Apartamento 73 - KELMIRO

1. Novos Ares

"Vem devagarinho, que eu 'tô te buscando

Eu 'to chegando no fundo do oceano

Eu só não posso mais me ver assim

Cada vez mais distante de mim

Eu não quero mais, pouco

Quero voar"

(Liniker - Antes de Tudo)

Sexta-feira, 17:14

Kelvin empurrou a última caixa de papelão pesada para o canto da sala, onde já se encontravam várias outras. Ele respirou fundo, cansado e sentindo uma gota de suor escorrer por sua têmpora. Olhou ao redor e sentiu vontade de fechar a porta e ir embora, largando todo o caos da mudança para trás, mas sabia que quando voltasse o caos estaria exatamente igual. Andou lento em direção à porta para fechá-la e começar a organizar algumas coisas antes do anoitecer.

Quando sua mão tocou a maçaneta, o elevador abriu e o barulho chamou sua atenção. Ele morava em um apartamento que tinha uma visão direta para o elevador do andar e o publicitário nem mesmo teve tempo para pensar que morar próximo ao elevador pudesse ser um problema porque um homem alto, com barba e cabelos escuros, musculoso e parecendo que tinha acabado de voltar da academia saiu do elevador.

"Meu vizinho? Jesus, que gostoso!", pensou Kelvin

Antes que Kelvin pensasse em dizer um "oi", o moreno se adiantou chegando perto e tirando o fone de seu ouvido para falar.

– Boa tarde! Você é o novo morador? Que se mudou hoje? – disparou Ramiro, chegando próximo o suficiente para Kelvin ouvir suas palavras com clareza

– Boa tarde! Sou sim! Terminei agora de descarregar tudo – ele sorriu, esperando receber um sorriso de volta, o que não aconteceu – Meu nome é Kelvin... Você é meu vizinho?

–­ Meu nome é Ramiro. Sim, eu moro no fim do corredor – disse sério – E sou síndico do prédio também

Kelvin murchou. Tudo que ele não precisava era morar no mesmo andar do síndico. Pensou em todos os amigos que ele recebe em casa, em todas as festinhas que ele ama promover, em todos os momentos em que ele é extremamente barulhento...

– Bom... - Ramiro continuou vendo Kelvin ficar mudo – Seja bem-vindo. Se você não for sair agora, posso ir na administração pegar um documento com as nossas regras e te entregar

– Regras? – Kelvin questionou saindo de seu transe

– Sim, regras básicas de convivência, horário de silêncio e essas coisas... – o moreno suspirou lembrando da bagunça que estava a salinha da administração – Posso...?

– O quê? – Kelvin disse, piscando forte como se obrigasse a voltar para a realidade

– Posso trazer o documento para você daqui a pouco? Só preciso tomar um banho primeiro

Kelvin sem querer e sem conseguir controlar muito seu instinto passou o olhar pelos braços grandes do moreno a sua frente e logo depois subiu seu olhar para o peito marcando a regata branca com uma mancha de suor bem ali no meio.

Ramiro percebeu a distração do outro e fez um barulho com a garganta, o trazendo de volta à realidade mais uma vez.

– Ah, sim! Claro, claro. Estarei aqui, pode vir, estarei te esperando... – Kelvin diz atrapalhado