Capítulo 1: O Jardim das Máscaras

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Clara Winterbourne nunca havia sorrido verdadeiramente. Seus lábios, sim, curvaram-se em inúmeras ocasiões, esculpidos na forma de um contentamento que ela havia aprendido a simular. Mas um sorriso, a expressão mais pura de alegria inocente, nunca havia desabrochado em seu rosto como faz nas faces de outras crianças.

A casa dos Winterbourne, uma estrutura imponente e antiquada, erguia-se na extremidade leste de Westfield como um monumento ao passado grandioso da cidade. As tábuas do telhado eram cinzentas e desgastadas, e as janelas, olhos vazios que observavam a decadência se espalhar. O jardim, uma vez repleto de rosas e lírios, era agora uma coleção de espinhos e sombras, como se até as flores se recusassem a florescer sob o olhar da pequena herdeira da casa.

Naquela manhã de setembro, o sol esgueirava-se com relutância por entre as nuvens, jogando uma luz fraca sobre a cidade. Clara estava no jardim, suas mãos enluvadas de cetim negro trabalhavam meticulosamente sobre a terra. As luvas, uma barreira entre ela e o mundo orgânico que insistia em crescer apesar de seu descuido, eram simbólicas. Ela manipulava a terra, mas não se misturava a ela, não permitia que a impregnasse.

Seus olhos cinzentos percorriam o jardim moribundo, e uma sensação de satisfação a preenchia ao ver o caos que ela havia criado. Tinha arrancado as flores, uma a uma, despetalado-as e deixado que suas raízes apodrecessem sob o sol pálido. Era uma alegoria, pensava Clara, daquilo que ela fazia com as pessoas — desmembrava suas máscaras e as deixava expostas, vulneráveis.

O som do portão se abrindo a trouxe de volta à realidade. O carteiro, uma figura recorrente e insignificante, entrou com cautela, como sempre fazia. Clara sabia que ele temia o jardim e a casa; ela podia ver isso nos seus olhos. E ela adorava esse medo.

"Bom dia, senhorita Winterbourne," ele disse, com um sorriso forçado que Clara reconheceu imediatamente como falso. "Cartas para você e seus pais."

Clara se levantou, ajeitando seu vestido de linho preto, e aceitou as cartas com um aceno de cabeça. Não havia necessidade de palavras; suas mãos falavam por ela, e o homem se apressou em deixar o jardim. As cartas em sua mão eram como as pessoas — envelopes selados, conteúdos escondidos. Ela se perguntava, sem qualquer interesse verdadeiro, o que cada uma escondia.

Voltando para dentro de casa, Clara deixou as cartas destinadas aos seus pais sobre a mesa do hall e subiu as escadas para seu próprio refúgio. O segundo andar era seu domínio, e ela se movia pelos corredores com uma propriedade que poderia parecer perturbadora numa menina tão jovem. Seu quarto ficava no fim do corredor, uma sala ampla com uma única janela que dava para o jardim das máscaras.

Dentro do quarto, as cortinas estavam sempre fechadas. Clara preferia a penumbra; a luz do dia era muito reveladora. Ela abriu a carta endereçada a si, um convite para um evento na escola — algo sobre um início de ano e boas-vindas aos novos alunos. Ela rasgou o papel ao meio e o atirou no lixo.

Não havia lugar para ela em celebrações fúteis, não havia espaço para falsas alegrias em sua existência. Clara olhou para o espelho em seu quarto, um espelho de prata com bordas intrincadamente trabalhadas, um presente de um tempo em que se tentou invocar beleza na vida da pequena Clara. Ela não via sua própria reflexão, não como os outros a veriam. O que Clara via era o potencial, a possibilidade de desvendar segredos, a habilidade de ver além das camadas superficiais da existência mundana.

Foi então que ela ouviu os passos suaves e hesitantes do lado de fora de seu quarto. A governanta, uma mulher de meia-idade chamada Sra. Teller, parou na porta, batendo de leve.

"Senhorita Winterbourne," ela chamou com uma voz que tremia ligeiramente, "o café da manhã está pronto."

"Estarei lá em um momento", respondeu Clara, sem uma ponta de calor na voz.

Quando Clara desceu as escadas, a madeira emitia pequenos gemidos sob seus pés, como se a própria casa estivesse relutante em vê-la partir. No refeitório, seus pais já estavam sentados, figuras distantes e desapegadas, como sempre. Seu pai, um homem de negócios que raramente levantava os olhos do jornal matinal, e sua mãe, uma beleza desvanecida que se refugiava em seu próprio silêncio.

Ela sentou-se à mesa, sua postura impecável, seu olhar distante. A conversa ao redor dela era um zumbido monótono, palavras sem significado, falas ensaiadas de uma peça teatral que ela não tinha intenção de participar.

Enquanto a governanta servia o café da manhã, Clara observava. Observava como a Sra. Teller evitava seu olhar, como seus pais fingiam normalidade, como o mundo ao seu redor insistia em girar apesar de sua desaprovação silenciosa.

E então, entre um gole de chá e o virar de uma página do jornal, seu pai falou, sem olhar para ela. "Haverá um baile na cidade no final do mês, Clara. Seria bom para você ir, socializar."

Clara o observou por sobre a borda de sua xícara, seus olhos cinzentos como aço. "Socializar?" repetiu ela, sua voz destituída de curiosidade. "Com quem, papai? Com as mesmas pessoas que sorriem para mim e cochicham pelas minhas costas? Não, obrigada."

Sua mãe suspirou, uma tentativa fútil de expressar alguma forma de censura maternal. "É assim que as coisas são, Clara. As pessoas esperam..."

"Que eu seja como elas? Que eu vista uma máscara e dance ao som de sua hipocrisia?" Clara cortou a mãe com precisão cirúrgica. "Não, mamãe. Prefiro o jardim. Pelo menos lá, as máscaras caem, e eu vejo as coisas como realmente são."

Ela se levantou, sua cadeira raspando contra o chão como um grito súbito. Sem outra palavra, ela deixou a sala, a escuridão de seu vestido engolindo a luz fraca que lutava através das cortinas densas.

O dia passou, e Clara voltou ao seu jardim, ao seu santuário de verdades descobertas e segredos desenterrados. Foi ali que ela planejou, com a paciência de uma aranha em sua teia, o que faria no baile. Ela iria, sim, mas não para dançar ou sorrir. Clara iria para observar, para buscar as fissuras nas fachadas perfeitas, para colecionar as verdades que se ocultavam sob a superfície polida de Westfield.

E talvez, apenas talvez, ela encontrasse uma nova máscara para arrancar, um novo jogo para jogar. E naquela noite, sob o véu da música e risos falsos, Clara Winterbourne seria a mais verdadeira dentre todos eles, um reflexo da realidade que ninguém ousava enfrentar.

O Reflexo de ClaraOnde histórias criam vida. Descubra agora