Pov Adam
- VOCÊ DEIXOU O JOGO MAIS DIVERTIDO, PARA ELE! - gritou Bob nervoso
- VOCÊ QUERIA O QUÊ? VOCÊ OUVIU O QUE ELE DISSE SOBRE A DÉBORA? - gritei de volta
Estávamos nessa discussão desde quando voltamos. Era raro que Bob e eu discutíssemos, afinal, quase sempre tínhamos as mesmas opiniões. Bob respirou fundo e colocou os dedos nos olhos.
- Eu ouvi, mas eu pesquisei bem o perfil desse Dominic. Ele é um caçador, e seu ataque só instigou mais o interesse dele por ela. Agora ele vai querer nos matar, te matar e ainda, sei lá, ficar com ela de prêmio. - disse ele
- Eu sei que fiz besteira, mas eu nunca vou permitir que alguém trate como uma vadia a mulher que eu amo. Eu vou protegê-lá até o fim, foi o que prometi a quatro anos atrás, e não brinquei quando disse que estava disposto a morrer para ficar com ela.
Sai rumo ao jardim, deixando Bob sozinho no escritório. Precisava esfriar a cabeça antes de descontar minha raiva em alguém. Sei que tentar bater em Dominic não foi uma decisão sábia, mas desde quando vi ele encarar Débora daquele jeito, tive vontade de quebrar a cara dele. Eu podia imaginar as coisas sujas que ele quis fazer com ela. Bati no tronco de uma árvore, fazendo com que um punhado de folhas caíssem na minha cabeça. Eu a amo tanto, e só de pensar em outro cara a desejando, eu perco o controle.
- Adam! Finalmente te encontrei! - disse Débora entrando no jardim com uma expressão de alívio no rosto.
Ela estava com uma camisola de seda preta e os pés descalços. Seus cabelos castanhos ondulados voavam com o vento frio e a luz da lua realçava ainda mais sua beleza. Ela tinha aquele jeito de mulher forte, inteligente, leoa, que parecia mais uma super mãe para o irmão, e que faria qualquer coisa para defender quem ama. E também tinha o lado preocupada, carinhosa e sensível. Estava sempre disposta a ajudar e ouvir quem quer que fosse. Débora conseguia acalmar minha agressividade, meus demônios e até mesmo meus medos. Eu realmente não sei o que faria sem ela.
- O que está fazendo aqui? - perguntou ela
- Só esfriando a cabeça, ficando um pouco mais calmo - respondi acariciando seus cabelos
- O que Bob queria com você?
- Nada de mais.
- Vem, vamos dormir, eu sei um jeito melhor de te fazer ficar mais calmo - disse ela de um jeito sensual.
Débora me arrastou pelas escadas até nosso quarto. Ela puxou minha camiseta e a jogou em cima do criado-mudo. Seus lábios pousaram nos meus de uma forma doce e ela me mandou deitar de barriga para baixo. Senti o peso de seu corpo sentado na minha lombar e sua mão viajar por toda a extensão da minha costas. Seus dedos apertavam meus ombros tirando toda a minha tensão. Virei na cama ficando de frente para ela e fazendo à cair deitada por cima de mim. Ela riu de um jeito divertido e eu acariciei sua cabeça deitada no meu peito.
- Eu te amo - disse
- Eu também te amo - respondeu ela beijando meu queixo
Adormecemos sem perceber. Eu raramente tinha pesadelos, mas aquela noite tive o pior deles.
Eu estava na minha antiga casa novamente. Minha mãe costurava uma camisa velha daquele filho da puta e meu irmão brincava com seu carrinho no chão. Sabia que aquela paz estava prestes a acabar, quando ouvi os passos do lado de fora. Segurei no braço de Abel, meu irmão, e fomos nos esconder no armário. Eu ouvi quando ele abriu a porta e começou a espancá-lá. Seus gritos, o som das coisas se quebrando, o choro de Abel, tudo aquilo me deixava louco. De repente tudo ficou silencioso, e passos se ouviam em direção ao armário. Não demorou muito para ele nos arrastar para fora a força, já com a cinta na mão. Minha pele ardia tanto que eu já não conseguia respirar, mas o golpe finalmente fez espirrar sague da minha costas. Ele saiu do quarto me deixando caído no chão e arrastou Abel com ele. Eu ouvia os gritos do meu irmão, mas não conseguia ir socorrê-lo. Quando finalmente reunir forças para me levantar, encontrei Abel todo ensanguentado e com a pele arroxeada. Senti seu pulso e constatei que não havia mais nenhum batimento cardíaco. Lágrimas imundaram meus olhos e eu acordei de ímpeto.
Sentei na cama e desabei a chorar. Porra meu, eu sou homem! Não sou de chorar. Mas lembrar de Abel era muito difícil, afinal, ele era meu irmão. Meu irmãozinho que eu não fiz nada para salvar.
Senti mãos delicadas nos meus ombros e leves beijos serem depositados em minha nuca.
- Eí! O que está acontecendo, meu amor? - perguntou Débora preocupada.
- Desculpa ter te acordado - disse limpando algumas lágrimas
- Não, quantas vezes eu não te acordei, gritando desesperada, não é mesmo?
- Você sabe que dia é amanhã? - perguntei me aninhando em seus braços.
- Não - respondeu ela acariciando meus cabelos.
- Faz onze anos que Abel morreu.
Débora me apertou mais em seus braços de forma protetora. Meu pesadelo havia sido mais uma lembrança, o que tornava tudo ainda pior. Aquele dia me atormentava a onze anos, e eu sabia que continuaria a atormentar para o resto da minha vida. Se eu ao menos tivesse me levantado antes, se eu tivesse sido mais rápido, talvez ele estivesse comigo. Mas não, eu praticamente entreguei sua vida para aquele filho da mãe.
- Ele está bem agora. Ele não apanha mais... - disse ela com a voz embargada - ele não apanha mais Adam... ele era bom demais para viver nesse mundo onde acordamos sem saber se nossas feridas vão se cicatrizarem ou se abrirem novamente.
Deixei suas palavras doces me confortar junto com seu abraço. Ela estava certa, ele era bom demais para viver nessa porcaria de mundo.
- Amanhã você vai ao cemitério comigo? Sei lá, levar umas flores, sabe? Não quero ir sozinho - pedi.
- Claro Adam! Não precisava nem pedir. Agora vamos dormir, tudo bem?
Débora me fez deitar novamente e eu á abracei forte, deixando meu rosto na curva de seu pescoço. Seu cheiro de amora recém colhidas, me invadiu e uma sensação de conforto se espalhou por todo o meu corpo.
- Boa noite amor - disse
- Boa noite - respondeu ela me prendendo ainda mais ao seu corpo.
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