Prefácio

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A cidade de Westfield, com suas fachadas perfeitas e jardins meticulosamente cuidados, era um palco impecável para os jogos de Clara Winterbourne. Por trás das cortinas rendadas e portas trancadas, sussurros rodopiavam como folhas em um redemoinho, sempre retornando ao mesmo ponto central — Clara e seus atos inescrutáveis.

Cada vez que a noite caía sobre a cidade, uma quietude perturbadora a acompanhava. As estrelas piscavam com hesitação, como se temessem revelar o que Clara fazia sob seu brilho pálido. Por que suas sombras pareciam mais longas que as de uma menina de 17 anos? Por que o silêncio em torno de sua figura parecia gritar segredos obscuros que ninguém ousava escutar?

A família Winterbourne, outrora respeitada como pilares da comunidade, agora vivia reclusa, suas riquezas e reputação desgastadas pela erosão do tempo e pelo murmúrio constante de boatos. Os pais de Clara, figuras quase fantasmas, vagavam pelo casarão como reflexos desbotados da nobreza que já foram. Seriam eles cegos à natureza de sua filha, ou escolheram mergulhar na ignorância para evitar a verdade?

E a escola, essa instituição de aprendizado e luz, tornava-se um tabuleiro de xadrez sombrio nas mãos de Clara. Seus professores elogiavam sua inteligência, mas falhavam em ver a frieza que se escondia por trás de cada resposta perfeitamente calculada. Como ela conseguia conhecer tão profundamente a matéria da alma humana sem jamais ter sido tocada por ela?

Mas o que é a verdade para Clara Winterbourne? Será que ela percebe o caos que semeia com a precisão de um relojoeiro? Seus atos de purificação são o reflexo de uma justiça maior, ou o grito desesperado de uma mente que nunca conheceu a paz?

Nós, os leitores, estamos à beira de um precipício, olhando para o abismo que Clara chama de lar. O que ela deseja mostrar-nos com seus atos de violência tão meticulosamente coreografados? Que segredos ela escreve com a ponta de sua faca na pele dos mentirosos? E mais ainda, o que aconteceria se, um dia, Clara encontrasse um espelho que não refletisse apenas a verdade dos outros, mas a escuridão de sua própria alma?

"O Reflexo de Clara" não é apenas uma história de terror psicológico; é um desafio lançado à nossa própria compreensão de moralidade, inocência e o mal que se esconde sob a superfície do ordinário. Quando você virar cada página, pergunte-se: até onde você seguiria Clara nas sombras? Você está preparado para enfrentar a verdade que ela desenterra? E mais perigoso ainda — poderia ser você o próximo a mentir sob o escrutínio de seu olhar gélido?

O Reflexo de ClaraOnde histórias criam vida. Descubra agora