Prólogo

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        Minhas pálpebras tremem conforme a sensação de flutuação causada pelo sono deixa meu corpo. Ainda sem abrir meus olhos, movimento meu braço, sentindo a maciez incomum do que não aparentava ser minha cama. Ignorando meu coração acelerado continuei a tatear, em busca de uma familiaridade, mas nada me vinha a mente além da sensação de estar sobre nuvens - eu nunca havia tocado em uma nuvem, mas, se tivesse, tenho certeza de que a textura seria a mesma.

        Me perguntei se ainda estava sonhando.

        Abrindo um olho de cada vez, pude vislumbrar um céu escuro e vazio de poluição luminosa. O manto azulado recoberto de milhares de estrelas brilhantes que contornavam a grande lua em sua forma que lembrava um sorriso.

        Senti como se não existisse um único momento em que a paz que me encheu naquele momento já tivesse sido experimentada por mim. Era tão lindo, tão aconchegante. Gritava proteção. Lar.

        — Oque é esse lugar? – me perguntei, em voz alta – estou sonhando...

        — Não tenha medo.

        Me levantei de imediato, mais acordado do que poderia estar, pronto para me defender daquilo que espantou os melhores sentimentos que pude experimentar. Ademais, a familiaridade em seu tom me fez hesitar. Respirei fundo antes de virar o meu corpo, uma de minhas mãos fechadas em punho em minha blusa logo acima do coração que batia freneticamente, com medo que o estranho pudesse ouvi-lo.

        Mesmo as vozes mais familiares e acolhedoras não podem ter sua confiança depositada tão rapidamente. O mal mais cruel sempre se esconderá por trás de sorrisos suaves e voz gentil, porque é mais fácil manipular uma mente quando ela não os vê como uma possível ameaça.

        A surpresa que senti ao me deparar com o típico cabelo longo castanho preso em um coque, como um samurai, não pode ser descrita. Era como se uma mão invisível agarrasse meu estômago e o contorcer-se enquanto mil outras prendessem meu corpo no lugar, me impedindo de reagir. Minha mente se encontrava em um frenesi de alívio e medo, todos os sentimentos rodeando apenas uma pessoa, aquela que me olhava com um sorriso suave, como se soubesse de todas as vozes gritando em minha cabeça.

        Logan.

        Logan.

        Logan.

        LOGAN!

        Não pensei antes de correr até ele, apertando seu uniforme da academia, temendo que ele sumisse novamente.
Aquele era Logan, meu irmão. Meu irmão estava aqui comigo! Com a mesma aparência da última vez que eu o vi, aparentando estar tão bem quanto eu pedia todas as noites que ele estivesse.

        Senti meus olhos criarem nuvens de lágrimas. Mordi meu lábio que tremia, não confiando na minha voz, apenas continue abraçada a ele até que suas mãos me afastassem pelos ombros. Ele me olhou, determinado.

        —Não tenho muito tempo!

        — Logan! Por favor, vem comigo! – implorei, me agarrando ainda mais fortemente em suas vestes.

        Eu esperava que ele apenas voltasse a me segurar de forma protetora, que dissesse que tudo estava bem, de que a situação não passou de um pesadelo e quando acordasse ele estaria lá para me levar a faculdade. Eu me agarrava ao fio de esperança que lutava para me abandonar. Sentia meu coração tamborilar em meu peito, tanto que tinha medo de que ele se soltasse e caísse para fora do meu corpo. Minhas mãos tremiam e o ar se recusava a encontrar passagem entre meus tubos e viajar até meus pulmões, minha garganta se fechando cada vez mais com a percepção que o oxigênio não entraria.

        Eu não posso perde-lo de novo!

        — Eu gostaria de poder... – ele me deu um sorriso triste, soltando minhas mãos para que pudesse segura-las ele mesmo – Preciso da sua ajuda.

        Sua voz começou a ficar distante, como se o sonho estivesse prestes a acabar, seu rosto passando a se tornar cada mais transparente. Desaparecendo.

        NÃO.

        Não posso perder ele de novo.

        Era como se quanto mais eu tentasse, mais distante ele ficasse de mim. Seu corpo agora era apenas uma sombra, lutando para proferir suas palavras de despedida. Sua voz mal sendo captada por mim. Estendo minha mão em sua direção e grito seu nome, desesperado, contendo minha esperança destruída dentro do meu peito, esperando que isso ajudasse a me impedir de colapsar.

        — Logan, não desista! Pegue minha mão! – o fantasma de sua presença apenas fugia a cada passo mais distante das minhas tentativas de o manter próximo.

        — Estou te perdendo! Por favor, me ajude a monta-lo de novo! – ele diz, alto o suficiente para que eu pudesse ouvir.

        Consigo enchergar o vislumbre de seu dedo, apontando para algo atrás de mim. Olho na direção mostrada e vejo um filtro dos sonhos de penas brancas rosadas no chão de nuvens. O pego, levantando o filtro até que estivesse próximo o suficiente para ser examinado, mas ele desaparece no mesmo momento, sem nenhuma sombra de que ele já esteve lá.

        — Eu sei que você vai conseguir! Eu acredito em você, mana! – sua voz ressoou do vazio. Olhei para todos os lados, em busca da sua figura, entrando em um pânico cada vez maior ao perceber que meu irmão não estava em lugar nenhum.

        — Logan, por favor! Eu não sei oque fazer! Não vá embora!

        Sinto uma forte rajada repentina me puxar, me levando para outro lugar que não conheço. Até abrir os olhos e ser recebido pelas paredes de tinta gasta do meu quarto no mundo real. O mundo em que meu irmão está dormindo, e o sonho dele parece interminável. Os sonhadores sabem como é, eu sou um deles.

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