O sol batia na minha pele, me fazendo sentir uma leve ardência na costa. Abri meu olhos e não encontrei Adam ao meu lado, o que me deixava aborrecida. Enrolei o lençol pelo meu corpo e fui até o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto, depois deitei na cama novamente. Era sábado, e tudo que eu queria era descansar, apesar de não ter feito nada para me deixar cansada esse tempo todo, por causa do ombro - a não ser por ontem.
Adam entrou pela porta trazendo uma bandeja com frutas, torrada, geléia, suco de morango, chocolate e várias outras coisas. Ele estava com um sorriso no rosto que brilhava mais que o sol.
- Bom dia! - disse ele
- Bom dia - respondi beijando seus lábios
- Trouxe seu café - anunciou
Ele se deitou na cama comigo e tomamos café juntos. Depois fui tomar banho, visto que Adam já havia tomado e só faltava eu para descermos para o treinamento.
Depois do banho, Adam me ajudou com o curativo no ombro e notei que os pontos já estavam caindo, logo eu estaria livre. Vesti uma calça de moletom cinza e uma regata branca, fiz um rabo de cavalo no cabelo e calcei um par de tênis preto. Iríamos treinar a precisão dos nossos disparos, com tábuas-alvo não com bonecos-alvo, então Bob concordou em me deixar participar. Quando cheguei na sala no subsolo, todos já se encontravam reunidos e com todo o equipamento de segurança: fones protetores, óculos e colete - só para garantir. Fui para o meu bloco e comecei meu exercício. Descarreguei uma arma no centro do meu alvo, não havia errado um só disparo. Eu era boa, devo admitir. Recarreguei e descarreguei novamente no mesmo lugar. Meus disparos eram tão precisos, que eu conseguia passar três a sete balas pelo mesmo buraco. Olhei para o lado e vi que Ched não havia acertado muitos tiros. Ele nunca foi muito bom de mira. Caminhei até seu bloco e bati em seu ombro delicadamente. Ele tirou o fone e me olhou sem expressão.
- Vamos, eu te ajudo com isso - disse
- Eu não preciso da sua ajuda - respondeu ele seco
- É, estou vendo - apontei para o seu alvo
Ched largou a arma em cima do apoio e subiu bufando para fora da sala de treinamento. Fui atrás dele e o encontrei sentado na escada para o segundo andar, já na superfície.
- O que está acontecendo? - perguntei
- Nada.
- Está acontecendo alguma coisa, você não é assim.
- Não é nada! Já disse!
- Eí! Olha para mim - disse puxando seu rosto, para que ele olhasse dentro dos meu olhos - olha para mim quando eu falo com você. Eu sou sua irmã! Você tem que confiar em mim!
- É que... - disse ele soltando um suspiro - é que... deixa pra lá, tá?
- Não, não deixo pra lá porra nenhuma.
- É que eu não... - ele abaixou a cabeça envergonhado - eu e a Jenny, não... nós não... sabe? Nós não fomos ainda para o segundo passo do namoro.
- Vocês ainda não transaram? É isso que está te deixando tão tenso?
- Ela e virgem, e eu também. Não quero decepcionar ela, sei lá, não quero que seja ruim. Eu fico nervoso, não sei o que fazer.
- Pode parecer papo furado, mas a Jenny te ama, e você ama ela. Qualquer coisa que é feita com amor, não tem como ser ruim. Você é um cara maravilhoso, você é incrível, e não estou dizendo isso porque sou sua irmã, estou dizendo isso porque é a mais pura verdade. Fica tranquilo, segue seu coração, seu desejo, e vai dar tudo certo.
- Obrigado - disse ele e eu o puxei para um abraço - eu que devia estar te dando conselho, te protegendo, mas é você que está sempre me protegendo de tudo.
- Eu sou sua irmã mais velha! É meu dever cuidar de você!
- Eu te amo, ok?
- Eu também te amo. Agora vamos voltar para o treino, antes que Bob venha atrás de nós - disse rindo
Descemos de novo para a sala de treino. Depois de mais ou menos umas três horas, fomos dispensados. Todos sabíamos que o motivo de Bob ter intensificado nossos treinos era a nova gangue. Depois do que havia acontecido no Couse's, não ouvimos mais nada a respeito dela, mas a ameaça ainda estava lá, coberta por faixa e esparadrapo, bem no meu ombro. Óbvio que não foi um ataque digno de nos deixar preocupados, mas havíamos passado por muita coisa até conquistar o respeito das outras gangues - mesmo eles não nos conhecendo pessoalmente, conheciam nossas ações, e, principalmente, reconheciam que aquele era nosso território.
Eu também não estava conseguindo esconder minha preocupação. Temia por todos nós, mas quando eu pensava que eles poderiam fazer qualquer coisa, por mais insignificante que seja, como um tiro no ombro, com Ched, eu entrava em desespero.
- Você lembra como foi nossa primeira vez? - perguntou Adam entrelaçando seus dedos nos meus
Nós estávamos deitados na cama e, depois de o fazer prometer que não contaria à ninguém, disse sobre Ched e Jenny. Talvez ele pudesse dar alguns conselhos de homem para ele.
- Como se tivesse acabado de acontecer - disse sorrindo.
E era verdade; eu me lembrava de todos os detalhes. Na época eu tinha vergonha de qualquer coisa, não conseguia nem ver Adam sem camisa sem ficar com o rosto em brasa. Ele já era, digamos, mais experiente, e achava muito fofo toda minha vergonha, mas depois de um tempo, mesmo ele não dizendo e sendo todo compreensivo, eu sabia que isso estava o deixando frustrado, pois eu afastava qualquer toque mais íntimo que pudéssemos ter.
Estava chovendo muito aquela noite e havia tido um apagão em todo o bairro. Eu morria de medo do escuro - traumas de infância - e os trovões só pioravam as coisas. Ched já estava no décimo quinto sono e eu não tive coragem para o acordar, então fui buscar paz nos braços de quem eu mais confiava. Adam estava acordado quando bati na porta de seu quarto, e me deixou dormir com ele. Os trovões ficavam cada vez mais assustadores e eu comecei a chorar. Adam não sabia o que fazer para me deixar mais calma, então ele me beijou... e eu correspondi. Seus dedos acariciavam minha costas e meus braços, e sua boca estava em uma sintonia tão calma, tão terna com a minha, que logo o medo não estava mais entre nós, só o desejo.
Não havia como ter acontecido de forma mais sensível e carinhosa, até a dor da primeira vez se encaixou perfeitamente naquele momento. Quando acordei com os braços de Adam em volta do meu corpo nu e olhei para aquele rosto de sono, eu soube exatamente que queria acordar com aquele homem todos os dias, para o resto da minha vida. - Você continua apertadinha - sussurrou ele no meu ouvido
- Para! - respondi rindo
- E tão docinha... - disse beijando meu pescoço
Sua mão apertou minha cintura e me puxou colando ainda mais nossos corpos. Minha procurou a sua necessitada. Era incrível como tudo nele me atraía.
- Não atira! - gritou Kayla atrás da porta do nosso quarto - Bob quer todos lá na sala.
Eu e Adam descemos para a sala e encontramos todos reunidos. Depois de alguns minutos, Bob desceu com alguns papéis na mão e um sorriso maldoso nos lábios.
- Quem quer fazer uma visitinha a uma certa nova gangue? - perguntou ele
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