Capítulo 8: O Jogo das Sombras

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A noite em Winterbourne descia como um véu, trazendo consigo um silêncio que era quase tangível. Clara e Edward encontravam-se agora no coração de um labirinto de roseiras, onde as sombras se entrelaçavam com os espinhos, criando um cenário digno de um conto gótico. A lua, suspensa no céu como um olho prateado, observava-os, sua luz filtrando-se através das folhas e delineando figuras fantasmagóricas no chão.

"Por que me trouxe aqui, Clara?" Edward perguntou, sua voz carregada de uma cautela que se misturava com fascinação.

Clara, parada diante de uma rosa cujas pétalas eram tão escuras quanto a noite, voltou-se para ele, seus olhos refletindo a luz da lua. "Porque é aqui que o jogo se torna real, Edward. Aqui, as sombras falam mais alto que as palavras."

Ela se aproximou de uma das roseiras, tocando os espinhos com uma delicadeza que contrastava com sua natureza letal. "As rosas são como verdades, Edward. Belas, mas armadas. E às vezes, para chegar ao cerne, é preciso arriscar-se a ser ferido."

Edward observou Clara com um misto de admiração e receio. A maneira como ela falava, como se dançasse na beira de um abismo, o inquietava. "Você não teme se ferir, Clara?"

Ela sorriu, um sorriso que não chegava aos olhos. "O medo é um luxo que não posso me permitir. E você, Edward, está pronto para enfrentar seus próprios medos?"

Antes que ele pudesse responder, um som agudo cortou o ar. Era um grito, vindo de algum lugar dentro da mansão. Clara e Edward se entreolharam, um entendimento tácito passando entre eles. Sem uma palavra, começaram a correr de volta à casa, seus passos rápidos ecoando no silêncio da noite.

Ao entrarem na mansão, o som de vozes agitadas os guiou até a sala principal, onde um dos criados estava caído no chão, uma mancha de sangue se espalhando sob ele. Clara se aproximou, sua expressão inalterada, enquanto Edward permanecia alguns passos atrás, observando-a.

"O que aconteceu aqui?" Clara perguntou, sua voz tão fria quanto a lâmina de uma faca.

"Ele... ele foi atacado, senhora," um dos outros criados respondeu, o terror evidente em seu rosto. "Nós não vimos quem foi."

Clara se ajoelhou ao lado do criado ferido, examinando o ferimento com uma eficiência clínica. "Parece que o jogo tomou um rumo mais perigoso," ela murmurou.

Edward, ao seu lado, sentia o peso da situação. Clara parecia não ser afetada pelo sangue ou pela violência, sua curiosidade parecendo superar qualquer outra emoção.

"Você acha que isso tem a ver com o que estamos investigando?" ele perguntou, sua voz um sussurro.

Clara levantou-se, olhando para ele com uma intensidade que o fez recuar um passo. "Tudo em Winterbourne está conectado, Edward. E cada ação tem sua reação."

Ela se virou, dando ordens para que cuidassem do criado ferido, sua mente já trabalhando nas possíveis conexões. Edward a observava, a admiração dando lugar a um medo crescente. Clara Winterbourne não era apenas uma enigmática herdeira; ela era o epicentro de um mundo onde a verdade e a mentira dançavam em uma valsa perigosa.

Enquanto Clara se afastava, Edward sabia que tinha que tomar uma decisão. Seguir Clara significava entrar em um labirinto de sombras e espelhos, onde cada reflexo poderia ser uma armadilha e cada sombra, uma ameaça. Mas recuar significava abandonar a busca pela verdade, deixar as perguntas sem resposta.

Edward seguia Clara, cada passo um mergulho mais profundo no jogo das sombras, um jogo que Clara jogava com uma mestria que desafiava qualquer lógica. Eles subiram as escadas, cada degrau ressoando com as possibilidades do que viria a seguir. Clara conduzia com uma confiança que desmentia o caos que agora envolvia Winterbourne.

O Reflexo de ClaraOnde histórias criam vida. Descubra agora