Capítulo XV - Fantasmas

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Os primordiais raios solares emergem das montanhas iluminando os negros cabelos de Yang Lian como se fossem feitos de obsidiana, ele está com seus braços cruzados, encostado na lateral esquerda do portão de entrada de seu clã. Ainda está escuro, apesar da luz crescente, e ele apenas observa Yang Cheng, que está perto dele, supervisionando a entrada dos novos trabalhadores e materiais enviados pelo lorde.

Os homens entram conversando entre si e sorrindo, entusiasmados, o que faz Yang Lian estranhar. Como alguém estaria animado para trabalhar em coisas chatas como as que os esperam? Ele apenas continua observando, intrigado com o humor desses homens, talvez o lorde que eles servem seja mais legal que Yang Cheng, na verdade, é extremamente fácil para qualquer um ser mais legal que Yang Cheng, então, logo essa alegria deve passar por eles não estarem mais com o lorde Jing Su.

É entediante se concentrar em tudo ao seu redor quando nada interessante está acontecendo, Yang Lian odeia trabalhar como guarda-costas, ele é um estrategista e lutador, entretanto, o líder parece não se importar muito com isso e sim apenas em quem é mais competente para garantir a sua segurança.

O tempo escorre sem cessar e o sol já está alto no céu, entretanto, seu calor não é inconveniente, apenas aconchegante. Todos já começaram seus trabalhos em diferentes setores e Yang Cheng deseja vê-los para confirmar que tudo está correto.

Yang Lian caminha mal-humorado atrás de Yang Cheng, que anda apressado. O destino deles é a região mais baixa do território do clã, onde estão perfurando poços com a intenção de haver mais água ao dispor deles, facilitando uma agricultura independente maior.

Pouco antes de chegar, Yang Cheng para porque encontra no caminho um homem em que ele possui assuntos a tratar, eles marcaram uma reunião mais tarde, entretanto, não há problemas em resolver agora porque economizará tempo. Ambos se cumprimentam com cortesia e começam a discutir burocracias.

— A produção de tecido púrpura está pausada, faltou uma matéria-prima — avisa o homem.

— Qual?

— O corante.

— Podemos produzi-lo?

Yang Lian interrompe-os, segurando Yang Cheng e o puxando para seu lado.

— Está tudo bem? — pergunta Yang Lian ao líder.

— O quê? — ele vê a pedra que deslizou e quase o acertou.

— O senhor está bem!? — diz o homem com seus olhos arregalados.

— Estou bem sim — ele suspira e olha para Yang Lian — Obrigado, você me salvou.

— Eu apenas fiz o meu trabalho.

— Este acidente poderia ter sido terrível, vamos nos atentar às condições dos trabalhadores para nada ruim acontecer com eles — diz disfarçando, depois se aproxima de Yang Lian para falar algo em particular — Vamos ao marechal — ele é breve e discreto, depois, vira seu olhar para o homem que testemunhara tudo — Continuaremos nossos assuntos mais tarde.

Yang Cheng caminha para a base militar, ele está muito próximo de Yang Lian e tremendo, contrastando com a postura forte e confiante de seu guarda, entretanto evita se aproximar exageradamente porque é de seu conhecimento os rumores que circulam sobre sua vida e ele não deseja aumentá-los pelo bem de sua reputação quase inexistente.

Eles chegam à base e procuram o marechal. Yang Lian encontra-se com ele imediatamente.

— O que aconteceu? — fala ao ver o estado do líder.

— Tentaram me matar.

— Podem me explicar em detalhes o que presenciaram? — Yang Lian pega papel e tinta e começa a escrever.

— Estávamos a caminho da construção dos poços, todavia encontrei-me com — ele pausa para tentar se lembrar do nome — Com um homem em que eu tinha negócios a tratar, e para adiantar decidi conversar com ele o que era necessário e sem eu perceber uma pedra enorme desceu em minha direção, seu discípulo que me salvou.

— Escrevi! — ele entrega para o general, que lê atentamente.

— É muito provável que seja tentativa de assassinato.

— Quem? E como iriam chegar tão perto de me matar?

— Eu não sei, melhor passar o trabalho para a divisão de inteligência.

— Eu não confio neles, em minha posição é difícil confiar em alguém — e fecha os punhos, apreensivo.

— Não se preocupe, eu já consegui um substituto para o Yang Sizhui e a divisão está bem.

— Confio em seu julgamento — ele suspira.

— Quatro dias — diz Yang Lian.

— O que isso tem a ver? — pergunta Yang Cheng, preocupado.

— Faz quatro dias.

— Que quatro dias o que criança?

— Faz quatro dias que prendemos o Tigre Branco e já temos outros problemas.

— Não tem como ser ele — o líder coloca sua mão na cintura enquanto diz.

— Eu não disse que era ele, difícil, a não ser que fazia parte de seus planos e ele já havia se preparado.

— Verdade, quem será que tentou me matar?

— Não sei, mas sei que você não vai conseguir chegar em uma resposta com seus raciocínios — diz Yang Lian, e Yang Cheng franze as sobrancelhas.

— Já está resolvido por ora, entregarei o caso à divisão de inteligência e eles investigarão — o marechal interrompe-os.

— Por mim, tudo bem.

Eles se despedem e Yang Cheng retorna para seu trabalho, acompanhado de Yang Lian. Sua confiança nele aumentou, o líder pensava que este jovem o odiava e não desperdiçaria uma chance de livrar-se dele, ninguém suspeitaria que haveria algo de errado se Yang Lian não o salvasse.

E para evitar estar dentro da influência de quem deseja matá-lo, Yang Cheng decide ir para fora de seu clã, ele possui reuniões com o líder do clã Jin em breve, então escolhe chegar com a antecedência de um dia.

O líder é precavido ao preparar-se para uma viagem curta ao clã vizinho, que foi construído ao lado do seu. Uma enorme quantidade de militares o acompanha e ao seu lado, dentro de sua carruagem, ele escolheu colocar Yang Lian.

Os cavalos são detentores de um suave galopar, suas patas batem no chão emitindo um ruído rítmico digno de ser apresentado nas orquestras apreciadas pela realeza e a brisa dançante esvoaça as crinas brancas como cristais de neve. Da carruagem, é possível contemplar o céu, seu azul detém uma profundidade maior que a do mar, e longe das nuvens, o sol reluz com um arco ao seu redor, como se estivesse protegido por um prisma.

Yang Lian derruba Yang Cheng.

Yang Cheng respira profundamente, já tendo entendido o que aconteceu, uma gota de suor fria como o gelo desce do rosto e o corpo dele treme. Yang Lian se levanta, porque havia perdido o equilíbrio e caído junto. Uma flecha atravessou parte de sua armadura, alcançando o braço dele, entretanto, não há nenhum ferimento grave. Um pouco de sangue escorre em sua pele e pinta a ponta da flecha de carmesim. Quando Yang Lian a retira de seu braço, ele arregala seus olhos ao perceber que a lâmina da flecha está coberta por um líquido com ervas.

— Isto é... veneno?

Dinastia da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora