•Capítulo 9•

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Pov Débora

    Assim que acordei me meti no banheiro. Adam não estava no quarto, e depois do que aconteceu ontem a noite, eu desejava internamente que ele estivesse se divertindo com os meninos. Toda aquela confusão com Dominic, sua conversa secreta com Bob e a data de falecimento de seu irmão,  estava o sobrecarregando.
      Deixei a água morna cair por todo o meu corpo e cabelo. Olhei para o chão branco de porcelana e notei pequenas manchas de sangue. Eu sabia que não usar camisinha e confiar apenas no anticoncepcional, não era um método cem por cento seguro contra a gravidez, e quando chegava a menstruação,  mesmo que seja um fluxo pequeno, eu tinha a certeza de que meu filho com Adam não estava a caminho.
      Passei um pouco de shampoo nos cabelos e esfreguei meu couro cabeludo com delicadeza. É claro que eu queria ter um filho de Adam, mas nós sabíamos que agora não era o momento certo. Ainda tínhamos muito para aproveitar e também,  com essa vida de adrenalina que temos, não podemos dar a segurança necessária que uma criança precisa.
       Terminei meu banho e hidratei todo o meu corpo. Vesti uma lingerie preta de algodão, um jeans azul claro e uma camiseta do filme Rock IV. Sequei meu cabelo e prendi em um rabo de cavalo desleixado, deixando alguns fios soltos. Calcei meus tênis all star e desci para o café.
       Eu não sabia se tinha acordado tarde demais ou se ainda estavam todos dormindo,  mas a questão é que a casa estava vazia. Tinha procurando por quase todos os lugares, até ouvir uma gritaria do lado de fora. Eles estavam lá, estavam na quadra, jogando uma espécie basquete e luta que dava prazer só de observar. Me sentei na espreguiçadeira, do lado de Jenny, e fiquei observando o jogo.
        Petter empurrava Adam, que passava a bola para Josh que gritava com Kayla. Ched tentava bloquear Josh que, por ser dez centímetros mais alto, acabou marcando cesta. Eles estavam todos rindo. Adam segurou Ched pelo pescoço e bagunçou seu cabelo. Comecei a rir espontaneamente. Aquilo,  toda aquela bagunça e felicidade,  me deixava feliz também.
      - Oi amor - disse Adam me beijando
      - Bom dia mana - proferiu Ched
      - Oi para os homens da minha vida - respondi rindo - Como estava o jogo?
      - Uma merda! - disse Petter se aproximando
      - Depois eu é que não sei perder! - respondeu Josh
      Kayla se sentou ao meu lado na espreguiçadeira e Petter e Josh ficaram se empurrando. Eu só queria que Bob também estivesse lá. Ele só vivia naquele escritório,  até quando não estavamos planejando nenhuma ação*,  que graças ao bom rendimento da última,  não estávamos precisando.
      - Vou tomar um banho,  e já desço para irmos - disse Adam beijando minha bochecha
      - Onde vocês vão? - perguntou Ched curioso.
      - A curiosidade - disse o abraçando - matou o gato!
      - Para! Eu estou suado,  vou te sujar! - protestou ele se livrando do meu abraço.
     - Eí Débora, noite das meninas hoje? - perguntou Kayla
     - Boa ideia! - disse Jenny dando um pequeno empurrão no braço de Kayla - os meninos vão sair, e nós podíamos fofocar. Amanhã tem escola e temos que aproveitar o tempo livre, antes que Bob arrume mais uma grande* para fazer.
       - Onde vocês vão? - perguntei para Josh
       - A curiosidade - respondeu Petter segurando meu queixo - matou a gata!
       - Boa! - comemorou Ched batendo no mão de Petter.
       - Kids! - disse revirando os olhos.
      Adam terminou o banho e desceu à sala, onde eu estava jogando com os meninos. Ele vestia um jeans preto e uma camiseta preta também. Seu cabelo estava um pouco molhado e seu rosto um pouco cansado. Me levantei e passei meus braços por sua cintura.
         - Vamos? - ele perguntou deixando um beijo no topo  da minha cabeça.
       Anui e caminhamos até o carro. O caminho foi silencioso,  o que era compreensível,  afinal, visitar um parente morto, nunca será uma das melhores coisas.
       Cemitérios nunca foi uma das construções que eu achasse bonitas, mas aquele dia, pude ver uma certa beleza onde se enterra os falecidos. Os túmulos não eram mausoléus bem cuidados e ricos em detalhes nem enfeites,  eram simples e desgastados pelo tempo. Mas podia se ver árvores floridas por todo o espaço,  e a luminosidade do sol fazia com que as cores se ressaltassem deixando o lugar menos sombrio. Mas não vou negar que tinha aquela tristeza. Aquele misto de dor e sofrimento. Apesar de tudo,  o lugar ainda era a morte em si.
         Fomos caminhando até achar o pedaço de cimento frio, esverdeado de musgo. Não apresentava frases gloriosas, nem palavras de saudades; continha apenas um nome, Abel McGord.
         Adam parou em frente à lápide e passou os dedos delgados pelas letras esculpidas que formavam o nome do irmão. Estava me sentindo incomodada com aquilo tudo, como se eu estivesse atrapalhando um momento particular de Adam. Virei para ir embora mas fui impedida por sua mão que segurava meu pulso.
         - Fica - sussurrou ele - eu não vou conseguir sem você.
         Apertei sua mão, entrelaçando nossos dedos, e fiquei ao seu lado. Pude notar uma lágrima solitária escapulir lhe dos olhos, e me senti quebrada por vê-lo assim. Adam e eu éramos um, nossas almas haviam se fundido tornando-se a mesma, se ele sofresse eu também sofria, era praticamente involuntário,  inevitável.
           Ficamos ali por mais um tempo. Ele tirou uma foto antiga e amassada de dentro do bolso da calça e colocou presa na lápide do irmão.
            - Adeus - disse ele com lágrimas nos olhos

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*Ação:  roubo, assalto
*Grande: o mesmo que ação

Life of gangster || HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora