2. Irritante

4.6K 320 280
                                    

Inesperado o tom pra a vida inteira, desesperado e a gente espera

Que vire o tempo, algum dinheiro, que o mundo então se acabe de vez

(Liniker - Claridades)


Quinta-feira, 21:38


Kelvin piscou lentamente sentindo o cansaço do dia e da semana intensa de trabalho por todo seu corpo. Ele estava sentado na varanda do seu apartamento tentando criar coragem para levantar e fazer algo para comer, mas parecia uma missão impossível.

O ruivo ainda não havia superado a vergonha de ter apagado no sofá do seu vizinho - e síndico - que ele nem conhecia direito. A manhã pós-incidente, quando ele acordou no sofá com uma coberta e completamente desnorteado, foi de uma vergonha quase palpável.

Ele lembra de acordar com um barulho que vinha da cozinha (e um cheiro de café delicioso) e demorou alguns minutos para entender onde estava e o porquê estava lá. Após ver um Ramiro surgir em sua frente com uma xícara de café e sem camisa, Kelvin teve em vista fazer tudo de forma muito rápida possível. Ele nem sabe como conseguiu fazer todos aqueles processos de chamar chaveiro e entrar em contato com o motorista do carro de aplicativo sem vomitar de ressaca e vergonha pela situação.

Mas tudo passou e a semana se iniciou com ele encontrando Ramiro no elevador bem cedo. Ele vestia uma roupa social e usava uma mochila preta. Kelvin não tinha ideia no quê ele trabalhava, mas sabia que o vizinho ficava extremamente bonito naquela camisa de botão branca apertada nos braços e marcando o peitoral.

Já era quinta-feira e eles não tinham mais se visto, Kelvin imagina que os horários deles sejam completamente diferentes. Segunda fora uma exceção em que ele saiu bem mais cedo que o normal de casa.

No final do corredor, Ramiro terminava o jantar enquanto ouvia uma música que invadia todos os ambientes do seu apartamento. Após terminar de comer, foi até a varanda respirar um pouco e assim que sentou na cadeira, seu olhar encontrou com o de Kelvin.

Haviam duas varandas entre eles. Os dois estavam longe e apenas a lateral, uma parte pequena dela, da varanda deles, ficava a vista para o outro. Eles não se cumprimentaram, pois seria inútil, tendo em vista a distância. Mas o olhar dos dois fez Ramiro lembrar do domingo desastroso e da segunda-feira em que eles se viram brevemente no elevador.

Kelvin tinha uma cara de poucos amigos, como se não fosse acostumado a estar de pé tão cedo. Ramiro confirmou a última informação quando não encontrou mais o vizinho no horário que saía de casa para o trabalho.

O ruivo se assustou quando viu Ramiro surgir duas varandas depois da sua e entendeu de onde vinha a música distante que ele ouvia. O vizinho sentou em uma cadeira e ficou ali por alguns minutos. Apesar dele só ter olhado brevemente para Kelvin uma vez, o ruivo continuou olhando, observando.

Ramiro estava sem camisa e bebia um copo de alguma coisa, que parecia água de longe. Kelvin via a boca do outro mexer cantando acompanhando a música que tocava, mas não conseguia ouvir sua voz. Agora prestando mais atenção, ele percebeu conhecer aquela música.


Baby, vem dormir comigo

Baby, sente a luz do Sol

Baby, sussurrar no ouvido baixinho

Que acordar comigo é um travesseiro de manhã

Apartamento 73 - KELMIROOnde histórias criam vida. Descubra agora