Capítulo 1 - o despertar: parte 1

82 14 162
                                    


Capítulo 1 - o despertar: parte 1: o sonho perdido

Minha casa

A água manchada de vermelho escorria por entre meus dedos conforme minha percepção da realidade se tornava cada vez mais confusa, como se não fosse eu a controlar esse corpo e estivesse apenas observando como um telespectador parcial. Os flashes de memória iam e vinham. Eu sentia meus dedos massageram meu couro cabeludo, ou talvez não. Eu possuia consciência do ato e o resultado dele, mas ao mesmo tempo não me sentia ligado o suficiente a realidade para capturar as pequenas sensações e memórias que essa ação resultaria.

Meu corpo estava ali, mas minha mente não. Diferente de quando eu apenas me distanciava para pensar e acabava esquecendo de focar nos ocorridos ao meu redor, naquele momento eu sentia que estava longe até de minha própria mente, mesmo sendo ela quem me isolou de tudo em um estado semi consciente.

Não conseguia me concentrar. Mal notei a frieza do registro, apenas conseguia encarar o vermelho da tinta manchando o piso.

Vermelho. Como a cor favorita de Logan.

Como a cor que eu vi depois do sonho. O único sinal de que Logan estava bem que recebi em meses.

Hospital, quarto do Logan

Foi real.

Tão real que ainda estou apertando meu punho em suas vestes, testando se é ele mesmo, aqui, comigo. Neste hospital, adormecido, preso em sua própria mente de Sonhador.

Apesar de ter ocorrido tão recentemente, é difícil me recordar de todos os detalhes do sonho, oque me apavora. Eu faria de tudo para preservar a mínima memória que fosse onde meu irmão aparecesse, especialmente se ele estivesse acordado, vivo. Diferente de como ele parecia deitado nesta cama.

- Oque você queria me dizer? - perguntei para o nada, focando no barulho de seus batimentos que a máquina ao seu lado reproduzia.
A única prova de que ele ainda está vivo.

Desde que tenho lembranças, possuo um dom especial - meus sonhos ganham vida e eu consigo viajar para o mundo dos sonhos -, um presente nos dado, como diria minha avó. Ela treinou a mim e ao meu irmão desde pequenos para que pudessemos aceitar o chamado de Lunescape quando chegasse a hora, infelizmente ela morreu antes que tal objetivo fosse concluído. Apesar de seus esforços e desejos, aceitar Lunescape não está na minha lista de tarefas da semana.

Não doeu tomar essa decisão. Não estou desonrando os últimos desejos de uma senhora falecida, sei que apesar de todo o seu amor pelo chamado ela apoiaria minha decisão com base nós acontecimentos não tão recentes. Sou legalmente um adulto, acredito que posso descobrir oque é melhor para mim usando meus próprios desejos e objetivos de pedestal.

- Com licença, senhorita?

Dou um mini solavanco da cadeira qual me encosto, com o coração acelerado olho ao redor, agitado, tentando encontrar a origem da voz daquele que me tirou com tanta força do lugar seguro no fundo da minha mente. Até que olho para trás e vejo um doutor que aparentava ter minha idade, talvez poucos números na frente.

Logan está em coma a longos meses e toda vez que eu vinha o visitar era recebido por sua doutora designada. Eu nunca vi esse médico.
Inconscientemente arrumo minha postura, tentando passar uma imagem de força e confiança, mesmo que meus olhos vermelhos e os rastros de lágrimas secas não passassem muita credibilidade. Eu não esperava ficar tão próximo de um homem tão cedo, especialmente em um quarto fechado com apenas um paciente adormecido. Foi por isso que insisti tanto que fosse uma doutora quem cuidasse de Logan, eu não confiava o suficiente em minha mente para conseguir lidar com interações próximas tão recorrentes. Sinto minhas mãos tremerem no meu colo.

Lunescape Onde histórias criam vida. Descubra agora