5. Psiu

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Sexta-feira, 6:50


Ramiro abriu os olhos e fechou com força rapidamente. O sol invadia o quarto e ele se perguntou por qual motivo a cortina não estava ali, cobrindo a claridade. Ainda de olhos fechados, lembrou exatamente onde estava, e principalmente, por qual motivo sentia seu braço dormente e seu corpo estava colado a outro. Abriu os olhos lentamente e olhou o relógio na cabeceira que mostrava que se ele ficasse mais um tempo ali, iria se atrasar para seu ritual matutino antes do trabalho: banho, fazer seu café da manhã calmamente, tomar café enquanto vê jornal...

Respirou fundo, pensando que aquilo tinha sido uma escolha péssima. Eles haviam desmaiado após o sexo e agora estavam em uma conchinha tão íntima. Ramiro tinha um braço esticado e Kelvin, a cabeça apoiada nele e eles estavam completamente grudados, era até meio sufocante. Se moveu com cuidado, no intuito de não acordar o outro enquanto se afastava, mas Kelvin acabou se mexendo e suspirando, mesmo sem Ramiro ter conseguido se afastar nem 10% da posição original.

Kelvin precisou de alguns segundos, igual Ramiro, para entender o que estava acontecendo. Apesar de estar em seu quarto, a sensação de ter alguém assim o abraçando era diferente, ele não costumava dormir com as pessoas que transava. O sol também o incomodava, ele colocou a mão no rosto e nesse momento sentiu o outro se mexer, o abraçando mais pela cintura, regredindo no afastamento de segundos atrás.

– Bom dia – Ramiro disse baixinho, com o rosto enfiado no pescoço do outro

– Bom dia – Kelvin respondeu meio sem voz e sem conseguir abrir os olhos muito bem

Ramiro fez menção de se afastar, mas Kelvin segurou o braço dele que estava em sua cintura e recebeu como resposta uma risada.

– Preciso ir, vou me atrasar pro trabalho – Ele dizia enquanto deslizava a ponta de seu nariz por toda extensão do pescoço de Kelvin, cheirando ali

Kelvin se arrepiou e colocou uma mão para trás, alcançando o cabelo do outro, fazendo um carinho leve em seguida.

– Eu nunca perguntei... Você trabalha com o quê?

– Sou contador

Kelvin riu e respondeu em seguida

– Empregos chatos para pessoas chatas. O casamento perfeito

– Ô... - Ramiro repreendeu apertando a cintura do outro – Então nesse caso você deve ter o emprego mais insuportável do mundo, deixa eu adivinhar...

– Eu sou publicitário, querido. Trabalho com criatividade – Kelvin interrompeu

– Por isso você é tão criativo nas diversas formas de me irritar

– E em outras coisas também... - disse em tom de malícia movendo seu quadril para colar mais ao outro

– Ih, nem começa. Preciso ir

Ramiro se afastou rapidamente e levantou. Kelvin virou em direção ao outro e viu ele de costas, procurando sua roupa pelo quarto.

– Bela bunda – o ruivo falou sorrindo – Bom, como eu não tenho um emprego chato igual o seu, eu não preciso trabalhar tão cedo, continuarei dormindo... Adeus.

Ramiro riu e respondeu um "bom dia" de novo e seguiu para o seu apartamento.


21:17


Ramiro dá uma última conferida no espelho, antes de pegar suas coisas para sair. Ele ouve o barulho vindo do apartamento de Kelvin e decide passar lá antes, pois logo seriam 22h e ele não estaria por aqui para alertar mais o vizinho.

Apartamento 73 - KELMIROOnde histórias criam vida. Descubra agora