Jungkook viu no dia seguinte a vergonha de Seokjin acordar, o ajudou a se banhar, mesmo recebendo reclamações, mas sabia que era apenas uma desculpa para saber se realmente era verdade tudo o que estava acontecendo. Mas havia burocracia, e no momento que a roupa de Seokjin entrou, Jungkook escondeu a marca que deixou nele.
— Você não quer que saibam?
— É imprudente. Acabou de perder seu marido, o país dele. As pessoas acham que você está de luto e não tendo relações com seu regente.
— Yoongi estaria soltando fogos uma hora dessas se soubesse. — Seokjin ajeitou a roupa no corpo. — E a sua?
— A minha? Você quer que eu esconda?
— Eu não sei. Eu... —Seokjin mordeu os lábios, com medo de falar besteira. — Eu queria que... Eu...
— Não irei esconder. — Jungkook quis rir com o sorriso que Seokjin fez. — Jin, olhe para mim. Você vai voltar para Alvernia, para seu povo, para o mar. Por favor, não deixe de me amar quando pisar os pés lá.
— Mas foi lá que eu comecei a te amar. Não faz sentido. O que seria de Alvernia sem você, e o que seria de mim sem você.
Em Alvernia tinha novidades e Seokjin soube o quão arrependido poderia ficar por não ler cartas. Depois de tanto tempo sem ver Jimin, haviam duas cabeças pequenas saindo de trás dele com os olhos curiosos e atentos. Duas meninas de cabelos iguais ao de Namjoon, de olhos, lábios, nariz, bochechas, olheiras, bolsas de olhos, orelhas e provavelmente até mesmo de personalidade iguais.
— Você é um idiota, Kim Seokjin. — Jimin falava com raiva. — Eu te contei das meninas. Contei sobre Jungkook. Contei sobre tantas coisas e você me ignorou, ignorou a todos nós, somos sua família, porque você faz isso? Por que se isola como se ninguém estivesse com você?
— Me desculpe, Jimin. Sei que não há forma de me redimir, sei que não há palavras para...
— Ah cale a boca. — Jimin o abraçou e então viu Taehyung, tão crescido e todo encolhido. — Tae!
— O-oi. — Taehyung ainda estava assustado, era óbvio, ele havia perdido muito. Mas ainda no barco Seokjin sentou para conversar com ele, entregou os papéis comprovando que ele era o herdeiro e a foto de seus pais. Só que não havia nada que pudesse mudar o luto dele de uma hora para outra, ele passou a dormir segurando a foto dos pais e a sempre procurar Seokjin a noite. Uma vez, Jungkook deixou que o menino dormisse entre eles. Era o que poderia fazer.
— Oh! Quem é você? — As gêmeas disseram em uníssono, elas tinham seus três anos e ao verem Taehyung parecia que seus olhinhos brilharam.
— Me chamo T-Taehyung.
— Eu sou a Hirai.
— E eu sou a Rina. Não nos confunda!
Jimin riu. Com certeza Taehyung ia confundir, elas eram realmente muito parecidas. Por não gostarem de serem confundidas, Jimin tinha a tática de vestir Rina de roupas vermelhas e Hirai de roupas verdes, mas elas ainda não havia percebido isso, quando percebessem teriam problemas graves.
Mas a volta de Jin foi bastante agitada, ele ainda estava de luto pela morte de Yoongi e as pessoas se acostumavam com a presença de Taehyung aos poucos, estranhando aquela criança que Seokjin tratava como se fosse seu próprio filho. As semanas de sua volta não o fez parar um momento sequer, as pessoas queriam saber, tocar no rei. Sentiam falta do sorriso animado, da simpatia e principalmente da empatia que Seokjin carregava. Tal personalidade que ele não tinha mais, sua inocência havia sido tirada de si ao decorrer dos anos, a perda de Yoongi e a consequência de ter Taehyung como responsabilidade pareceu ter endurecido cada vez mais a alma que as pessoas ainda enxergavam com tamanha pureza.
