sorriu de lado, não tão convincente.

- Com frio, minha filha? - a senhora questionou Anita, após alguns passos das duas.

- Ela que não curtiu o vestido dela. Não que eu não prefira sem... mas claro que ela fica linda sempre. - Verônica fez um carinho no rosto da delegada, que sorriu, sem graça, e seguiu andando na frente.

- Esquentadinha. - sussurrou Verônica para a senhora. - Uma boa noite!

A escrivã andou até a delegada, que já esperava na calçada, de braços cruzados. Anita seguiu andando em silêncio quando viu Verônica, que notou sua indignação com o comentário. Ela mesma se perguntava por que havia falado aquilo.

~

- Sabe, sendo sincera, não te entendo. Você tem um cargo foda, respeito, dinheiro. Pra que continuar se metendo nessas roubadas do Mathias? Não deve ser impossível se afastar e... porra, por que escolher ser esse dragão? - Verônica soltou, após beber algumas cervejas com a delegada, que a acompanhava no vinho.

O jantar tinha sido meio silencioso, com apenas umas poucas perguntas frias trocadas entre as duas. Verônica foi se soltando aos poucos, mas estava dentro do normal, até esse diálogo.

- Escrivã Verônica... Não é simples assim. - suspirou, dando um longo gole no vinho. - As vezes todas essas coisas não são um grande diferencial. E vamos combinar que você não me conhece tanto assim pra me julgar. - a loira levantou, indo em direção ao caixa.

Após as duas pagarem a conta, foram andando em silêncio até a pousada. O vento estava mais intenso, mas a noite estava linda.

Anita parou no caminho, quando estavam próximas da praia. A loira sentou no deck de madeira que dava para a areia, e seguiu encarando o mar. Verônica sentou-se ao seu lado, não querendo deixar a delegada sozinha, mesmo não sendo lá sua maior fã.

- Bebemos bastante. - sussurrou a escrivã, brincando com os cabelos meio loiros que escapavam da sua peruca.

- Odeio que você fique o tempo todo falando das coisas que eu fiz ou deveria ter feito, dando palpites e indiretinhas. Não vou virar sua amiguinha só porque estamos nessa merda juntas. Você me irrita, eu te irrito, e é assim. - seguiu olhando para o mar, com sua expressão séria de sempre.

- Não se preocupa Anita, não tenho intenção nenhuma de parar de te odiar. - a escrivã se levantou. - Vou voltar pra pousada.

- Escrivã. - chamou, desviando sua atenção das ondas e se levantando. - Por que caralhos você falou aquilo na frente da velha? Falei pra não exagerar.

- É? Vai me bater porque falei, delegada? - sussurrou com deboche.

- Não me provoca, escrivã. - as duas trocaram olhares raivosos.

- Acho que já vivemos o suficiente pra provar que não tenho medo de você.

Anita se aproximou de Verônica e segurou seu rosto bruscamente.

- Deveria ter.





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sim demorei e ficou horrível😍 escrevi em crise, não me matem
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Desencontros - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora