Capítulo 1- Hunter's Valley

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Para uma cidade pequena , Hunter's valley leva mesmo o Halloween a sério.

O mês das bruxas começou a alguns dias e 7 a cada 10 pessoas já estavam correndo atrás das suas fantasias. Os outros 3, já haviam comprado.

Tudo já estava devidamente decorado, desde escolas até mesmo a delegacia de polícia, que nos bancos de espera logo à frente da fachada, estavam posicionados dois esqueletos algemados aos bancos, e um terceiro segurando uma chave em uma mão e uma rosquinha em outra. Vejo o pai de Louis e dou um pequeno aceno. Ele está segurando sua  xícara de café e usando seu uniforme de Xerife e me devolve um sorriso.
O caminho para a universidade era curto, cortando pelo meio da cidade me davam alguns minutos de caminhada e o privilégio de observar as pessoas despertando para um novo e pacato dia.
Viver aqui tem sido uma experiência e tanto desde minha mudança a 2 anos atrás. Tem sido como viver em uma daquelas histórias de série americana. Do tipo Gossip Girl, não Riverdale.
Pensar em casa, algo mais como Narcos, ainda era um borrão. Como um sonho onde somente flash's ficam na memória. Era como se alguém que tivesse vivido, me contasse como uma história. Como se aquelas emoções não fossem minhas e como se aquele corpo não fosse o meu. Mas era. Tudo aquilo, era eu. Os borrões de emoções e lembrança. Eram minhas. Seguro a alça da bolsa com mais força. O vento de outono sopra gelado em meu rosto e inspiro, sentindo o frio lentamente dissolver o nó em minha garganta.
Pela primeira vez, eu estava acordada. Desperta e sem pesadelos. Somente eu. Uma caloura na universidade local. Trabalhando no HUNT BEER. Alguns poucos amigos. Um apartamento razoável. E o Louis.
Louis e eu nos conhecemos 2 meses depois que cheguei a cidade, durante uma competição de sinuca no HUNT BEER, HB para os mais íntimos. Estava trabalhando lá fazia algumas semana e depois de muita insistência do meu chefe, John, fui participar de uma partida contra Louis e acabei enfiando a ponta do taco em seu olho. Ele quase ficou cego, mesmo com muita compressa de latinha de cerveja gelada, demorou quase 1 hora para que ele conseguisse abrir o olho. E ainda assim, a primeira coisa que ele fez quando abriu os olhos foi dizer que eu tinha os olhos mais lindos que ele já viu. Alguns dias depois descobri por John que ele havia prometido uma voltinha em sua viatura para que ele me apresentasse a ele. Não que tenhamos começado a namorar desde esse momento, mas alí, foi onde começou. Foi naquele dia quando ele chegou mais tarde, ainda com um olho roxo, que reparei em seus olhos avelãs, no seu cabelo loiro queimado, que se ondulava e caiam despretensiosamente em sua testa. Na sua pele em um tom de caramelo. E em como ele sorria. Depois disso, meus dias foram preenchidos com ir a faculdade de manhã e trabalhar a noite até que ele chegasse no bar com alguma desculpa para me ver. Aos poucos ele foi me abraçando e me colocando em sua vida, de forma sutil, mas ainda assim, de modo que ninguém nunca havia feito por mim, e isto, foi a maior beleza que eu poderia ter visto nele. Pensar em Louis me fazia sorrir, e eu sempre soube o valor de um sorriso. Ele era tudo que eu pedia quando mais jovem.

Assim que dobro a esquina, vejo o prédio da Universidade de Hunter's valley ao fim da rua. O campus não era lá o maior que eu já tinha visto, mas era aconchegante, um pequeno gramado com alguns bancos que não passavam de tocos de madeira baixos, algumas árvores espalhadas, que cobriam o gramado com suas folhas em tons de marrom, laranja e vermelho, indício do começo do outono. Atravesso a rua e caminho em direção ao prédio no momento em que um sútil sinal toca, indicando o início das aulas.

- Bom dia Docinho - diz Hannah enganchando nossos braços e esbarrando seu quadril em mim, me fazendo cambalear.

- De onde diabos você saiu?- digo sorrindo e me recompondo da quase queda me agarrando ao braço enroscado no meu.

- Ei, não tenho culpa que você não me ouve, estou te chamando a pelo menos uns 2 quarteirões atrás- Ela diz gesticulando com suas compridas unhas, decoradas com temática de abóboras.
Hannah era minha amiga mais próxima, também nos conhecemos no HB poucos dias antes de Louis entrar em minha vida e nossa conversa fluiu por conta de estarmos estudando na mesma universidade, sem que uma tivesse prestado atenção na outra. Nossa cabeça avoada era a nossa coisa em comum.

- Sabe, a festa do Cody é daqui a uma semana e ainda não te vi falar sobre sua roupa- ela comenta enquanto empurra a porta de entrada do prédio.
Argh. Me esqueci da festa.

Cody era um veterano, amigo de Hannah, que era conhecido por dar as melhores festas. Tanto as de férias, quanto as de qualquer feriado comemorativo. Até nos dias não comemorativos, ele não precisava de uma data importante para arrumar uma festa daquelas que dão prejuízo para os vizinhos, que tem de recolher todo papel higiênico das árvores, lavar os vômitos das calçadas e se desfazer dos preservativos jogados sobre o capô de seus carros. Ele sabia dar uma festa, e por esse motivo, ninguém em sã consciência perderia esse entretenimento.
E eu ainda não tinha escolhido a fantasia por falta de tempo. E de vontade.

- Hum... Eu vou ver isso. Estou com umas ideias, mas nada fixo ainda- nos entrámos na sala e subimos as escadas para nos sentarmos nos lugares mais altos.- talvez gatinha, ou... Coelhinha- digo retirando as meus livros e cadernos da bolsa.
Hannah joga sua pilha de livros com força na mesa. Seu rosto se contorce em incredulidade.

-Gatinha? Coelhinha? Candice, isso é halloween, não a fazendinha da vovó mary- ela se joga em seu assento.- Essa ideia, todo mundo já teve, sei lá... Vai ter no mínimo uma dúzia de garotas com esse tipo de fantasia.- ela para fazendo biquinho, pensativa.
Hannah com certeza ficaria bonita de gatinha. Ela tinha uma pele marrom chocolate que trabalhavam bem com seu cabelo longo com tranças em um tom marsala, e olhos felinos, escuros e sombrios, como se guardassem segredos. Mesmo que ela mesma seja um livro aberto, e deixava muito clara suas opiniões. Era alta, mas não desajeitada, seus movimentos sempre fluídos e elegantes. Ela exalava uma superioridade felina. Ela estalou os dedos e se virou para mim, apontando em meu rosto com os olhos cerrados.

- DOCE! Você vai de Candy girl!- Ela sorri triunfante. Sério? Trocadilho com meu nome? Legal. A Candy vai de Candy girl. Isso é ainda mais cafona que coelhinha da Playboy.

- Bem original - eu reviro os olhos sorrindo. - E você, vai de que?- abro meu caderno quando as luzes da sala diminuem e a tela a nossa frente acende.

- Por mais que eu queira entrar nessa vibe de trocadilhos, não acho que Hannah Montana seja muito minha vibe.- ela me da um sorriso amarelo. Ela tamborila a mesa como se fossem tambores, e então vira suas mãos para mim, com a palma virada para seu rosto, exibindo suas unhas. Bufo.

- Abóboras? Serio? Como gatinha e coelhinha é clichê e abóbora não?- sussuro, o professor entrando na sala já gritando a apresentar os slides.

Ela emburrece.

- você vai ver do que estou falando, quando a hora chega, Candy baby- ela da uma piscadela, e nós voltamos nossa atenção e para a aula.

Candy Ou TravessurasOnde histórias criam vida. Descubra agora