Com as semanas que passou, percebeu que estava ficando cansado de ser rei e sabia que não conseguiria largar tão cedo. Mas o dia em específico foi bonito, uma pena que não havia conseguido ir à praia, ver o mar e sentir a areia entre seus dedos. Taehyung dormia na cama de Jin quando ele abriu a porta pesada, a promessa que haviam feito de estarem sempre juntos às vezes não era fácil de cumprir.
Seokjin sentiu falta de Jungkook nessas semanas.
Resolveu dar um beijo na testa de Taehyung, tirar a pintura que ele tanto segurava de seus pais de dentro da mão direita colocando na mesa do lado e saiu até o quarto de Jungkook que não era muito distante.
— Jungkook? — Seokjin disse baixo ao bater na porta, mas se assustou quando ela abriu abruptamente e Jungkook saiu, fechando a porta imediatamente sem o deixar entrar. — O que tá acontecendo?
— Nada. O que faz aqui, Jin?
— Eu vim ver o alfa que me marcou, não posso? — Seokjin arqueou as sobrancelhas. — Quem está aí dentro?
— Não tem ninguém no meu quarto.
— Por que eu não posso entrar no seu quarto, Jungkook? — Seokjin estava com os braços cruzados, sua paciência era curta quando desconfiado. —Você tem alguém, é isso? Você me marcou tendo alguém, Jungkook?
— Não! Não é isso...
— Então o que é? O que você tá escondendo?
— Tudo bem... Entre. — Ele abriu a porta. — Só está um pouco bagunçado.
Não estava um pouco, estava muito. Tinha papel amassado pelo quarto inteiro. Vários pincéis largados no chão. Tinteiro. Estava um caos. No primeiro passo que Seokjin deu para dentro pisou um tinteiro sujando todo o sapato.
— Foi por isso que não quis que você entrasse. — Jungkook o levou até a cama, e se ajoelhou para tirar o sapato sujo. — Senta que vou tirar o sapato.
— Me desculpe por desconfiar.
— Tudo bem. Eu também desconfiaria. — Jungkook tirou os sapatos, as meias e fez uma massagem nos dedos cansados de Seokjin. — Eu estava tentando escrever uma boa carta. Possa ser que as minhas cartas que você recebeu, e não leu, não foram com minha caligrafia.
— Quem escrevia?
— Jimin. Eu só falava.
— Eu não sabia que você não sabia escrever, Jungkook.
— Eu sei, mas é que minha letra é feia para uma carta de amor. E acho que Jimin iria rir de mim.
Uma carta de amor.
Uma carta de amor não tem como não ser brega. Não ser ridícula. O ser apaixonado é tão sem noção que é capaz de passar horas escrevendo uma carta de amor com sua caligrafia feia apenas para escrever uma carta de amor.
— Eu posso te ajudar. — Seokjin disse, mordendo os lábios para não chorar. — Eu vou ser seu professor de caligrafia.
Ao tocar no rosto de Jungkook, constatou que não havia mais nada que pudesse mudar. Em algum momento poderia sim voltar a sentir a solidão que sempre lhe acompanhou, mas depois de tanto tempo, de tanto acolher o medo de o deixar tomar rédeas de sua vida, quase perdendo o primeiro e único amor que teve, ele não poderia ter esperado um fim tão interessante para sua alma tão solitária.
— Me beije. — Jungkook sorriu com o pedido de Seokjin, se erguendo para deitarem na cama.
— Como quiser, meu rei.
— Jungkook, você sabe que eu sou uma pessoa azarenta, não é? — Seokjin disse entre os beijos.
— Sei. Mas acho que para mim, você é como um amuleto da sorte.
— Um pé de coelho?
— Meu pé de coelho.
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A história Solitária de um rei | JINKOOK
Fanfic(CONCLUÍDA) Kim Seokjin é o príncipe herdeiro, conhecido como pés leve e dotado por uma sorte inexplicável, ele consegue ser uma pessoa amorosa e sem noção ao mesmo tempo. Seu lado sem noção é contido por seu fiel escudeiro, Jeon Jungkook, um homem...